segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Crítica ao evangelismo contemporâneo 2 – A Missão


Saudações, irmãos. Como ficou bem óbvio, este post continua o assunto do post anterior. O título de “A Missão” foi só uma brincadeira com o filme Top Gear, mas o assunto realmente tem a ver com a missão de evangelizar. :P Bem, como prometi no post anterior, quero falar com mais especificidade de três heresias que se sacralizaram na evangelização comum no Ocidente: apelo, oração de confissão e motivação existencialista. Quero usar como texto base o discurso evangelístico de Pedro aos judeus que estavam comemorando a Festa das Semanas, também conhecida como Pentecoste. Todos os outros discursos evangelísticos guardam em comum o que eu vou colocar aqui, mas eu escolho esse porque ele é o mais completo no processo da conversão: existe uma situação, a exposição da palavra, o chamado à conversão, a conversão efetuada e a iniciação no discipulado eclesiástico.

Antes de começar, quero deixar claro algo que eu precisei explicar melhor aos amados irmãos da JNV: eu creio que Jesus é soberano para fazer-se entender e tocar o coração de quem ele quiser independentemente do método de pregação. O que eu pretendo colocar, e que eu sei que meus irmãos estão cientes, é que isso não é desculpa para se evangelizar de qualquer jeito. Se a questão é Deus ser soberano e não precisar de nós, sem dúvida alguma isso é verdade. Mas o chamado dele deve ser cumprido por obediência e fé, porque é assim que ele deseja. Ele quer que nós sejamos como ele para que o mundo venha a ver o invisível. (No próximo post, vou colocar como Jesus evangelizava.)

Pra começar, o apelo. É muito estranho e causa até um desconforto pensar que o apelo é um erro. Preciso ser aqui muito cuidadoso para me fazer entender, e espero conseguir isso. Acho que uma maneira eficiente de facilitar o entendimento é olhar para o diálogo entre Pedro e os ouvintes. Vamos salientar uma importante diferença: no apelo, existe um chamado à conversão direto e de iniciativa do pregador. Eu entendo que essa é uma ocasião em que o pregador acaba tomando um pouco das rédeas do coração do ouvinte, mesmo sem intenção. Geralmente, o pregador expõe a palavra (vamos imaginar o melhor dos casos, um em que a palavra pregada é a verdadeira) e, em seguida, de ofício, diz algo como “Se alguém quiser entregar a sua vida a Jesus”, e aí segue a oração de confissão, ou um chamado para vir receber a oração do pastor ou coisa do tipo. O problema desse apelo é que existe um risco enorme do ouvinte decidir ser cristão sem realmente saber o que está fazendo. A decisão da conversão deve ser de iniciativa do ouvinte, e não do pregador. Parece não fazer muita diferença, mas eu acho que há uma boa razão para a inexistência de apelos nos discursos dos cristãos da Bíblia – o máximo que existe é um chamado ao arrependimento, mas o passo da iniciação ao cristianismo é omitido. Os evangelistas sempre pregavam o evangelho e deixavam um vácuo justamente para que o ouvinte preenchesse esse vácuo com a sua iniciativa de se converter ou com a sua indiferença. O ponto é que, se um ouvinte tem a iniciativa de dizer “Quero ser um seguidor de Jesus”, sem que ninguém tenha clamado para que ele faça, é porque ele já remoeu a palavra em si, já teve tempo de se deixar ser quebrantado e mostrou que está realmente decidido. Veja o que houve na pregação de Pedro: ele pregou o evangelho e pronto. Aí os ouvintes começaram a ficar deslumbrados e perguntam “O que devemos fazer agora?”, e então Pedro lhes responde com a chamada ao arrependimento e à conversão. Para o pregador, realmente parece fazer pouca diferença se é ele quem chama ou se é o ouvinte que toma a iniciativa, mas, no entendimento do ouvinte, há uma grande diferença. Se ele é chamado a entregar sua vida a Jesus para ser salvo, há grande probabilidade de ele fazer isso por impulso, por uma comoção imediata, sem que tenha realmente se dado tempo de ouvir a voz do Espírito. Por isso Jesus disse “Ninguém deve construir uma casa sem antes calcular o preço; nenhum governante deve enviar soldados à guerra sem antes ponderar bem com os seus conselheiros. Do contrário, os empreendimentos poderão falhar no meio do caminho”. Em uma palavra, o apelo traz o seguinte problema: precipitação. Alguém poderia dizer “Ah, mas aí é um erro do ouvinte, e não do pregador”. Na realidade, é um erro de ambos. Mas o pregador é quem tem condição de conhecer a sua responsabilidade. Vamos confiar no ensino bíblico, e não em tradições recentes.

Erro número 2: oração de confissão. Esse é bem mais simples de entender o problema. A oração de confissão pressupõe que, feita a oração entregando a vida a Jesus, uma pessoa está salva. Isso é simplesmente errado. Confessar com a boca sem crer no coração é inútil. E, ao se chamar o ouvinte a fazer a oração de confissão, basicamente ocorre a indução de que ele deve crer com o coração na oração, e não em Jesus. Há milhões de pessoas que fazem essa oração e continuam vivendo como antes. E, se lhes ocorre alguma dúvida na consciência, elas dizem “Não, mas eu fiz uma oração entregando a minha vida a Jesus, estou salvo”. E a culpa não é apenas dos ouvintes, mas, novamente, a culpa é do pregador que não foi sensível a esse desvio do evangelismo bíblico e às consequências dele. Oração de confissão e salvação são coisas completamente distintas. E, na maioria das vezes, inimigas. A oração de confissão é uma heresia que, em sua essência prática, suprime a doutrina da regeneração, do “nascer de novo”. O que Pedro diz mesmo? “Repitam comigo esta oração e serão salvos”? Não, mas “Arrependam-se e sejam batizados no nome de Jesus para receberem o dom do Espírito” e mais, “Salvem-se dessa geração corrompida”. O que iniciava uma pessoa como cristã não era a oração de confissão, e sim o batismo. O batismo tinha o valor simbólico de purificação arraigado na cultura judaica. Jesus, falando a Nicodemos, diz “é necessário nascer de novo, nascer do Espírito e da água”. A melhor definição para o sentido do batismo é dada por Paulo aos romanos: batizando-se com Cristo em sua morte, morre-se para o pecado; batizando-se em sua ressurreição, vive-se uma nova e eterna vida. O batismo foi escolhido porque ele tinha um sentido simbólico perfeitamente compreensível aos ouvintes: o sentido da regeneração, da mudança, do novo nascimento, do morrer para o homem adâmico e renascer para o homem espiritual. A oração de confissão não tem nenhum sentido simbólico, mas tem um fim em si mesma. Muitos podem dizer “Mas e se a pessoa não confessar com a sua boca ela não será salva”, mas eu digo o mesmo que foi dito sobre o apelo: a oração a Deus deve ser espontânea do ouvinte. Quando ele se sentir verdadeiramente tocado a ponto de querer fazer essa oração, ele a fará. É o momento dele com Deus. A hora não é quando o pregador diz “Façam agora essa oração”, mas sim quando o Espírito Santo encher o ouvinte até que ele não consiga evitar a confissão. Não roubemos do ouvinte o que pertence a ele e Deus. Cumpramos o que nos foi confiado.

O erro da motivação existencialista é provavelmente o mais terrível. Trata-se de chamar o ouvinte a se converter a Jesus para que ele tenha uma vida plena e alegre. Basicamente, o pregador coloca todos os ouvintes sobre o seguinte estereótipo: são todos coitadinhos, vítimas de Satanás e do mundo cruel. São pessoas que vivem chorando porque não encontram um sentido para a vida. Elas tentam ser pessoas alegres com coisas efêmeras, que não funcionam, e então se angustiam mais ainda. Jesus está aqui para preencher esse vazio existencial que há no coração de cada um! Basta convidar Jesus para entrar em seu coração e o ouvinte será cheio da alegria de Deus, e terá uma vida super fofa e cor-de-rosa. Agora, ele não precisará mais dançar em festas, cometer imoralidades, usar drogas e encher a cara para ser feliz, porque Jesus lhe injetará toda a felicidade de que ele precisa. É isso que Pedro diz? Nunca. Veja que toda a exposição que ele faz é centrada em Cristo, e não no homem. Tudo o que ele diz sobre o homem é: vocês são culpados porque crucificaram o Senhor, mataram o autor da vida com a ajuda de homens sem lei. Mas Deus colocou esse mesmo homem como Senhor e Cristo do mundo. Agora, arrependam-se, salvem-se dessa geração corrompida! Ora, o que Pedro está fazendo, e que todos os pregadores bíblicos fazem, mesmo os profetas do Antigo Testamento, é dizer: o problema, querido, não é o mundo, não são as circunstâncias; o problema é você! Você é um pecador. Você cometeu uma ofensa infinitamente maligna, pois ela foi feita contra o Rei infinitamente santo. Você não é vítima de nada. Você é um merecedor da ira de Deus, e ele seria totalmente justo em enviar você para o inferno. A única vítima dessa história é Jesus Cristo, o qual levou sobre si o castigo que você merecia. Irmãos, não há nenhuma maneira de um ouvinte entender o evangelho da graça se antes ele não entender por que ele é indigno dessa graça. Ele deve ouvir na pregação que ele é culpado, indigno, injusto, mau. Se ele não se convencer disso em primeiro lugar, não há como ele ser convencido da graça de Deus. Veja bem: a plenitude existencialista realmente é verdadeira, mas ela é apenas uma consequência da conversão, nunca deve ser apresentada como causa para que ela aconteça. A motivação deve ser: sou um pecador incapaz de me justificar por mim mesmo e preciso totalmente de Jesus para ser aceito por Deus. O que Jesus nos prometeu ao decidirmos segui-lo é: sofrimento, perseguição, autossacrifício, autorrenúncia. Quando essas coisas acabam batendo às portas do ouvinte que se converteu com o motivo de ser feliz, ele fica frustrado, pego de surpresa. E facilmente ele desiste de Jesus. Afinal, aquilo que ele pensava ser o problema não foi resolvido. E o que realmente é o problema continua.

Creio que a grande razão para que pregadores insistam nessas três heresias é: horror ao inferno. A intenção dos pregadores é que ninguém que os ouve vá pro inferno. E eles vão fazer de tudo para garantir que o máximo de pessoas vá para o céu. Eles vão fazer até o que não é papel deles para que isso aconteça. Eles vão até distorcer o evangelho para que ele pareça mais atraente. Pensam que apontar a culpa e a necessidade de arrependimento não é bom porque fecha o coração dos ouvintes. Bem, só no sermão de Pedro, foram três mil os convertidos. Nunca será a vontade de Deus que a qualidade seja sacrificada em favor à quantidade. Lembrem-se de que o inferno é justo. Na verdade, ele a máxima manifestação da justiça crua de Deus, isto é, a justiça sem misericórdia. Se uma pregação é feita com a exposição verdadeira e completa do evangelho, haverá sempre muitos que a rejeitarão e irão para o inferno, e Deus nunca disse que não seria assim. Mas, tenham certeza de uma coisa: os poucos que se converteram serão muito mais frutíferos para o Reino de Deus do que os muitos que se convertem pela metade. E não esqueçamos da advertência severa de Paulo quanto à distorção ou flexibilização do evangelho: “Se alguém, mesmo que seja um anjo do céu, lhes pregar um outro Jesus ou um outro evangelho, que seja anátema”.

André Duarte

2 comentários:

  1. Tá apelando, hein, André?
    Tu num sabe que a verdade dói?
    Ai. :P uhuhauhuha

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  2. Haha, claro, ué... la verdade dói en la total depravação, hahahaha!
    Aí, até que o texto ficou calvinista. ;)

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