segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Relacionamentos amorosos: uma análise à luz da Escritura - II, O Casamento - Parte 2: Casamento com Descrentes



Acabadas as diretrizes específicas sobre como funciona um Casamento, com a analogia de Cristo e a Igreja, vamos a alguns tópicos polêmicos, com a ajuda tanto de Efésios, como de outras partes da Escritura. Vou tentar pegar tópicos bem discutidos sobre o assunto, e tentar resolvê-los à luz da Escritura. E primeiro destes tópicos é o Casamento do cristão com o descrente. Enfim, vamos lá:

Desde o Antigo Testamento, há várias asseverações contra casamentos mistos (Ne 13.23-27 – este trecho é a maior mostra dos povos não-israelitas ensinando suas heresias e profanando a aliança do Deus de Israel, mediante casamentos), mostrando o perigo de tal união. Alguns podem pensar que era algo cultural, um tipo de xenofobia judia, principalmente quando se trata do Antigo Testamento, mas a verdade é outra.

Primeiro, era um mandamento divino. Não era algo inventado por homens, mas o próprio Deus mandou que assim fosse. E se foi o próprio Deus, obedeçamos, ao invés de tentar questioná-Lo.

Segundo, não era algo racial, mas sim, pactual. Deus é um Deus de pactos, de alianças. No Antigo Testamento, Israel era o povo de Deus, tinham feito um pacto com Ele desde Abraão; era uma aliança que se perpetuaria até o Novo Testamento (Gl 3.6-16). Outra mostra dessa visão pactual ao invés de racial são as inúmeras leis do Antigo Testamento valorizando o “estrangeiro”, que viviam com eles, mas que seguiam a Lei de Deus (Ex 12.48; Ex 23.9; Nm 15.16). A questão era que, a priori, os pagãos eram os gentios, enquanto os judeus era os guardiões dos oráculos de Deus (Rm 3.2; 9.4,5)

Casar-se com alguém descrente já é uma grande mostra que esse relacionamento não tem por objetivo glorificar a Deus, já que o cônjuge em questão adorava outros deuses. Hoje em dia, poderiam falar “ah, mas o cara é ateu/budista/espiritual/acredita em Deus, mas sem religiões”; entretanto, tudo isso, e muito mais, não é o verdadeiro pacto e união com Deus Triúno que a Escritura revela então, é tão pagão quanto os outros povos semíticos do Antigo Testamento. Pode ser que tal casamento seja agradabilíssimo, vocês nunca briguem, vocês “se amam” (questão de amor pode dar um outro post inteiro, por isso me limito a colocar entre aspas esse tipo de explicação pra dizer que não condiz com a definição bíblica de amor), mas isso nada vale. O casamento foi instituído por Deus para que o casal glorifique a Deus; se fosse pra se sentir bem, relacionamentos com qualquer não-cristão seria válido diante de Deus. Felizmente, não é esse o propósito, pois glorificar a Deus é infinitamente melhor que “se sentir bem”.

Isso não nega a realidade de que um relacionamento entre cristãos não é perfeito. Os cristãos ainda são pecadores, e por seus pecados, que distorcem e corrompem o bom proceder, machucam e fogem desse propósito divino. Ainda assim, são os cristãos, aqueles verdadeiramente remidos e regenerados por Deus, que vão buscar, cada dia mais, odiar o pecado e amar a santidade; cada vez mais, que vão lutar para amar mais a Deus, e, por consequência, amar o seu cônjuge em santidade.

Entretanto, existe uma exceção para relacionamento entre cristãos e descrentes, e ela se encontra em 1 Co 7.12-16:

“Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos. Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”

Neste caso específico, Paulo trata da situação de alguém que se converte DEPOIS de ter se casado. Neste caso, Paulo aconselha que se mantenha a união, se a parte incrédula concordar com esta união; caso não concorde, a parte crente está livre (sendo uma das poucas situações válidas para a separação; entretanto, isso será tratado posteriormente). Já que se estabeleceu a união, o incrédulo da relação pode ser abençoado e Deus pode alcançá-lo através de seu cônjuge. Então, porque não se pode casar com alguém incrédulo para “ajudar a se converter”, mesmo sendo cristão antes do casamento? Porque, sendo você cristão, tem o mandato de glorificar a Deus em todas as áreas, inclusive, a de escolher um cônjuge com quem se une, por meio do Casamento, para adorar a Deus. Alguém que converte depois de casado, não tem mais essa opção, pois se respeita a união feita anteriormente. Logo, o seu glorificar a Deus é no bom trato com o cônjuge e esperar em Deus que Ele o converta, o que pode não acontecer, ainda assim (e Deus terá Seus motivos e propósitos para tal, não me cabe aqui tentar fazer uma explicação universal pra isso).

Assim, Deus demanda do Seu Povo que se case e se una somente com aqueles que são Dele (1 Co 7.39), pois somente assim Ele será glorificado, visto toda a casa estar submissa ao Senhor (Js 24.15). Assim como Deus não permite que Seu Povo se volte pra outros deuses, pela aliança exclusiva que fez com Ele, para O servir e glorificar, nós não podemos nos casar com aqueles com quem não tem o pacto com nosso Deus, visto que não glorificam a Deus na sua vida.


Que Deus abençoe a todos nós
Marcel Cintra

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Aladdin e o evangelho


            Somando mais um post ao grupo de paralelos, vamos analisar as correlações entre o filme do Aladdin (1992) e a obra de Jesus Cristo conforme revelada na Bíblia. Para isso, é importante lembrar o pressuposto essencial dos paralelos: que o homem, embora tenha caído e corrompido sua natureza, não pode destruir completamente em si a sua semelhança com Deus, que em si foi incutida pelo Senhor na criação. Isso resulta em que o homem, sendo semelhante ao Criador na capacidade de criar e de trabalhar no mundo, ainda reflete a luz de Deus em suas obras, por mais que estejam também maculadas de trevas. Portanto, vamos cavar o tesouro do evangelho nessa obra da Disney.
           
Ora, desde o princípio do filme, vemos claramente que existe um reino. E o primeiro personagem que nos é apresentado é o Jafar, o grão-vizir. Esse Jafar deseja tornar-se o Sultão para ter plenos poderes. Para isso, ele precisa entrar na caverna de tesouros e pegar a lâmpada do Gênio. A caverna diz, porém, que somente uma pessoa, “de grande valor interior”, pode entrar. O que tudo isso significa, em comparação com a Bíblia? Ora, Jafar é obviamente Satanás, aquele que tem alta autoridade sobre o mundo, embora não seja o grande rei. Jafar exerce sua autoridade de forma maligna, como Satanás faz. É frequente vermos Jafar enganando o Sultão com sua serpente enfeitiçada para conseguir o que quer. Nesse sentido, ele praticamente consegue atuar como Sultão. Ele, de fato, domina sobre o Sultão – mas, ainda assim, não pode ter precisamente o poder dele. Onde vemos essa tensão na Bíblia? Não se pode pensar que, nesse caso, o Sultão seja Deus, pois seria absurdo que Deus fosse enganado pelo diabo. O conflito é, antes, entre a semente da mulher – não o Cristo, mas a humanidade – e a semente da serpente. Não é apenas pela coação do Jafar que o Sultão é ludibriado, mas pela própria tolice deste. Foi o Sultão quem colocou Jafar em sua posição privilegiada, e ele mesmo se orgulha de “saber julgar bem as pessoas”. Logo, Jafar domina sobre o Sultão porque o Sultão lhe deu ouvidos em primeiro lugar. Em algum momento anterior ao filme, houve uma queda do Sultão semelhante à queda do homem no Éden. Não é notável que é precisamente uma serpente que Jafar usa para enganar o Sultão? Ora, se assim é a situação, porque Jafar não pode simplesmente tornar-se Sultão, se ele tem grande poder mágico? Não é simples sem o máximo poder do Gênio, é claro. Veja, portanto, o salmo 8, que descreve a posição do homem dada por Deus: um pouco menor que os anjos, coroado de glória e honra. Deus decretou que o homem fosse assim, mesmo depois da queda. Por isso, por mais que Satanás domine sobre o homem, nunca poderá ter a honra que foi dada aos filhos de Adão. Esse é o decreto de Deus. Porém, a falha do homem resulta na necessidade de um novo homem, um homem ideal, que reine sobre o mundo como Adão falhou – um segundo Adão. A falha do Sultão também aponta para a necessidade de que um novo Sultão chegue ao poder. E essa é a tensão do filme: quem será o novo Sultão: Jafar, ou um digno príncipe? Na Bíblia, também vemos uma tensão parecida: o domínio sobre o mundo e sobre a raça humana pertencerá ao diabo ou ao Messias?

            O que garante a vitória do Aladdin na conquista do Gênio – o poder para ascender ao sultanato? Simplesmente o decreto da caverna de que somente uma pessoa poderia nela entrar. Jafar não poderia entrar, senão seria esmagado. Descobrindo que Aladdin era esse eleito, ele leva-o à caverna para pegar a lâmpada e tomá-la dele. A cena da caverna é muito semelhante à da tentação e do batismo de Jesus. É claro que existem diferenças: em primeiro lugar, foi o Espírito que levou Jesus ao deserto (hmm, deserto, como no filme), e não o diabo. A diferença se dá pelo seguinte: na Bíblia, Jesus foi primeiro batizado – revestido pelo poder do Espírito – e depois tentado. No filme, o Aladdin primeiro passa pela tentação na caverna (todos os tesouros proibidos que o afastariam de sua missão) para depois receber o poder do Gênio. Por essa razão, ele é levado ao deserto por Jafar. Agora, se pensarmos no batismo e na tentação de Jesus como acontecimentos inter-relacionados para o início de seu ministério, podemos nos satisfazer com esse mesmo bloco no filme do Aladdin, não importando a ordem em que cada coisa tenha acontecido. Claro que a ordem traz importâncias teológicas fundamentais, mas estamos enfatizando a parte da “luz” aqui. Bem, como Satanás tentou Jesus para que servisse a ele, também Jafar tentou ludibriar Aladdin para pegar a lâmpada para ele. No último minuto, porém, Aladdin venceu e ficou com a lâmpada, e Jafar ficou derrotado.

            Vamos interromper a história aqui para analisarmos as credenciais do Aladdin. Ele era um ladrão. É claro que o Salvador real não poderia ser um ladrão, pois sua moralidade deveria ser perfeita para que pudesse transferir aos eleitos os seus méritos. Mas, na fantasia Disney, é possível que um homem seja ladrão, mas ainda assim “um bom ladrão”. Vamos nos ater ao decreto de que esse ladrão era moralmente aceitável diante do juízo da caverna. Uma semelhança melhor com Jesus é o fato de ele ser pobre. Cristo, que era rico, fez-se pobre em sua encarnação (2Co 8, 9). O novo rei veio em humildade, não em esplendor (Zc 9:9). Outra semelhança é a perseguição. Aladdin era constantemente perseguido pelos guardas (por motivos bem diferentes dos de Jesus, mas never mind), e Jesus era também perseguido pelas autoridades de seu tempo. Tais autoridades, que deveriam representar fielmente as santas aspirações do reino, tornaram-se legalistas, corruptas e opressoras.

            Vamos voltar ao fim da caverna. Aladdin descobre o Gênio, uma entidade serva, que glorifica o seu dono (como Jesus disse que o Espírito o glorificaria), mas cheia de poderes. É uma pena que as limitações do Gênio sejam justamente a maior glória do Espírito: poder ressuscitar mortos, matar pessoas e produzir o amor conjugal (no caso bíblico, especialmente entre Cristo e a Igreja, a regeneração). Independentemente disso, tudo mudou na vida de Aladdin depois de conseguir o Gênio: seu primeiro pedido foi tornar-se príncipe para poder casar com a princesa Jasmine. Essa princesa jamais foi seduzida por príncipes orgulhosos e estúpidos, o que contrasta com a constante rebelião do povo de Deus ao ir atrás de ídolos. Vemos, ainda assim, um conflito opressor entre a Jasmine e o seu pai, o Sultão. Sultão, representando o tolo homem caído, busca impor domínio sem juízo sobre a princesa, o símbolo do povo de Deus que seria resgatado. Um eufemismo daquilo que a Igreja vetero-testamentária sofria com o poder das nações ímpias. De qualquer forma, o ponto é que Aladdin realmente amou a Jasmine, por iniciativa própria (como Cristo, que primeiro nos amou para que o amássemos) e decide tornar-se um príncipe.

            Sua identidade como príncipe carrega também uma grande tensão. Aladdin veste-se como príncipe, consegue todos os adornos e aparências de príncipe, mas ele sabe que, em sua natureza, ele não é. A roupagem de príncipe pode ser comparada ao ministério popular de Jesus. Após ser revestido do Espírito, Jesus iniciou uma jornada que foi, em muitos aspectos, altamente popular e aclamada. Embora houvesse muitos inimigos, as multidões cresciam cada vez mais. No início, as multidões o viam apenas como milagreiro; no fim do seu ministério, na última semana, Jesus foi recebido às vivas como o rei davídico libertador. Ele era, para todos os efeitos, o príncipe que o povo esperava. Infelizmente, isso não perdurou, pois Cristo veio, realmente, como um pobre servo, não como rei glorioso. Da mesma forma, após tudo parecer ter sido ganho na missão de conquistar a princesa – inclusive mais uma derrota de Jafar, que foi expulso do palácio, semelhantemente ao diabo que caiu como relâmpago durante a missão de Jesus (cf. Lc 10:18) –, o verdadeiro ser do Aladdin foi revelado. Ele foi despojado de toda a honra e glória que havia recebido quando Jafar conseguiu roubar-lhe a lâmpada. O início da paixão de Cristo foi também chamado por ele de “a hora em que as trevas reinam”. O império do Jafar se estabeleceu e Aladdin foi novamente revelado como frágil, pobre, e ele mesmo foi lançado para fora da terra dos viventes (Is 53).

            No entanto, foi em fraqueza que ele trinfou. Em realidade, não foi apenas a sua aparência desprezível que foi posta à vista, mas também a essência do Jafar mostrou-se. Ele virou uma serpente gigante para matar o Aladdin militante (cf Ap 12). Mas, na batalha em que o pobre pivete parecia não ter a menor chance, por meio do Gênio, ele derrotou o Jafar, já transformado também em gênio, prendendo-o em sua própria lâmpada. Jesus Cristo, da mesma forma, venceu o diabo em sua morte e, especialmente, em sua ressurreição e ascensão, operadas pelo Espírito. Por mais que o diabo tenha se mostrado crescentemente poderoso ao instigar os homens violentos contra Cristo, foi na humilhação do Senhor que a derrota de Satanás foi executada. De forma interessante, o Aladdin não destruiu o Jafar, mas o aprisionou. Preso, Jafar não pode mais enganar o Sultão. Da mesma forma, Jesus Cristo “prendeu” o diabo quando venceu na cruz – algo que amilenistas e pós-milenistas compreendem bem, conforme a conexão entre Apocalipse 12 e 20. Ainda em seu ministério, Jesus disse que o ladrão só pode saquear o homem forte se primeiro o prender. Comparou-se, naquele momento, com aquele que amarra o homem para salvar as almas por ele feitas cativas. Satanás está preso não literalmente, geograficamente, mas sim no sentido de ter seu poder grandemente limitado, impossibilitado de fazer com que as nações não creiam no evangelho. Aladdin prendeu o Jafar e salvou a princesa, o Sultão e o reino. Jesus prendeu Satanás, salvou sua noiva e o homem caído – lembrando que, na realidade, a noiva de Cristo e o homem pecador regenerado convergem para a mesma coisa.

            Após derrotar Jafar, Aladdin liberta o Gênio. O Gênio não mais ficaria contido numa lâmpada, manifestando-se apenas em poucas ocasiões. Isso se encaixa no momento em que Cristo enviou o Espírito Santo à terra. Na ascensão de Jesus Cristo, ele confere maior atuação ao Espírito. Não que os detalhes correspondam tanto, mas...

            Por fim, o Sultão recobra sua sanidade compreendendo que Aladdin, embora não fosse o príncipe que todos esperavam, era o príncipe verdadeiro, pela pureza do seu coração. E concede que ele se case com a princesa e torne-se ele mesmo o novo Sultão. Jesus Cristo, após salvar o reino e o homem, faz que o homem caído seja regenerado, recobre seu entendimento espiritual e submeta-se ao único rei digno, o Messias. Assim, Jesus estabelece sua aliança com sua noiva, reina sobre os homens que o adoram e vence o diabo.


            André Duarte

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Relacionamentos amorosos: uma análise à luz da Escritura - II, O Casamento - Parte 1: Definição



Bem, chegamos à parte mais central da série, pelo qual as seguintes postagens dependerão de alguns dos princípios aqui expostos. Hoje, falaremos sobre Casamento. Entretanto, vamos por partes: conceituação do que é Casamento, e suas implicações.

Vemos no texto anterior que o Casamento é o meio pelo qual se glorifica a Deus na área de relacionamentos conjugais. Todos os outros relacionamentos, como Noivado e Namoro (“ficar” aqui sai por razão óbvia. Se discordarem, o último texto da série tratará bem disso), necessitam de tê-lo como objetivo, e andar retamente para que aconteça. O Casamento, em si, é análogo ao relacionamento de Deus e Seu Povo, que acontece mesmo antes da fundação do mundo, como visto anteriormente.

Não é de se estranhar que no Antigo Testamento, várias vezes, trata o Seu Povo numa figura de mulher, de noiva (Ez 16.3-35; Jr 2.32; Is 49.18); o próprio livro de Cântico dos Cânticos é exemplo mor disso: sempre foi lido como uma forma alegórica do relacionamento de Deus e Seu Povo. E não só isso: quando o Povo de Deus pecava, quando Israel adorava outros deuses, feitos de pedra e madeira, os profetas falavam como se fosse um adultério, não poucas vezes, como prostituição (Ez 16.3-35; Os 2.1-23; Ez 23.37; Jr 3.8,9). Entretanto, no Novo Testamento há um relato interessante: ao invés de caracterizar o relacionamento de Deus e Seu Povo como um relacionamento de casamento, ele vai dar diretrizes divinas para o casamento POR CAUSA do relacionamento de Deus e Seu Povo, no caso específico aqui, de Cristo e a Igreja. Vamos ao texto por completo:

“As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido.

Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra,  para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo.

 Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja. Não obstante, vós, cada um de per si também ame a própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite ao marido.” Efésios 5.22-33 (ARA)

Nesta passagem magnífica tem uma diretriz principal, e definições importantíssimas que passam despercebidas. Curiosamente, começaremos pelo final:

1. Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja.

Aqui reside o primeiro princípio do Casamento. O homem e a mulher, pelo pacto e aliança do Casamento, se tornarão um só, assim como Cristo, por pacto e a aliança, se torna um só Corpo com Sua Noiva (1 Co 10.17; 1 Co 12.12,27). Assim como somos co-participantes da natureza divina (2 Pe 1.4), por nossa união com Cristo, no selo do Espírito (2 Co 1.22), o homem e a mulher se tornam um só, uma diversidade dentro de uma unidade; cada um com um papel específico para funcionalidade específica. O homem tem por funcionalidade divina e criacional a liderança (1 Co 11.3; Ef 5.23) e a mulher, a de auxílio (Gn 2.18; 1 Tm 2.12-15). E isso se dá na prática segundo o que o resto da passagem ensinará, como se vê a seguir.

2. As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas ao seu marido.

Aqui está tão terrível e polêmica “submissão feminina”, na qual feministas e simpatizantes, até mesmo dentro do meio cristão, se alvoroçam e repudiam a bel prazer. Entretanto, a não ser que queiram rasgar a Revelação Divina, e seguir seus próprios conselhos ao invés de Deus, mais atenção tem que ser dada aqui. Nesta Santa Analogia de Deus e o homem, Cristo se mantém como cabeça da Igreja, Seu Corpo, lhe dá direção e entendimento, e o Corpo obedece; no Casamento, a esposa deve ser submissa ao marido, seguindo-o, crendo que Deus o pôs como líder da casa, e que o orientará, se verdadeiro servo de Deus for. Isso não quer dizer obediência cega, antes, amor servil, amor que auxilia e dá forças ao marido, como foi designado desde a Criação (Gn 2.18).

O pensamento atual despreza a ideia de servidão, relegando-o como papel inferior ao de liderança, e aí reside todo o mal desta questão. A Escritura traz a servidão como coisa maravilhosa, símbolo e expressão magnífica de amor pelo próximo, sendo o próprio Jesus o maior exemplo, que, sendo Deus, o Ser Absoluto, Majestoso e Perfeito, se humilhou, tomando forma de homem, forma de servo, e morrendo uma morte horrenda, por Seu Povo, feito de seres humanos, pequenos, finitos e pecaminosos, ainda assim, alvo de Seu Infinito Amor (Filipenses 2.2-11). Um exemplo, enquanto na terra, de servidão de Jesus está relatado no Evangelho de João, no capítulo 13. Ele lava os pés dos discípulos, sendo o lavar pés coisa dada como inferior, coisa de escravos para se fazer; ele , o Messias, se reduzindo pelos discípulos, ao ponto que diz: “Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” (Jo 13:13-17)

Bem-aventurado é aquele que serve, sendo servidão princípio de amor. Porque então esbravejam feministas e afins porque a mulher foi designada para tão grande e focalizado papel no relacionamento com seu marido? Bem, pelo que se vê, não é por motivos bíblicos. Liderança e servidão são elementos complementares dessa união, nunca hierarquizados no Casamento. E é essa que veremos na última parte.

3. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra,  para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo.

É designado ao esposo amar sua esposa, como Cristo amou a igreja, e quão sério isso deve ser levado por nós, homens, casados ou desejosos de casar um dia. Paulo aqui faz uma comparação do entregar de Cristo por nós, para que fôssemos salvos, purificados para a vida eterna, com o mandamento divino dado sobre o homem de cuidar e se entregar para sua esposa.  Assim como a Igreja é o Corpo de Cristo, o cabeça da Igreja, este, por sua vez, se entrega para que eleve sua Noiva como pura e imaculada, o homem tem por extensão do próprio corpo a mulher, pois são um só, e, amando-a, ama a si mesmo. Ao homem é dado o mandato divino de amar sua esposa em cuidado e carinho, dedicação e liderança, pois lhe é cabeça. Como disse antes, é heresia moderna considerar servidão algo inferior do que liderança. Cristo, em amor, dá direcionamento para a Igreja, que O serve e o ama, esforçando-se para glorificá-Lo nessa união; o homem, direcionado por Deus, em amor, dá por sua vez direcionamento e cuidado à esposa, que o serve e o ama, esforçando-se para glorificar a Deus nessa união, refletindo a servidão da Igreja pelo Senhor.

Enfim, em Efésios vimos então que o Casamento, assim como a União de Deus e Seu Povo, é, resumidamente:

1.       Um pacto, uma aliança. Os dois lados se unem com um fim específico, glorificar a Deus; com benefícios e responsabilidades mútuas;
2.       É uma união. Nesta união os dois lados são identificados como extensão um do outro, assim como a Igreja é de Cristo;
3.       Existem responsabilidades divinas. Uma diversidade dentro da unidade, o homem lidera e a mulher serve; ambos se amam e fortalecem o pacto que reflete e glorifica a Deus.

Acabada essa primeira parte, não seguiremos para o Noivado, como havíamos planejado antes. Dada a necessidade de escrever mais sobre o assunto do Casamento, continuaremos a escrever sobre o Matrimônio, agora em tópicos dignos de discussão sobre o assunto, a saber, o Casamento com descrentes, o sexo pré-marital e o divórcio. Creio que cada um desses assuntos gerará uma postagem própria, e depois seguiremos com o Noivado e os outros assuntos previamente propostos.

Que Deus nos abençoe,

Marcel Cintra