Acabadas as diretrizes específicas sobre como funciona um
Casamento, com a analogia de Cristo e a Igreja, vamos a alguns tópicos
polêmicos, com a ajuda tanto de Efésios, como de outras partes da Escritura.
Vou tentar pegar tópicos bem discutidos sobre o assunto, e tentar resolvê-los à
luz da Escritura. E primeiro destes tópicos é o Casamento do cristão com o
descrente. Enfim, vamos lá:
Desde o Antigo Testamento, há várias asseverações contra
casamentos mistos (Ne 13.23-27 – este trecho é a maior mostra dos povos
não-israelitas ensinando suas heresias e profanando a aliança do Deus de
Israel, mediante casamentos), mostrando o perigo de tal união. Alguns podem
pensar que era algo cultural, um tipo de xenofobia judia, principalmente quando
se trata do Antigo Testamento, mas a verdade é outra.
Primeiro, era um mandamento divino. Não era algo inventado
por homens, mas o próprio Deus mandou que assim fosse. E se foi o próprio Deus,
obedeçamos, ao invés de tentar questioná-Lo.
Segundo, não era algo racial, mas sim, pactual. Deus é um
Deus de pactos, de alianças. No Antigo Testamento, Israel era o povo de Deus,
tinham feito um pacto com Ele desde Abraão; era uma aliança que se perpetuaria
até o Novo Testamento (Gl 3.6-16). Outra mostra dessa visão pactual ao invés de
racial são as inúmeras leis do Antigo Testamento valorizando o “estrangeiro”,
que viviam com eles, mas que seguiam a Lei de Deus (Ex 12.48; Ex 23.9; Nm
15.16). A questão era que, a priori,
os pagãos eram os gentios, enquanto os judeus era os guardiões dos oráculos de
Deus (Rm 3.2; 9.4,5)
Casar-se com alguém descrente já é uma grande mostra que
esse relacionamento não tem por objetivo glorificar a Deus, já que o cônjuge em
questão adorava outros deuses. Hoje em dia, poderiam falar “ah, mas o cara é
ateu/budista/espiritual/acredita em Deus, mas sem religiões”; entretanto, tudo
isso, e muito mais, não é o verdadeiro pacto e união com Deus Triúno que a
Escritura revela então, é tão pagão quanto os outros povos semíticos do Antigo
Testamento. Pode ser que tal casamento seja agradabilíssimo, vocês nunca
briguem, vocês “se amam” (questão de amor pode dar um outro post inteiro, por
isso me limito a colocar entre aspas esse tipo de explicação pra dizer que não
condiz com a definição bíblica de amor), mas isso nada vale. O casamento foi
instituído por Deus para que o casal glorifique a Deus; se fosse pra se sentir
bem, relacionamentos com qualquer não-cristão seria válido diante de Deus.
Felizmente, não é esse o propósito, pois glorificar a Deus é infinitamente
melhor que “se sentir bem”.
Isso não nega a realidade de que um relacionamento entre
cristãos não é perfeito. Os cristãos ainda são pecadores, e por seus pecados,
que distorcem e corrompem o bom proceder, machucam e fogem desse propósito
divino. Ainda assim, são os cristãos, aqueles verdadeiramente remidos e
regenerados por Deus, que vão buscar, cada dia mais, odiar o pecado e amar a
santidade; cada vez mais, que vão lutar para amar mais a Deus, e, por
consequência, amar o seu cônjuge em santidade.
Entretanto, existe uma exceção para relacionamento entre
cristãos e descrentes, e ela se encontra em 1 Co 7.12-16:
“Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher
incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem
marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. Porque
o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é
santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam
impuros; porém, agora, são santos. Mas, se o descrente quiser apartar-se, que
se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã;
Deus vos tem chamado à paz. Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido?
Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”
Neste caso específico, Paulo trata da situação de alguém
que se converte DEPOIS de ter se casado. Neste caso, Paulo aconselha que se
mantenha a união, se a parte incrédula concordar com esta união; caso não
concorde, a parte crente está livre (sendo uma das poucas situações válidas
para a separação; entretanto, isso será tratado posteriormente). Já que se
estabeleceu a união, o incrédulo da relação pode ser abençoado e Deus pode
alcançá-lo através de seu cônjuge. Então, porque não se pode casar com alguém
incrédulo para “ajudar a se converter”, mesmo sendo cristão antes do casamento?
Porque, sendo você cristão, tem o mandato de glorificar a Deus em todas as
áreas, inclusive, a de escolher um cônjuge com quem se une, por meio do
Casamento, para adorar a Deus. Alguém que converte depois de casado, não tem
mais essa opção, pois se respeita a união feita anteriormente. Logo, o seu
glorificar a Deus é no bom trato com o cônjuge e esperar em Deus que Ele o
converta, o que pode não acontecer, ainda assim (e Deus terá Seus motivos e
propósitos para tal, não me cabe aqui tentar fazer uma explicação universal pra
isso).
Assim, Deus demanda do Seu Povo que se case e se una somente
com aqueles que são Dele (1 Co 7.39), pois somente assim Ele será glorificado,
visto toda a casa estar submissa ao Senhor (Js 24.15). Assim como Deus não
permite que Seu Povo se volte pra outros deuses, pela aliança exclusiva que fez
com Ele, para O servir e glorificar, nós não podemos nos casar com aqueles com
quem não tem o pacto com nosso Deus, visto que não glorificam a Deus na sua
vida.
Que Deus abençoe a todos nós
Marcel Cintra
Marcel Cintra