quinta-feira, 26 de julho de 2012

Jack, estou voando!



            Como eu disse, um dos meus passatempos favoritos é assistir filmes e tirar lições do evangelho deles. Hoje, quero escrever sobre Titanic. Não vou recontar a história inteira, porque, se alguém não assistiu o filme, merece apanhar. :P

            Em Titanic, temos uma moça que, como ela mesma se descreve, “era a perfeita garota de família, mas, por dentro, eu estava gritando”. Era rica, parte da elite, belíssima, admirada. Para manter esse padrão, ela precisava se render a mais de oito mil diversas regras rígidas. Essas regras eram, como Paulo diria, “aparência de santidade e falsa humildade” (obs: não gosto de ficar citando referências. A Igreja passou ¾ da sua existência lendo a Bíblia sem coordenadas cartesianas para cada frase). No entanto, essas regras também “não tinham valor algum para refrear os impulsos da carne” (Paulo de novo). No caso da Rose, a sua ânsia era por liberdade, por viver intensamente, com um sentido, um propósito. As regras faziam a Rose parecer a melhor do mundo, mas, no fundo, ela se sentia a mais miserável do mundo.

            Para piorar, essas regras exigiam que a Rose se casasse inevitavelmente com o Cal, um noivo dominador, opressor e perpetuador dessas regras. A Rose, obedecendo às regras, fazia-se escrava do controlador das regras. Biblicamente, sabemos que a Lei divina, obviamente muito superior às leis dos ricos de Titanic, tem no pecado um aliado. Não que a Lei divina fosse ruim, mas, devido à fraqueza da carne, o pecado usou a Lei para dominar o ser humano. Paulo coloca aos coríntios que “a força do pecado é a Lei”, pois a Lei é o que evidencia e clareia o domínio do pecado, ela espelha a nossa natureza caída. No caso da Rose, algo semelhante acontecia: o Cal sancionava o seu domínio sobre a Rose por meio das regras.

            Então vem o Jack, um homem que aparece do nada (Hebreus 7), homem pobre e desprezível, sem honra nem beleza (Isaías 53). Mas esse homem entra no mundo caprichoso da Rose e mostra para ela o verdadeiro amor: o amor que é completo, incondicional, e que dá vida e liberdade. Em Jack, a Rose encontra uma saída para ser livre e ter “vida abundante”. Jack não tinha nenhum dos ornamentos dos ricos, mas ele tinha um coração cheio de amor e um olhar gracioso.

            Como Jack poderia libertar a Rose do domínio do Cal e da família de mauricinhos? Ele era um só homem, fraco e sozinho, e os ricos eram os poderosos que mandavam no pedaço. Foi necessário o naufrágio do Titanic para que a grande batalha fosse travada, um evento semelhante à tensão da crucificação de Jesus, onde ele enfrentou os maiores perigos e sofrimentos para derrotar o pecado e salvar a sua amada noiva, a Igreja. E, como no caso do Jack, foi necessário que Jesus morresse. Jack Dawson deu a sua vida para salvar a Rose.

Ele não apenas salvou sua amada da morte imediata, mas, como ela mesma coloca, “ele me salvou de todas as maneiras pelas quais uma pessoa pode ser salva”. Jack a salvou de morrer, mas também a salvou de ser escrava do maligno Cal, bem como de ter uma existência sufocante e repressora. Jack já pregava para a Rose as coisas que eles fariam, coisas escandalizantes para alguém da alçada dela: mastigar tabaco, andar em montanha-russa, montar num cavalo “com uma perna de cada lado”. Depois que o Jack morre e a Rose se salva, ela realiza todos esses sonhos (tem até a foto dela como pilota de avião).

Jesus também nos salvou do poder da morte, e ele dizia coisas escandalizantes, como “vocês devem comer da minha carne e beber o meu sangue para serem salvos” ou “eu sou o pão vivo que desceu do céu”. Sobre a morte, ele diz “Aquele que crê em mim não verá a morte” ou “Ainda que morra, viverá”, e mais “Eu sou a ressurreição e a vida”. E Paulo diz aos coríntios “A morte foi destruída pela vitória”. E Jesus não nos salvou apenas para não morrermos, mas também para vivermos de verdade, sem teatralidade. Pelo amor de Cristo, estamos livres da escravidão do pecado, bem como livres da Lei. Paulo diz aos colossenses que Cristo “pregou as ordenanças na cruz e trinfou sobre elas, fazendo delas um espetáculo público”. Em Cristo, estamos livres para viver o amor e a liberdade, com um significado e uma razão de ser. (Da próxima vez que vier uma menininha reclamar que “cabia os dois na porta, o Jack não precisava ter morrido, blablablabla”, você já sabe o que dizer.)

O Jack morreu, mas a Rose nunca deixou de viver por ele. Ela adota para si uma nova identidade (“nova criatura”), e adota o nome Rose Dawson. Em seu coração, ela se casou com Jack. Depois, quando ela morre, ela reencontra o seu amado Jack no... sei lá, o Sheol do filme. Enfim, ela se casa com ele enquanto todos aplaudem. A história da amada Igreja termina assim também. Estamos apartados da presença de Cristo – mas o Cristo ausente é ainda melhor do que o Jack, pois ele envia o seu Espírito para estar com a Igreja – porém, quando tudo terminar, estaremos prontos para nos casar com Jesus Cristo no paraíso. Seremos arrebatados para junto do nosso Amado para sempre.

André Duarte

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