Como eu disse, um dos meus
passatempos favoritos é assistir filmes e tirar lições do evangelho deles.
Hoje, quero escrever sobre Titanic. Não vou recontar a história inteira,
porque, se alguém não assistiu o filme, merece apanhar. :P
Em Titanic,
temos uma moça que, como ela mesma se descreve, “era a perfeita garota de
família, mas, por dentro, eu estava gritando”. Era rica, parte da elite,
belíssima, admirada. Para manter esse padrão, ela precisava se render a mais
de oito mil diversas regras rígidas. Essas regras eram, como Paulo diria,
“aparência de santidade e falsa humildade” (obs: não gosto de ficar citando
referências. A Igreja passou ¾ da sua existência lendo a Bíblia sem coordenadas
cartesianas para cada frase). No entanto, essas regras também “não tinham valor
algum para refrear os impulsos da carne” (Paulo de novo). No caso da Rose, a
sua ânsia era por liberdade, por viver intensamente, com um sentido, um
propósito. As regras faziam a Rose parecer a melhor do mundo, mas, no fundo,
ela se sentia a mais miserável do mundo.
Para
piorar, essas regras exigiam que a Rose se casasse inevitavelmente com o Cal,
um noivo dominador, opressor e perpetuador dessas regras. A Rose, obedecendo às
regras, fazia-se escrava do controlador das regras. Biblicamente, sabemos que a
Lei divina, obviamente muito superior às leis dos ricos de Titanic, tem no
pecado um aliado. Não que a Lei divina fosse ruim, mas, devido à fraqueza da
carne, o pecado usou a Lei para dominar o ser humano. Paulo coloca aos
coríntios que “a força do pecado é a Lei”, pois a Lei é o que evidencia e
clareia o domínio do pecado, ela espelha a nossa natureza caída. No caso da
Rose, algo semelhante acontecia: o Cal sancionava o seu domínio sobre a Rose
por meio das regras.
Então vem o
Jack, um homem que aparece do nada (Hebreus 7), homem pobre e desprezível, sem
honra nem beleza (Isaías 53). Mas esse homem entra no mundo caprichoso da Rose
e mostra para ela o verdadeiro amor: o amor que é completo, incondicional, e
que dá vida e liberdade. Em Jack, a Rose encontra uma saída para ser livre e
ter “vida abundante”. Jack não tinha nenhum dos ornamentos dos ricos, mas ele
tinha um coração cheio de amor e um olhar gracioso.
Como Jack
poderia libertar a Rose do domínio do Cal e da família de mauricinhos? Ele era
um só homem, fraco e sozinho, e os ricos eram os poderosos que mandavam no
pedaço. Foi necessário o naufrágio do Titanic para que a grande batalha fosse
travada, um evento semelhante à tensão da crucificação de Jesus, onde ele
enfrentou os maiores perigos e sofrimentos para derrotar o pecado e salvar a
sua amada noiva, a Igreja. E, como no caso do Jack, foi necessário que Jesus
morresse. Jack Dawson deu a sua vida para salvar a Rose.
Ele não apenas salvou sua amada
da morte imediata, mas, como ela mesma coloca, “ele me salvou de todas as
maneiras pelas quais uma pessoa pode ser salva”. Jack a salvou de morrer, mas
também a salvou de ser escrava do maligno Cal, bem como de ter uma existência
sufocante e repressora. Jack já pregava para a Rose as coisas que eles fariam,
coisas escandalizantes para alguém da alçada dela: mastigar tabaco, andar em
montanha-russa, montar num cavalo “com uma perna de cada lado”. Depois que o Jack
morre e a Rose se salva, ela realiza todos esses sonhos (tem até a foto dela
como pilota de avião).
Jesus também nos salvou do poder
da morte, e ele dizia coisas escandalizantes, como “vocês devem comer da minha
carne e beber o meu sangue para serem salvos” ou “eu sou o pão vivo que desceu
do céu”. Sobre a morte, ele diz “Aquele que crê em mim não verá a morte” ou
“Ainda que morra, viverá”, e mais “Eu sou a ressurreição e a vida”. E Paulo diz
aos coríntios “A morte foi destruída pela vitória”. E Jesus não nos salvou
apenas para não morrermos, mas também para vivermos de verdade, sem
teatralidade. Pelo amor de Cristo, estamos livres da escravidão do pecado, bem
como livres da Lei. Paulo diz aos colossenses que Cristo “pregou as ordenanças
na cruz e trinfou sobre elas, fazendo delas um espetáculo público”. Em Cristo,
estamos livres para viver o amor e a liberdade, com um significado e uma razão
de ser. (Da próxima vez que vier uma menininha reclamar que “cabia os dois na
porta, o Jack não precisava ter morrido, blablablabla”, você já sabe o que
dizer.)
O Jack morreu, mas a Rose nunca
deixou de viver por ele. Ela adota para si uma nova identidade (“nova
criatura”), e adota o nome Rose Dawson. Em seu coração,
ela se casou com Jack. Depois, quando ela morre, ela reencontra o seu amado
Jack no... sei lá, o Sheol do filme. Enfim, ela se casa com ele enquanto todos
aplaudem. A história da amada Igreja termina assim também. Estamos apartados da
presença de Cristo – mas o Cristo ausente é ainda melhor do que o Jack, pois
ele envia o seu Espírito para estar com a Igreja – porém, quando tudo terminar,
estaremos prontos para nos casar com Jesus Cristo no paraíso. Seremos
arrebatados para junto do nosso Amado para sempre.
André Duarte
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