sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Apresentação: Lukas


          Bom gente, sou novo nesse negocio de blog, mas de acordo com o padrão das apresentações (com uma colinha do meu amigo João) acho que vai mais ou menos assim:

          Sou Lukas Fernando. Tenho 21 anos (sim, ainda não passou de 2012). Graduando em Ciência da Computação na Católica, protótipo de músico, gamer, e sim, miserável pecador ainda por aprender muito sobre Deus tendo muito a consertar nos meus desejos egoístas a cada dia.

         Eu tive uma idéia nova que (talvez) dará certo se der certo. A idéia é colocar uma música (não falarei música gospel porque esse nome foi simplesmente tirado do meu vocabulário faz muito tempo) com a letra e o link pro youtube ou qualquer coisa do tipo. A música que postarei pode ser uma que você ouve todo o dia, ou que você ouviu falar (nesse caso tocar) em algum lugar, ou até totalmente desconhecida pra você, mas que me tocou em algum momento da minha vida. Vocês ouvem a música, lêem o post, deixem opiniões, e sejam abençoados pela coisa tão maravilhosa criada por Deus que é a música (não me responsabilizo pela última parte).

         A música vive em mim, assim como o Criador dela. Se tem alguma coisa que eu acho que pode tocar pessoas e amolecer corações para que a obra de Deus seja feita, é a música. Mas não adianta so amolecer o coração né? Vamos meditar SUSTANÇA (a la Pr. Nilson) nessas músicas.
Quanto a Resenha? A Resenha não tem limites. É apenas limitada pelas limitações do espaço cósmico estrogonoficamente unilateral dos três lados dos pêlos da perna do André Duarte.
Aliás, esquece. Acho que simplifiquei demais.

Abraços para todos e Boa Leitura. (:




Lukas Fernando

Apresentação: Davi



Meu nome é Davi Leite de Resende, mas podem me chamar de Davi. Hoje (28/08/2012), tenho 20 anos. Estou matriculado no curso de Estatística na Universidade de Brasília, mas não posso me dizer um estudante. Trabalho na Rede Globo de Comunicação como Parceiro do DF.

Aqui no blog pretendo escrever sobre o evangelho de Jesus Cristo segunda a minha visão e interpretação.

Eu aceitei uma verdade bem fundo em mim que me faz acreditar que não há justiça fora de Cristo. De fato, não há nada fora de Cristo. Eu acredito que ele é o início e o fim de tudo que conhecemos.

A Resenha, ela estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por meio dela e, sem ela, nada do que foi feito se fez. Onde estiverem dois ou três reunidos em nome da Resenha, ali ela estará!

Até à vista!

Davi

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

100% - 0%



           Bom pessoal, esse é meu primeiro texto, minha vontade era fazer sobre outros temas, mas o André os acabou abordando, e, mais para frente, tratarei de alguns assuntos que ele não se aprofundou tanto. Neste texto, me basearei principalmente na passagem onde Paulo, se dirigindo à Igreja em Éfeso, exorta o povo quantos aos seus deveres conjugais (Ef 5:22 em diante, ênfase no trecho do versículo 25 em diante), e tratarei como “pré-requisito” os inúmeros trechos da bíblia que falam sobre amar ao próximo.

            O tema principal deste meu primeiro contato é o amor. Senti a responsabilidade de tratar sobre este assunto desde que vi certa vez um dos vídeos do Paul Washer, o qual ele prega em um casamento. Ao final da palavra eu pensei: “a essência do que ele falou não se aplica apenas ao âmbito do casamento, mas é perfeitamente aplicável a qualquer relacionamento”. Paul Washer tratou sobre a incondicionalidade que o nosso amor tem que ter, no caso, em um casamento. Refletindo um pouco percebi o quanto sou falho nisso, e o quanto preciso constantemente da Graça de Deus para me ajudar a cumprir o objetivo de poder amar incondicionalmente o nosso próximo.

            Paulo exorta aos maridos a fim de que amem suas esposas assim como Cristo ama a sua Igreja, dando Sua própria vida por ela, a fim de que a mesma fosse santificada e purificada, sem mácula, sem ruga, santa e irrepreensível. Da mesma forma, deveriam os maridos amar suas esposas, como se amassem a si mesmos, pois ninguém odeia a sua própria carne, antes a alimenta e a sustenta, assim como o Senhor faz com sua Igreja (Ef 5:25-29). A questão é: tudo isso é a forma com a qual se deve amar a todos, pois tudo isso é basicamente um destrinchamento do mandamento de amar o próximo como a si mesmo. “Mas João, eu não sou uma só carne com meu próximo”. Sim, meu caro, porém você é um só corpo com ele. “Mas meu próximo não é da Igreja”. Tudo bem, mas você deverá amá-lo como “estrangeiro no seu meio”, como Deus ordenara ao povo no AT, e como seu amigo, pois todos temos amigos não-crentes, e Jesus esclarece bem o amor que ninguém tem maior: o de dar a própria vida pelos seus amigos (Jo 15:13). Assim sendo, devemos amar a todos de forma igual e incondicionalmente. Pois de tal forma, assim como Cristo purifica e santifica sua Igreja com Seu amor, da mesma forma o marido, por ser o cabeça e sacerdote do lar, santifica e purifica sua esposa, igualmente devemos amar o nosso próximo para tal finalidade, pois com o nosso ato de amar, somos capazes de conduzir nosso próximo a uma busca por santificação, sendo assim abençoamos a vida dele com o nosso amor.

            “E a incondicionalidade, como funciona?” Bem, pode até parecer engraçado, ou óbvio, mas ela funciona quando você elimina toda e qualquer condição estabelecida para você amar a outra pessoa. É óbvio, né? E é tão óbvio que quase todo mundo não percebe isso. Paul Washer faz, em seu vídeo, uma ilustração que eu achei muito interessante e que irá esclarecer melhor o título deste post. Antigamente, as pessoas diziam que você tinha que encontrar a sua outra metade, alguém que te completasse, se dizendo assim que o amor deveria ser 50% - 50%, onde o amor de um era complementado pelo amor do outro, o que um fazia complementava o que o outro fazia e ambos seriam felizes. Ou seja, eu faço o que cabe a mim, e você o que caberia a si. Porém, depois as pessoas disseram: “não, isso está errado, cada tem que dar o melhor de si mesmo, cada um tem que ser completo em si mesmo e ambos são os responsáveis por tudo”, sendo assim, um amor 100% - 100%, onde cada um tem a obrigação de dar o seu melhor em prol do relacionamento de tal forma que, eu tenho que dar o meu melhor pra você, e, da mesma forma, você tem que dar o seu melhor pra mim. E qual seria o erro de cada um? O erro da primeira forma de amor é até que simples, pois realmente você não tem que depender de ninguém para ser completo, e se cada um se prezar em fazer somente aquilo que está ao seu alcance, na sua zona de conforto, teremos um bom exemplo de um relacionamento baseado no eu, e não no outro, um relacionamento puramente egoísta, onde nenhuma das partes realmente se entrega, se doa, à outra. O erro da segunda forma, num primeiro instante, foi mais complicado de perceber. Agora você deve estar se perguntando sobre o que há de errado sobre o amor 100% - 100%, isso se você não percebeu que eu o descrevi de uma forma que evidenciasse melhor o erro. Novamente temos uma forma de egoísmo, e esta é mais complicada de se perceber em si mesmo e mais difícil ainda é corrigir e eliminar. O problema do amor 100% - 100% está, justamente, na idéia de exigência, de querer algo em troca, que fere totalmente o princípio da incondicionalidade. Eu dou o melhor para você, mas você TEM QUE dar o seu melhor pra mim; eu dou o meu melhor para você, esperando que você dê o seu melhor pra mim; eu dou o melhor para você, a fim de que você dê o seu melhor para mim; ou ainda, o que chamo de condicionalidade inversa: eu tenho que dar o melhor para você, porque você está dando o seu melhor para mim. Não há beleza nisso, é triste, é doentio, é extremamente frágil e delicado. A partir do momento em que um dos lados deixa de cumprir a sua “obrigação”, o sistema, no caso, o relacionamento, desmorona e cai num ciclo vicioso auto-destrutivo: “já que você deixou de dar o seu melhor para mim, então eu também não darei mais o meu melhor a você”.

            Como ilustrar, então, um amor incondicional? Com 100% - 0%. Você é o único responsável pelo seu relacionamento, seja lá qual for, desde coleguismo, até casamento e relação de pais e filhos. Você deve fazer o seu melhor por esse relacionamento, sem esperar nada em troca, você deve agir sem esperar uma resposta positiva do outro, ou sequer esperar uma resposta. Você deve fazer o melhor pela outra pessoa justamente porque você a ama e quer o melhor para ela, e não o melhor para si. Onde está o diferencial em amar uma pessoa a fim de se auto-beneficiar? Amar incondiconalmente é, de fato, não colocar condições para você amar seu próximo, como: “só irei amá-lo se ele me pedir perdão”, “só irei amar meu pai se ele me deixar sair”, “só irei amar meu marido se ele me elogiar”. É também, não colocar condições no amor do outro (condicionalidade inversa): “preciso fazer isso para Fulano me aceitar”, “preciso ceder aqui para não brigar ali”. Geralmente a condicionalidade inversa segue a linha de pensamento de fazer um buraco para tampar outro buraco. Não importa quem seja o seu próximo, os seus defeitos, você deve amá-lo de forma incondicional. Olhe para Cristo e Sua Igreja. A Igreja é totalmente falha, cheia de erros e defeitos, e Cristo, que é perfeito, ainda assim a ama, a abençoa e a ajuda em todos os momentos, Ele sempre estará com ela. O relacionamento perfeito parte deste princípio: é 100% você, e 0% o outro, ou seja, por mais que o outro te pise, cuspa em você, faça toda a sorte de maldade, você ainda assim que tem que o amar, e amar a ponto de, se preciso, dar sua própria vida por essa pessoa, pois foi o Cristo fez na cruz. Nós O maltratamos, zombamos e cuspimos Nele, e Ele ainda assim deu a Sua vida por nós. Ele é o exemplo para tudo. Uma forma de ilustrar melhor e diferenciar o amor 100%-0% do 100%-100% está no seguinte exemplo: imagine duas ilhas separadas e você queira ligá-las para que carros passem de uma ilha a outra. O amor 100%-100% é como uma ponte de mão dupla, tanto pra ir como vir, os carros terão de usar a mesma ponte, se esta vier a quebrar, acaba ali a ligação entre as ilhas. Por outro lado, o amor 100%-0%, serão duas pontes, uma independente da outra, uma ponte que vai, e outra ponte que vem. Se uma quebrar, a outra ainda estará em pé. Ou seja, a ponte de mão dupla representa um amor dependente, que só vai se tiver volta. Já as duas pontes não. Um indivíduo tem a sua própria responsabilidade íntima de amar o outro, e o outro tem a sua própria responsabilidade íntima de amar o primeiro, mas sem interdependência, sem exigências. Seria no caso um amor 100%-0%-0%-100%.

Para encerrar, o mais importante: o amar ao próximo de maneira incondicional, se dará somente porque há obediência a Deus e nada mais. O que passar disso é soberba, e, de certa forma, uma auto-condicionalidade para amar, pois a finalidade deste amor será o  justificar ou glorificar de si mesmo. É importante lembrar também de que o ato de amar incondicionalmente é uma ação ativa, ou seja, há um gasto de energia para isso, é preciso se esforçar, e se disciplinar, pois nossa a natureza sempre nos tentará a voltar ao egoísmo.

João Renato

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Crítica ao evangelismo contemporâneo 3 – O Retorno do Rei



            Depois de aprender com Tim Keller que “one does not simply writes a theological article without presenting the gospel of Jesus”, vou mostrar agora como Jesus Cristo, o sujeito e o assunto do evangelismo, pregava sobre si mesmo e respondia às questões do povo. (O trocadilho do título foi até mais adequado que o do post anterior :P)

            Quanto ao ponto do apelo, Jesus faz como Pedro: ele chama ao arrependimento. Para Jesus, não há a menor chance de alguém tentar segui-lo sem que esteja profundamente convicto da própria perdição e da vida eterna imerecida que o Senhor dá. Quando ele ouve notícias de que Pilatos assassinou alguns galileus, ele diz “Vocês acham que esses que morreram eram mais pecadores que os outros, por terem morrido? Não! Mas, se vocês não se arrependerem, também perecerão”. Jesus tinha de dizer isso sempre, porque havia muita divergência de opiniões sobre quem ele era – assim como há hoje. Ele tinha de deixar claro que ele veio chamar pecadores ao arrependimento, e não aqueles que já se acham justos. Ele deseja destruir a justiça própria que há em cada um para que só então essa pessoa o siga. E as pessoas que dizem entregar a vida a Jesus só porque se sentiram emocionadas no momento ou porque desejam ser mais felizes não mudaram em nada a autoidolatria.

            Outro ponto que eu quero salientar é que Jesus sempre falava, além do arrependimento, em uma regeneração espiritual. Hoje em dia, basicamente fala-se sobre uma regeneração emocional – você vai ser mais feliz e pleno –, comportamental – você não vai mais precisar beber, se drogar ou se prostituir – ou intelectual – você terá acesso aos verdadeiros conceitos sobre a vida e o mundo. Jesus aponta para uma mudança lá no fundo do coração, algo que é crucial e tem como consequência a regeneração emocional, comportamental e intelectual. É algo que não pode ser nomeado por palavras assertivamente descritivas, mas que a Bíblia chama de espírito. É a natureza pecaminosa sendo subjugada pela natureza espiritual. É o homem carnal tornando-se o homem espiritual, o adorador de si mesmo tornando-se um adorador do verdadeiro Deus. A metáfora que Jesus usa com Nicodemos é o nascer de novo. Para se fazer entender ao povo, Jesus usa figuras que demonstram a insuficiência do homem ao tentar agradar a Deus e a total dependência que ele tem de Cristo. Eu tenho postado aqui no blog alguns exemplos de como Jesus retira o ídolo que há no ouvinte para colocar a si próprio nesse arquétipo. O que podemos fazer para realizar essa tarefa tão complicada que mal pode ser explicada? Pregar dessa forma como eu tenho descrito, a forma como Jesus prega. O entendimento espiritual será dado pelo Espírito Santo, mas a pregação correta é nosso dever.

            Outro ponto: Jesus prometia vida eterna para quem o seguisse. Mas, até que venha a dimensão do eterno, só tem coisa ruim, ruim para quem é carnal e não foi regenerado. Autossacrifício, autorrenúncia, perseguição, sofrimento! Isso ficou claríssimo quando ele se comparou ao maná. A primeira multiplicação dos pães é uma história que aparece em todos os evangelhos, mas só o de João dá o desfecho. Depois que a multidão faminta fica maravilhada com o milagre de Jesus, ele começa a dizer “Então, pessoal, a coisa não é tão simples assim. Eu não sou uma mera fonte de sustento e alimento. Eu mesmo sou esse sustento. Vocês comem esse pão feito por milagre achando o máximo, e também leem que os seus antepassados comeram o pão do céu achando maravilhoso. Mas a verdade é que o verdadeiro pão do céu sou eu. Não adianta vocês ficarem vindo atrás de mim para que eu faça pães, vocês precisam reconhecer que o pão que os satisfaz totalmente sou eu. É de minha carne e meu sangue que vocês devem se alimentar”. Alguns detestaram essa metáfora, confundindo com canibalismo, mas grande parte do povo entendeu o que aquilo significava. Infelizmente, há milhões de crentes que estão seguindo Jesus atrás do pão que ele dá, e não do pão que ele é. Quantas pessoas você conhece que se tornaram dependentes da liturgia animada e cheia de autoajuda nos domingos? O evangelho de autoajuda e motivação existencial é esse falso evangelho que diz “Siga Jesus, e ele lhe dará o pão”. O pão que Cristo dá é ele próprio; a vida, a morte, a ressurreição e o envio do Espírito Santo regenerador e paráclito, é isso que ele nos oferece para termos uma vida abundante. Mas esse é o ponto que toca, mais uma vez, na remoção de um ídolo da alegria fácil em nosso arquétipo e preenchê-lo com Jesus. A pregação de um evangelho com motivação existencial e só com a parte bonitinha faz do ouvinte alguém que segue Jesus para que Jesus ofereça para ele algo que dá a felicidade da vida, nem que seja um algo abstrato (porque mencionar a teologia da prosperidade aqui seria muito mainstream :P). É necessário que paremos de achar que Jesus veio fazer ou dar alguma coisa que não seja ele próprio, pois ele é tudo. Ele é o caminho, a verdade, a vida, a ressurreição, a água, o pão; todo o resto pode ser permeado de problemas e sofrimentos e não há nada de estranho nisso.

            Vinculado a esse ponto, existe o aspecto da pregação de Cristo de “one does not simply follow me”. Havia milhares que pediam para seguir Jesus, e ele não deixava. Que contraste com o que se faz hoje. Hoje, nós praticamente tentamos fazer todo o possível para um descrente crer; Jesus fazia todo o possível para que ninguém o seguisse a menos que quisesse isso mais do que tudo na vida. Nessa mesma história do pão, a multidão abandona Jesus, e ele não vai atrás dela. E ele ainda vira aos discípulos e diz “E vocês, estão esperando o quê para ir embora?”, e Pedro diz “Senhor, tu és o santo de Deus que tens as palavras da vida”.  Certa pessoa queria seguir Jesus achando que estaria tudo bem, e ele diz “Até os animais têm suas casas, mas eu nem tenho onde dormir. Você não tem condição de vir comigo, tchau”. A outro Jesus disse “Siga-me e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos”. A outro que quis seguir Jesus só depois de despedir-se dos seus pais, o Senhor diz “Quem põe a mão no arado e olha para trás não pode entrar no Reino dos céus”. Jesus quer filtrar ao máximo quem realmente pode segui-lo. Seguir Jesus é muito mais difícil do que seguir Elias – pois, quando Eliseu pediu para despedir-se de sua família antes de seguir Elias, este disse que tudo bem. A situação também faz lembrar aquela em que Josué renova a aliança sinaítica com os israelitas. Ele diz “Escolham a quem vocês seguirão, mas eu e minha família serviremos ao Senhor”. O povo diz “Seguiremos o Senhor”, e Josué diz “Vocês não tem condição de servir ao Senhor! Ele é santo!”. Outras advertências de Jesus: “se alguém ama pai, mãe, filho ou esposa mais do que a mim não pode me seguir”, “só terá a vida aquele que a perder por minha causa e carregar a sua cruz todos os dias”. Jesus não permitirá que alguém o siga antes de renunciar aos seus ídolos e converter-se a Jesus para que ele seja o agente que remove os ídolos diariamente. A pregação fácil que se faz hoje, com uma simples oração de confissão e a motivação existencialista, atrai muitos números, mas a maioria desses números é falsa, porque tais métodos são ineficazes para atingir o problema dos ídolos.

            Por fim, Jesus também fala muito sobre o inferno. Quantas vezes eu já tive de ouvir que eu não podia falar de Jesus pra alguém mencionando o inferno, para não assustá-la! Jesus deve ter sido muito errado então em falar do inferno tantas vezes para os ouvintes coitadinhos. :P Ele diz “se algo faz você pecar, corte-o e jogue-o fora; é melhor entrar mutilado no céu a entrar inteiro no inferno” ou “Temam não os homens que só podem matar o corpo, mas sim aquele que pode destruir corpo e alma no inferno”. E todas as parábolas em que o infiel é atirado no fogo e nas trevas onde há choro e ranger de dentes? Sim, falar da eterna condenação é importantíssimo. É necessário que o ouvinte saiba o que ele merece por ter pecado contra Deus. O ouvinte precisa saber que Jesus teve de passar por uma condenação infernal para salvar aqueles que eram merecedores dela. Quanto mais for ressaltada a justiça punitiva de Deus,  maior será o entendimento da justiça graciosa e amorosa. Na pregação, deve haver a apresentação de ambos. A santidade e justiça punitiva de Deus sozinhas criam pessoas cheias de medo e paranoia; a graça e o amor de Deus sozinhos criam pessoas relaxadas e relativistas. Jesus não apenas pregou sobre ambos os aspectos, mas viveu o aspecto da condenação para que tivéssemos acesso ao aspecto da graça. E, se alguém rejeita essa graça por meio de um relativismo ou legalismo, a condenação ainda paira sobre ela.

        Agora, queridos, é o momento de fazer uma autoanálise. Decida se vai continuar seguindo uma tradição de 100 anos que teve como resultado esse cristianismo fácil e relativista ou se vai amoldar-se ao padrão de Cristo. E lembre-se, você pode viver como Cristo porque ele já viveu como você. Ele se tornou um pequeno humano para que você possa se tornar um pequeno Jesus.
Beijo pras mina e abraço pros mano.
André Duarte

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Crítica ao evangelismo contemporâneo 2 – A Missão


Saudações, irmãos. Como ficou bem óbvio, este post continua o assunto do post anterior. O título de “A Missão” foi só uma brincadeira com o filme Top Gear, mas o assunto realmente tem a ver com a missão de evangelizar. :P Bem, como prometi no post anterior, quero falar com mais especificidade de três heresias que se sacralizaram na evangelização comum no Ocidente: apelo, oração de confissão e motivação existencialista. Quero usar como texto base o discurso evangelístico de Pedro aos judeus que estavam comemorando a Festa das Semanas, também conhecida como Pentecoste. Todos os outros discursos evangelísticos guardam em comum o que eu vou colocar aqui, mas eu escolho esse porque ele é o mais completo no processo da conversão: existe uma situação, a exposição da palavra, o chamado à conversão, a conversão efetuada e a iniciação no discipulado eclesiástico.

Antes de começar, quero deixar claro algo que eu precisei explicar melhor aos amados irmãos da JNV: eu creio que Jesus é soberano para fazer-se entender e tocar o coração de quem ele quiser independentemente do método de pregação. O que eu pretendo colocar, e que eu sei que meus irmãos estão cientes, é que isso não é desculpa para se evangelizar de qualquer jeito. Se a questão é Deus ser soberano e não precisar de nós, sem dúvida alguma isso é verdade. Mas o chamado dele deve ser cumprido por obediência e fé, porque é assim que ele deseja. Ele quer que nós sejamos como ele para que o mundo venha a ver o invisível. (No próximo post, vou colocar como Jesus evangelizava.)

Pra começar, o apelo. É muito estranho e causa até um desconforto pensar que o apelo é um erro. Preciso ser aqui muito cuidadoso para me fazer entender, e espero conseguir isso. Acho que uma maneira eficiente de facilitar o entendimento é olhar para o diálogo entre Pedro e os ouvintes. Vamos salientar uma importante diferença: no apelo, existe um chamado à conversão direto e de iniciativa do pregador. Eu entendo que essa é uma ocasião em que o pregador acaba tomando um pouco das rédeas do coração do ouvinte, mesmo sem intenção. Geralmente, o pregador expõe a palavra (vamos imaginar o melhor dos casos, um em que a palavra pregada é a verdadeira) e, em seguida, de ofício, diz algo como “Se alguém quiser entregar a sua vida a Jesus”, e aí segue a oração de confissão, ou um chamado para vir receber a oração do pastor ou coisa do tipo. O problema desse apelo é que existe um risco enorme do ouvinte decidir ser cristão sem realmente saber o que está fazendo. A decisão da conversão deve ser de iniciativa do ouvinte, e não do pregador. Parece não fazer muita diferença, mas eu acho que há uma boa razão para a inexistência de apelos nos discursos dos cristãos da Bíblia – o máximo que existe é um chamado ao arrependimento, mas o passo da iniciação ao cristianismo é omitido. Os evangelistas sempre pregavam o evangelho e deixavam um vácuo justamente para que o ouvinte preenchesse esse vácuo com a sua iniciativa de se converter ou com a sua indiferença. O ponto é que, se um ouvinte tem a iniciativa de dizer “Quero ser um seguidor de Jesus”, sem que ninguém tenha clamado para que ele faça, é porque ele já remoeu a palavra em si, já teve tempo de se deixar ser quebrantado e mostrou que está realmente decidido. Veja o que houve na pregação de Pedro: ele pregou o evangelho e pronto. Aí os ouvintes começaram a ficar deslumbrados e perguntam “O que devemos fazer agora?”, e então Pedro lhes responde com a chamada ao arrependimento e à conversão. Para o pregador, realmente parece fazer pouca diferença se é ele quem chama ou se é o ouvinte que toma a iniciativa, mas, no entendimento do ouvinte, há uma grande diferença. Se ele é chamado a entregar sua vida a Jesus para ser salvo, há grande probabilidade de ele fazer isso por impulso, por uma comoção imediata, sem que tenha realmente se dado tempo de ouvir a voz do Espírito. Por isso Jesus disse “Ninguém deve construir uma casa sem antes calcular o preço; nenhum governante deve enviar soldados à guerra sem antes ponderar bem com os seus conselheiros. Do contrário, os empreendimentos poderão falhar no meio do caminho”. Em uma palavra, o apelo traz o seguinte problema: precipitação. Alguém poderia dizer “Ah, mas aí é um erro do ouvinte, e não do pregador”. Na realidade, é um erro de ambos. Mas o pregador é quem tem condição de conhecer a sua responsabilidade. Vamos confiar no ensino bíblico, e não em tradições recentes.

Erro número 2: oração de confissão. Esse é bem mais simples de entender o problema. A oração de confissão pressupõe que, feita a oração entregando a vida a Jesus, uma pessoa está salva. Isso é simplesmente errado. Confessar com a boca sem crer no coração é inútil. E, ao se chamar o ouvinte a fazer a oração de confissão, basicamente ocorre a indução de que ele deve crer com o coração na oração, e não em Jesus. Há milhões de pessoas que fazem essa oração e continuam vivendo como antes. E, se lhes ocorre alguma dúvida na consciência, elas dizem “Não, mas eu fiz uma oração entregando a minha vida a Jesus, estou salvo”. E a culpa não é apenas dos ouvintes, mas, novamente, a culpa é do pregador que não foi sensível a esse desvio do evangelismo bíblico e às consequências dele. Oração de confissão e salvação são coisas completamente distintas. E, na maioria das vezes, inimigas. A oração de confissão é uma heresia que, em sua essência prática, suprime a doutrina da regeneração, do “nascer de novo”. O que Pedro diz mesmo? “Repitam comigo esta oração e serão salvos”? Não, mas “Arrependam-se e sejam batizados no nome de Jesus para receberem o dom do Espírito” e mais, “Salvem-se dessa geração corrompida”. O que iniciava uma pessoa como cristã não era a oração de confissão, e sim o batismo. O batismo tinha o valor simbólico de purificação arraigado na cultura judaica. Jesus, falando a Nicodemos, diz “é necessário nascer de novo, nascer do Espírito e da água”. A melhor definição para o sentido do batismo é dada por Paulo aos romanos: batizando-se com Cristo em sua morte, morre-se para o pecado; batizando-se em sua ressurreição, vive-se uma nova e eterna vida. O batismo foi escolhido porque ele tinha um sentido simbólico perfeitamente compreensível aos ouvintes: o sentido da regeneração, da mudança, do novo nascimento, do morrer para o homem adâmico e renascer para o homem espiritual. A oração de confissão não tem nenhum sentido simbólico, mas tem um fim em si mesma. Muitos podem dizer “Mas e se a pessoa não confessar com a sua boca ela não será salva”, mas eu digo o mesmo que foi dito sobre o apelo: a oração a Deus deve ser espontânea do ouvinte. Quando ele se sentir verdadeiramente tocado a ponto de querer fazer essa oração, ele a fará. É o momento dele com Deus. A hora não é quando o pregador diz “Façam agora essa oração”, mas sim quando o Espírito Santo encher o ouvinte até que ele não consiga evitar a confissão. Não roubemos do ouvinte o que pertence a ele e Deus. Cumpramos o que nos foi confiado.

O erro da motivação existencialista é provavelmente o mais terrível. Trata-se de chamar o ouvinte a se converter a Jesus para que ele tenha uma vida plena e alegre. Basicamente, o pregador coloca todos os ouvintes sobre o seguinte estereótipo: são todos coitadinhos, vítimas de Satanás e do mundo cruel. São pessoas que vivem chorando porque não encontram um sentido para a vida. Elas tentam ser pessoas alegres com coisas efêmeras, que não funcionam, e então se angustiam mais ainda. Jesus está aqui para preencher esse vazio existencial que há no coração de cada um! Basta convidar Jesus para entrar em seu coração e o ouvinte será cheio da alegria de Deus, e terá uma vida super fofa e cor-de-rosa. Agora, ele não precisará mais dançar em festas, cometer imoralidades, usar drogas e encher a cara para ser feliz, porque Jesus lhe injetará toda a felicidade de que ele precisa. É isso que Pedro diz? Nunca. Veja que toda a exposição que ele faz é centrada em Cristo, e não no homem. Tudo o que ele diz sobre o homem é: vocês são culpados porque crucificaram o Senhor, mataram o autor da vida com a ajuda de homens sem lei. Mas Deus colocou esse mesmo homem como Senhor e Cristo do mundo. Agora, arrependam-se, salvem-se dessa geração corrompida! Ora, o que Pedro está fazendo, e que todos os pregadores bíblicos fazem, mesmo os profetas do Antigo Testamento, é dizer: o problema, querido, não é o mundo, não são as circunstâncias; o problema é você! Você é um pecador. Você cometeu uma ofensa infinitamente maligna, pois ela foi feita contra o Rei infinitamente santo. Você não é vítima de nada. Você é um merecedor da ira de Deus, e ele seria totalmente justo em enviar você para o inferno. A única vítima dessa história é Jesus Cristo, o qual levou sobre si o castigo que você merecia. Irmãos, não há nenhuma maneira de um ouvinte entender o evangelho da graça se antes ele não entender por que ele é indigno dessa graça. Ele deve ouvir na pregação que ele é culpado, indigno, injusto, mau. Se ele não se convencer disso em primeiro lugar, não há como ele ser convencido da graça de Deus. Veja bem: a plenitude existencialista realmente é verdadeira, mas ela é apenas uma consequência da conversão, nunca deve ser apresentada como causa para que ela aconteça. A motivação deve ser: sou um pecador incapaz de me justificar por mim mesmo e preciso totalmente de Jesus para ser aceito por Deus. O que Jesus nos prometeu ao decidirmos segui-lo é: sofrimento, perseguição, autossacrifício, autorrenúncia. Quando essas coisas acabam batendo às portas do ouvinte que se converteu com o motivo de ser feliz, ele fica frustrado, pego de surpresa. E facilmente ele desiste de Jesus. Afinal, aquilo que ele pensava ser o problema não foi resolvido. E o que realmente é o problema continua.

Creio que a grande razão para que pregadores insistam nessas três heresias é: horror ao inferno. A intenção dos pregadores é que ninguém que os ouve vá pro inferno. E eles vão fazer de tudo para garantir que o máximo de pessoas vá para o céu. Eles vão fazer até o que não é papel deles para que isso aconteça. Eles vão até distorcer o evangelho para que ele pareça mais atraente. Pensam que apontar a culpa e a necessidade de arrependimento não é bom porque fecha o coração dos ouvintes. Bem, só no sermão de Pedro, foram três mil os convertidos. Nunca será a vontade de Deus que a qualidade seja sacrificada em favor à quantidade. Lembrem-se de que o inferno é justo. Na verdade, ele a máxima manifestação da justiça crua de Deus, isto é, a justiça sem misericórdia. Se uma pregação é feita com a exposição verdadeira e completa do evangelho, haverá sempre muitos que a rejeitarão e irão para o inferno, e Deus nunca disse que não seria assim. Mas, tenham certeza de uma coisa: os poucos que se converteram serão muito mais frutíferos para o Reino de Deus do que os muitos que se convertem pela metade. E não esqueçamos da advertência severa de Paulo quanto à distorção ou flexibilização do evangelho: “Se alguém, mesmo que seja um anjo do céu, lhes pregar um outro Jesus ou um outro evangelho, que seja anátema”.

André Duarte

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Crítica ao evangelismo contemporâneo:


            Olá, leitores. Quero agora abordar um assunto que muito tem prendido meus pensamentos. Tenho meditado durante toda a minha adolescência e até hoje sobre o problema do evangelismo que se faz hoje em dia. Nas igrejas que frequentei nesse tempo, uma das maiores ênfases que se tem dado é na ordem de evangelizar. Acho que eu ouvi mais pregações sobre esse assunto do que sobre o não usar drogas ou o não fazer sexo :P. Já ouvi pregações moderadas, mas também algumas bem extremistas e radicais, como que insinuando que, se eu não evangelizar cada pessoa que passa por mim, Deus vai me castigar e me colocar a culpa dos outros irem pro inferno. O vídeo tenebroso e herético do “a letter from hell” (encontrado no youtube) foi-me apresentado duas vezes. Entre tantos erros, o maior deles é insinuar que, se alguém que eu conheço vai pro inferno, a culpa é minha, e não dela.

            A maioria das pregações radicais nunca realmente me convenceu. Em primeiro lugar, ficava uma dúvida que ninguém nunca me respondeu, e que eu tive de buscar respostas sozinho: quem é Jesus? Ora, existem ordens e apelos imperativos por parte dos pregadores para que eu “fale de Jesus” pras pessoas. O problema é: como eu vou falar de um Jesus que eu mal conheço? Como vou pregar um evangelho que nem eu entendo direito?­ Infelizmente, a verdade é que o que se ensina sobre Jesus e sobre o evangelho em cultos, pelo menos na maioria das igrejas, é muito pouco para que o aprendiz saiba explicar a sua fé. O público hoje em dia é muito culto e conhece muitas “vãs filosofias”, e simplesmente falar de um Jesus pela metade e de um evangelho emotivo não convence quase ninguém, tampouco recitar um texto decorado em “12 passos”, “5 leis espirituais” ou coisa do tipo. Além disso, também quase nenhuma igreja ensina apologias relevantes para as questões do secularismo de hoje, de forma que, para a vergonha de Cristo, os mundanos mostram-se bem mais inteligentes do que os santos. A ordem do “ide e pregai o evangelho” foi dada a discípulos que ficaram durante três anos ouvindo ensinos do próprio Mestre, não a qualquer um a qualquer hora.

            Então eu me dei conta de que o evangelho apresentado hoje em dia tem sérias falhas justamente por dois motivos: um é esse, o do desconhecimento de Jesus até mesmo por parte dos crentes, e o outro é a supremacia da quantidade sobre a qualidade. Esse problema tem implicações tão profundas e numerosas que eu terei de apresentar melhor em outros posts. Basicamente, podemos dizer que o avivamento da passagem do século XX para o XXI, do qual um dos maiores pregadores foi Dwight Moody, acabou saindo de controle e produzido evangelistas que pregam de maneira totalmente contrária à de Jesus. Sabe a oração de confissão, um elemento tão sagrado que é quase impossível para as igrejas renovadas imaginar um evangelismo sem ela? Pois é, ela é uma novidade criada por Dwight Moody e mundialmente popularizada por Billy Graham. Ela pode até ter servido para os propósitos desses dois pregadores itinerantes, que falaram a dezenas de milhões de pessoas (sem contar pela TV, no caso de Billy Graham), mas ela é extremamente prejudicial e indutora a heresias e falsos convertidos. Em outros posts, vou explicar melhor os problemas dela e do apelo que a acompanha.

            Só pra não dizer que este post foi apenas uma introdução, quero comentar dois textos bíblicos que tornaram-se dos mais populares por causa do seu uso em evangelismo, e é um uso inadequado, ou, no melhor dos casos, impreciso. O uso errado é consequência da filosofia da oração de confissão: se uma pessoa fizer uma oração dizendo que aceita Jesus no coração e que entrega a sua vida a ele, está salva. Por extensão, se é dessa forma que as pessoas são salvas, é crucial que, no evangelismo, essa oração seja feita. E, para garantir isso, não é bom apresentar o lado difícil do evangelho – nada de inferno, juízo e santidade – mas apenas o lado bonitinho – amor e salvação – para que o ouvinte não se receie.

            O primeiro é o “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, entrarei em sua casa e cearei com ele”. Esse texto tem sido apresentado como aquele que sanciona a oração de confissão: Jesus bate à porta do coração do descrente (um Jesus tão educado, nem parece aquele que virou as mesas dos feirantes do templo) e, se o descrente convidar Jesus para entrar em seu coração, então Jesus entrará e trará alegria ao seu coração. Em outro post, comentarei a terrível motivação do “trazer alegria” para que o descrente se converta.

            Bem, esse versículo está sendo usado totalmente fora de contexto, tanto textual quanto histórico. Vou ser curto e grosso: Jesus está falando à Igreja de Laodiceia, e não a descrentes. A porta à qual Jesus se refere não é a porta do coração (quando eu mostro que a palavra coração não aparece, muita gente faz aquela cara de “My whole life is a lie!”), mas sim a porta da casa na qual a Igreja estava reunida. Sim, igrejas antes de Constantino se reuniam todas em casas, com portas comuns. E o cear do qual Jesus falou não é uma metáfora para a alegria, e sim a ceia mesmo, que a Igreja fazia sempre e que era muito mais importante nessa época do que a ceia simbólica que se faz hoje nas igrejas protestantes. Não há nada de misterioso e metafórico nesse texto. Jesus estava corrigindo a Igreja de Laodiceia, que havia se tornado extremamente mecânica e sem espiritualidade. Ela realizava as reuniões (sempre com a refeição da ceia) com espírito de soberba, com ostentação de bens e mente mundana, dispensando totalmente a presença de Jesus, sendo que a ceia deveria ser feita “em memória de mim” e “anunciando a morte do Senhor até que ele venha”. A interpretação do texto é essa. Nada de fazer uma oração convidando pra Jesus entrar no coração para então ficar alegre pelo resto da vida.

            O outro texto é o “Venham a mim os cansados e de espírito quebrantado, pois sou manso e humilde de coração; o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. O erro não é tão técnico, mas é mais profundo. Muitas vezes eu já vi o uso desse texto para fazer apelos à conversão. Bem, em primeiro lugar, esse é apenas um dos muitos textos em que Jesus chama seguidores, e é provavelmente o único em que ele é “bonzinho” assim. Em todos os outros, Jesus faz advertências sérias, e eles não podem ser ignorados por evangelistas. Em segundo lugar, é necessário identificar quem é o tal cansado e de coração contrito. Os evangelistas identificam com essa definição  as pessoas tristes e coitadinhas, que sentem um vazio no coração (“do tamanho de Jesus”) e que não aguentam as dores da crueldade da vida. Elas precisam então aceitar Jesus para serem felizes e autorrealizadas. Só que a definição de Jesus não é essa. Quando ele diz no sermão “do monte” “Felizes os pobres de espírito, pois deles é o Reino do céus”, ele se refere aos humildes. Durante o ministério de Jesus, as pessoas que geralmente se arrependiam e o seguiam eram prostitutas, cobradores de impostos e bêbados. Mas esses seguidores só seguiam Jesus após se arrependerem e reconhecerem quão pecadores são, e quão dependentes do Messias eles são. Zaqueu foi um que devolveu o quádruplo do que roubou. Aquele que é “justificado diante de Deus” é o que ora “Senhor, tenha misericórdia de mim, pois sou pecador”. O evangelho de Lucas está cheio de exemplos. O ponto é que ninguém deve seguir Jesus sem reconhecer a maldade própria, sem se humilhar. Os evangelistas estão esquecendo disso. Eles fazem o ouvinte pensar que eles já são humildes o suficiente por acharem que o problema está na vida dura e que eles precisam de Jesus para serem felizes. Mas, se o ouvinte não identificar que o problema está nele mesmo, que ele é o pecador, ofensor e filho da ira, ele não é aceitável como seguidor de Jesus.

            Vou encerrar o post dizendo o seguinte: ninguém deve evangelizar por medo do castigo, nem para entender-se como justo, nem por obediência à autoridade do pastor. Um fato que passa despercebido é que a ordem de evangelizar foi dada aos apóstolos de Cristo e a todos aqueles a quem o Espírito concedeu o dom de evangelizar (como Paulo). As epístolas são riquíssimas em exortações e mandamentos, mas eu desafio você a encontrar em qualquer delas uma ordem aos membros da Igreja para que eles saiam evangelizando (1Pedro fala sobre a defesa da fé diante dos governantes malvados que interrogam, então não vale). Eles são chamados a mostrar quem são pelo seu bom testemunho. E eles evangelizavam não para cumprir algum mandamento, mas porque o amor ao evangelho transbordava do coração deles sem que eles pudessem contê-lo. E isso nunca vai acontecer em quem não conhecer profundamente a riqueza do evangelho. A Igreja falha, portanto, em ensinar adequadamente o evangelho aos crentes e ao ordenar que eles preguem o evangelho que mal conhecem e que, portanto, não está arraigado fundo no seu coração.

André Duarte

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Até que a morte os una mais ainda


            O texto principal deste discurso é aquele em que Jesus discute sobre o divórcio com os fariseus. Vamos ver, mais uma vez, o que estava por trás das intenções dos seus interlocutores e a maneira como Jesus responde.

            Na época de Jesus, existiam duas escolas farisaicas principais e opostas: uma era a do rabino Hilel e a outra era do Shammai. A escola do Hilel era a teologicamente mais liberal; a do Shammai era a mais rígida. (No futuro, o judaísmo preferiu por seguir os ensinos de Hilel.) Com relação ao divórcio, Hilel ensinava aquilo que os fariseus perguntaram a Jesus: que o homem pode se divorciar de sua mulher por qualquer motivo. Shammai ensinava algo parecido com o que Jesus respondeu: o homem não pode se divorciar de sua mulher de forma alguma, exceto em caso de adultério. O que os fariseus queriam saber era de que lado Jesus estava. Queriam que Jesus resolvesse esse conflito doutrinário.

            Jesus, amante das Escrituras como era, disse aos fariseus que eles não precisavam escolher partidos, pois a resposta estava na Lei. Esses homens ficaram tão enredados em suas tradições sagradas que se esqueceram daquilo que realmente importava, que é a revelação de Deus. E nós também fazemos assim. Como cristãos pertencentes a igrejas institucionais, por vezes ficamos tão apegados à teologia reinante em nossa igreja que deixamos de lado os ensinos vindos do próprio Deus. É necessário não colocar doutrinas de nosso líder ou de nossa igreja favorita lado a lado com os mandamentos de Jesus. Nossa base do conhecimento sobre Deus é o que Cristo nos ensinou, não o que humanos decidem. Nem sempre é fácil distinguir ambos, e nem sempre temos força para rever nossos paradigmas, mas a graça de Deus é poderosa para atuar em nós, levando-nos à verdade e à maturidade.

            Quando Jesus declarou que a luz para o problema estava nas Escrituras, os adeptos de Hilel ficaram felizes, pois sabiam que Deus havia dado uma lei através de Moisés segundo a qual o divórcio era permitido se “o homem não se agradasse de sua mulher”. Jesus, no entanto, explica que essa lei foi dada pela grande misericórdia de Deus em ensinar um povo caído na medida de sua queda. E essa interpretação não era imprevisível para os judeus, pois o profeta Malaquias – o qual, como os outros profetas, estava preparando o povo para a revelação da graça – declarou a palavra de Deus “Eu odeio o divórcio; portanto, sejam fieis à esposa de sua juventude”. Bem que Paulo disse que “a lei não foi dada aos justos, mas aos pecadores e transgressores”. O padrão para a vontade de Deus encontra-se na era antes da queda, no primeiro propósito de Deus para o homem: que o homem e a mulher se unirão e serão uma só carne. Essa cláusula não é uma explicação sobre o que havia no Éden – afinal, a parte do “deixar pai e mãe” era impossível para Adão e Eva -, mas é uma lei que Moisés estava dando ao povo, a verdadeira lei sobre o casamento fundamentada na ordem paradisíaca em que Deus criou o primeiro casal. Assim, essa lei mosaica tem uma clara primazia sobre a lei citada pelos fariseus de Hilel. Eles estavam, pra variar, relativizando a palavra de Deus para atender às suas próprias pretensões, que são claramente julgadas como contrárias à vontade de Deus, segundo a explicação de Jesus.

            Jesus Cristo contrariou claramente a opinião dos adeptos de Hilel. Mas, e quanto aos de Shammai? Jesus parece ter concordado com estes, já que declarou a exceção única do adultério para o divórcio. De fato, a conclusão é igual, mas Jesus denuncia também o erro deles em seu método. Os judeus de Shammai baseavam sua teologia na tradição dos anciãos, e Jesus, nas Escrituras. Mesmo que a conclusão tenha sido a mesma, os meios para se chegar a ela foram diferentes, e Jesus deseja que a revelação de Deus seja também o fundamento de nossas conclusões. Nós temos muitas noções do que é certo e errado, mas a nossa base deve ser sempre a declaração de Deus, pois é dele que procede toda a justiça e a moral, e não dos homens. Nisso nós também falhamos, mas Jesus amou totalmente as leis de Deus e nunca se deixou enganar pelos homens. Ele pode nos dar a graça de fazermos o mesmo.

            O que podemos aprender sobre o casamento com base em Jesus? Bem, ele mostrou, através da lei referente à criação primitiva, que o casamento é uma união completa e realizada por Deus. Existem diversos textos nas cartas que falam sobre a santidade do casamento, mas nenhum é mais sublime do que a declaração aos efésios: “Homens, amem suas mulheres como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela” e “mulheres, sujeitem-se aos seus maridos como a Igreja se sujeita a Cristo”. Se os casais realmente entendessem isso, não precisariam de mais nada. A aliança que o homem tem com a mulher deve seguir a aliança que Jesus fez com a Igreja. Jesus Cristo não apenas ensinou sobre o casamento, mas ele se fez o verdadeiro e perfeito noivo de nós, a Igreja. A sua vida autossacrificial e sua entrega de si mesmo por puro amor é a perfeita consumação da sua aliança conosco. Não precisamos decorar regras para o casamento, mas precisamos olhar para Cristo. O casamento ideal é aquele que reflete o casamento do Cordeiro com a sua noiva.

            Podemos aprender também que a fidelidade é tão essencial que a falta dela é a única brecha para que Deus desfaça um casamento. Mas o casamento de Jesus Cristo é ainda melhor. Ele nunca, jamais anulará a sua fidelidade a nós. Paulo disse a Timóteo “Se somos infiéis, ele permanece fiel”. Nada pode nos separar do amor pactual de Deus. Não há divórcio entre Jesus e a Igreja. E é bom lembrar que Jesus Cristo nos ensinou que a fidelidade não está apenas em atos, mas também no desejo e nas intenções do coração. Mesmo o seu coração esteve voltado inteiramente para o seu amor à Igreja. Quando seduzido pelas riquezas que Satanás lhe ofereceu, ele resistiu, mantendo a fidelidade em seu foco. Chegando em Jerusalém pela última vez, ele diz “Está chegando a minha hora, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não, pois foi para isso que eu vim”. Em sua glória no céu, em seus passos na terra, em seu espancamento pelos romanos, em sua suspensão na cruz e em sua ascensão de volta à glória, não houve um só minuto em que o coração de Jesus se desviou de nós. Sua fidelidade perfeita nos dá o movimento de sermos também inteiramente fiéis a ele e aos cônjuges terrenos que tivermos.

            O terceiro aspecto em que o casamento de Jesus é superior é a sua eternidade. A própria Lei de Moisés já nos dizia que o casamento só vale para as pessoas enquanto estão vivas, de forma que uma viúva pode de casar de novo sem ser adúltera. Paulo usou essa ilustração para explicar que, pelo fato de estarmos mortos para a Lei, nosso “casamento”, ou aliança com ela já findou. Temos agora uma aliança melhor, gloriosa e eterna, e aguardamos ansiosamente pela consumação dessa aliança. Hoje, a Igreja está como noiva de Cristo, isto é, prometida a ele em casamento. Essa promessa nos foi garantida pela marca do Espírito Santo (eu diria que o Espírito Santo é como a aliança de prata de noivado que os noivos usam), e o casamento ocorrerá quando o nosso Amado voltar para nos buscar, quando ele destruir a morte e instaurar o seu reino eterno. Se, para o casamento terreno, a morte é o que o destrói, o casamento com Cristo é justamente selado após a morte. Por isso, estamos expectantes na promessa, ansiosos para o belíssimo casamento celestial, quando nos uniremos ao Senhor Jesus para todo o sempre.

         André Duarte