Depois de aprender com Tim Keller que “one does not simply writes
a theological article without presenting the gospel of Jesus”, vou mostrar
agora como Jesus Cristo, o sujeito e o assunto do evangelismo, pregava sobre si
mesmo e respondia às questões do povo. (O trocadilho do título foi até mais
adequado que o do post anterior :P)
Quanto ao
ponto do apelo, Jesus faz como Pedro: ele chama ao arrependimento. Para Jesus,
não há a menor chance de alguém tentar segui-lo sem que esteja profundamente
convicto da própria perdição e da vida eterna imerecida que o Senhor dá. Quando
ele ouve notícias de que Pilatos assassinou alguns galileus, ele diz “Vocês
acham que esses que morreram eram mais pecadores que os outros, por terem
morrido? Não! Mas, se vocês não se arrependerem, também perecerão”. Jesus tinha
de dizer isso sempre, porque havia muita divergência de opiniões sobre quem ele
era – assim como há hoje. Ele tinha de deixar claro que ele veio chamar
pecadores ao arrependimento, e não aqueles que já se acham justos. Ele deseja
destruir a justiça própria que há em cada um para que só então essa pessoa o
siga. E as pessoas que dizem entregar a vida a Jesus só porque se sentiram
emocionadas no momento ou porque desejam ser mais felizes não mudaram em nada a
autoidolatria.
Outro ponto
que eu quero salientar é que Jesus sempre falava, além do arrependimento, em
uma regeneração espiritual. Hoje em dia, basicamente fala-se sobre uma
regeneração emocional – você vai ser mais feliz e pleno –, comportamental –
você não vai mais precisar beber, se drogar ou se prostituir – ou intelectual –
você terá acesso aos verdadeiros conceitos sobre a vida e o mundo. Jesus aponta
para uma mudança lá no fundo do coração, algo que é crucial e tem como
consequência a regeneração emocional, comportamental e intelectual. É algo que
não pode ser nomeado por palavras assertivamente descritivas, mas que a Bíblia
chama de espírito. É a natureza pecaminosa sendo subjugada pela natureza
espiritual. É o homem carnal tornando-se o homem espiritual, o adorador de si
mesmo tornando-se um adorador do verdadeiro Deus. A metáfora que Jesus usa com
Nicodemos é o nascer de novo. Para se fazer entender ao povo, Jesus usa figuras
que demonstram a insuficiência do homem ao tentar agradar a Deus e a total
dependência que ele tem de Cristo. Eu tenho postado aqui no blog alguns
exemplos de como Jesus retira o ídolo que há no ouvinte para colocar a si
próprio nesse arquétipo. O que podemos fazer para realizar essa tarefa tão
complicada que mal pode ser explicada? Pregar dessa forma como eu tenho
descrito, a forma como Jesus prega. O entendimento espiritual será dado pelo
Espírito Santo, mas a pregação correta é nosso dever.
Outro
ponto: Jesus prometia vida eterna para quem o seguisse. Mas, até que venha a
dimensão do eterno, só tem coisa ruim, ruim para quem é carnal e não foi
regenerado. Autossacrifício, autorrenúncia, perseguição, sofrimento! Isso ficou
claríssimo quando ele se comparou ao maná. A primeira multiplicação dos pães é
uma história que aparece em todos os evangelhos, mas só o de João dá o
desfecho. Depois que a multidão faminta fica maravilhada com o milagre de
Jesus, ele começa a dizer “Então, pessoal, a coisa não é tão simples assim. Eu
não sou uma mera fonte de sustento e alimento. Eu mesmo sou esse sustento. Vocês
comem esse pão feito por milagre achando o máximo, e também leem que os seus
antepassados comeram o pão do céu achando maravilhoso. Mas a verdade é que o
verdadeiro pão do céu sou eu. Não adianta vocês ficarem vindo atrás de mim para
que eu faça pães, vocês precisam reconhecer que o pão que os satisfaz
totalmente sou eu. É de minha carne e meu sangue que vocês devem se alimentar”.
Alguns detestaram essa metáfora, confundindo com canibalismo, mas grande parte
do povo entendeu o que aquilo significava. Infelizmente, há milhões de crentes
que estão seguindo Jesus atrás do pão que ele dá, e não do pão que ele é.
Quantas pessoas você conhece que se tornaram dependentes da liturgia animada e
cheia de autoajuda nos domingos? O evangelho de autoajuda e motivação
existencial é esse falso evangelho que diz “Siga Jesus, e ele lhe dará o pão”.
O pão que Cristo dá é ele próprio; a vida, a morte, a ressurreição e o envio do
Espírito Santo regenerador e paráclito, é isso que ele nos oferece para termos
uma vida abundante. Mas esse é o ponto que toca, mais uma vez, na remoção de um
ídolo da alegria fácil em nosso arquétipo e preenchê-lo com Jesus. A pregação
de um evangelho com motivação existencial e só com a parte bonitinha faz do
ouvinte alguém que segue Jesus para que Jesus ofereça para ele algo que dá a
felicidade da vida, nem que seja um algo abstrato (porque mencionar a teologia
da prosperidade aqui seria muito mainstream :P). É necessário que paremos de
achar que Jesus veio fazer ou dar alguma coisa que não seja ele próprio, pois
ele é tudo. Ele é o caminho, a verdade, a vida, a ressurreição, a água, o pão;
todo o resto pode ser permeado de problemas e sofrimentos e não há nada de estranho
nisso.
Vinculado a
esse ponto, existe o aspecto da pregação de Cristo de “one does not simply follow
me”. Havia milhares que pediam para seguir Jesus, e ele não deixava. Que
contraste com o que se faz hoje. Hoje, nós praticamente tentamos fazer todo o
possível para um descrente crer; Jesus fazia todo o possível para que ninguém o
seguisse a menos que quisesse isso mais do que tudo na vida. Nessa mesma
história do pão, a multidão abandona Jesus, e ele não vai atrás dela. E ele
ainda vira aos discípulos e diz “E vocês, estão esperando o quê para ir
embora?”, e Pedro diz “Senhor, tu és o santo de Deus que tens as palavras da
vida”. Certa pessoa queria seguir Jesus
achando que estaria tudo bem, e ele diz “Até os animais têm suas casas, mas eu
nem tenho onde dormir. Você não tem condição de vir comigo, tchau”. A outro
Jesus disse “Siga-me e deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos”. A
outro que quis seguir Jesus só depois de despedir-se dos seus pais, o Senhor
diz “Quem põe a mão no arado e olha para trás não pode entrar no Reino dos
céus”. Jesus quer filtrar ao máximo quem realmente pode segui-lo. Seguir Jesus
é muito mais difícil do que seguir Elias – pois, quando Eliseu pediu para
despedir-se de sua família antes de seguir Elias, este disse que tudo bem. A
situação também faz lembrar aquela em que Josué renova a aliança sinaítica com
os israelitas. Ele diz “Escolham a quem vocês seguirão, mas eu e minha família
serviremos ao Senhor”. O povo diz “Seguiremos o Senhor”, e Josué diz “Vocês não
tem condição de servir ao Senhor! Ele é santo!”. Outras advertências de Jesus:
“se alguém ama pai, mãe, filho ou esposa mais do que a mim não pode me seguir”,
“só terá a vida aquele que a perder por minha causa e carregar a sua cruz todos
os dias”. Jesus não permitirá que alguém o siga antes de renunciar aos seus
ídolos e converter-se a Jesus para que ele seja o agente que remove os ídolos
diariamente. A pregação fácil que se faz hoje, com uma simples oração de
confissão e a motivação existencialista, atrai muitos números, mas a maioria
desses números é falsa, porque tais métodos são ineficazes para atingir o
problema dos ídolos.
Por fim,
Jesus também fala muito sobre o inferno. Quantas vezes eu já tive de ouvir que
eu não podia falar de Jesus pra alguém mencionando o inferno, para não
assustá-la! Jesus deve ter sido muito errado então em falar do inferno tantas
vezes para os ouvintes coitadinhos. :P Ele diz “se algo faz você pecar, corte-o
e jogue-o fora; é melhor entrar mutilado no céu a entrar inteiro no inferno” ou
“Temam não os homens que só podem matar o corpo, mas sim aquele que pode
destruir corpo e alma no inferno”. E todas as parábolas em que o infiel é
atirado no fogo e nas trevas onde há choro e ranger de dentes? Sim, falar da
eterna condenação é importantíssimo. É necessário que o ouvinte saiba o que ele
merece por ter pecado contra Deus. O ouvinte precisa saber que Jesus teve de
passar por uma condenação infernal para salvar aqueles que eram merecedores
dela. Quanto mais for ressaltada a justiça punitiva de
Deus, maior será o entendimento da
justiça graciosa e amorosa. Na pregação, deve haver a apresentação de ambos. A
santidade e justiça punitiva de Deus sozinhas criam pessoas cheias de medo e
paranoia; a graça e o amor de Deus sozinhos criam pessoas relaxadas e
relativistas. Jesus não apenas pregou sobre ambos os aspectos, mas viveu o
aspecto da condenação para que tivéssemos acesso ao aspecto da graça. E, se
alguém rejeita essa graça por meio de um relativismo ou legalismo, a condenação
ainda paira sobre ela.
Agora,
queridos, é o momento de fazer uma autoanálise. Decida se vai continuar
seguindo uma tradição de 100 anos que teve como resultado esse cristianismo
fácil e relativista ou se vai amoldar-se ao padrão de Cristo. E lembre-se, você
pode viver como Cristo porque ele já viveu como você. Ele se tornou um pequeno
humano para que você possa se tornar um pequeno Jesus.
Beijo pras mina e
abraço pros mano.André Duarte
Mano, to acompanhando e curtindo demais!! Digo
ResponderExcluir