quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Hino Cristológico de Colossenses




Le me, fazendo meu comentário sobre a carta aos colossenses, quando fui “obrigado” a escrever sobre o belíssimo hino cristológico que aparece no começo da carta. E pensei, que tal publicar esse pedaço no blog Resenha de Deus?

Creio que a verdade declarada por Paulo nesse hino é de alta relevância para a atualidade, especialmente devido à moda pentecostal e neopentecostal da Igreja em seus últimos 106 anos. Igrejas modernas tendem a diminuir a importância e o poder de Cristo para deslocá-la sobre outros poderes espirituais. Muitas vezes, temos uma ênfase além da medida canônica em Satanás, demônios, guerra espiritual. A herege teoria da brecha é um exemplo disso: se você, mesmo sendo salvo e pertencente à autoridade de Jesus, pecar, então você abre uma brecha em certa área da sua vida para Satanás entrar e fazer a festa que ele quiser. Ou então a pseudo-teologia do livro “Este mundo tenebroso”: anjos e demônios vivem numa guerra em que a Trindade não faz nada, e o determinante da vitória angelical é a quantidade e a frequência das orações dos crentes. É quase como uma ciência exata controlável pelos homens.

A situação da Igreja de Colossos era bem parecida. Devido a um incipiente sincretismo entre judaísmo, gnosticismo e as religiões de mistério, os crentes de Colossos começaram a temer a influência de demônios em determinadas leis cerimoniais e a pensar que precisavam galgar níveis espirituais até chegarem ao nível dos anjos, e em tal hierarquia Jesus era apenas mais um dos poderes. E, para tanto, êxtases espirituais eram necessários, bem como a observância de rituais e práticas ascéticas. (Hispter colossenses, neopentecostalists before it was cool)

Paulo responde ressaltando a supremacia de Cristo. E, bem, quem quiser o estudo completo da carta terá de me pedir depois. Relax, ainda estou fazendo. Mas o hino cristológico eu já acabei, e é o que se segue:

“E então começa um dos mais belos hinos cristológicos da Bíblia. É uma declaração da soberania e suficiência de Cristo em todos os aspectos da criação. Ele é declarado a imagem do Deus invisível. Jesus é o humano visível e palpável no qual todo o ser do eterno Deus está revelado. O autor da carta aos hebreus diz que Jesus é a expressão exata do ser de Deus; Jesus diz a Filipe “quem vê a mim vê o Pai”. A encarnação de Deus no homem Jesus preenche a lacuna que havia entre o espiritual e o material e satisfaz a vontade humana de adorar uma imagem. É o perfeito elo entre o Deus eterno e o homem limitado, frágil e defeituoso. É o Deus imaterial tornando-se material para alcançar aqueles que, devido à sua materialidade, são incapazes de atingir o imaterial.

            Ele é chamado também de primogênito de toda a criação. Não significa que ele foi a primeira criatura de todas, como queriam os arianos, mas que ele é anterior à criação, “gerado e não criado”, como diz o credo niceno. Os anjos são criaturas de Deus, mas, ao contrário do que os colossenses pensavam, são exatamente por essa razão imensamente inferiores àquele que já era antes que tudo fosse criado. Mais uma vez, o autor da carta aos hebreus dirá que Deus diz algumas coisas boas a respeito de anjos, mas apenas a Jesus Cristo ele diz “Eu serei o seu Pai, e tu serás meu Filho”, “Tu és o meu Filho e hoje te gerei”. Primogênito também significa que Cristo tem todos os direitos da primogenitura. Sendo o Pai o dono de toda a criação, Jesus Cristo, por ser o primogênito, é herdeiro de tudo o que o Pai possui – como ele disse, “toda a autoridade me foi dada na terra e nos céus”. Essa ideia está ligada ao que se segue:

Nele, para ele e por ele foram criadas todas as coisas. Não há poder algum na terra ou no céu que seja páreo para Jesus, pois foi ele quem criou todas as autoridades. Os colossenses não precisam mais ter medo de demônios ou de anjos, pois eles são meras criaturas de Cristo, as quais não apenas foram criadas por ele, mas também para ele, isto é, para lhe pertencerem e lhe serem submissas. O único verdadeiro e real poder é o de Jesus. Ele foi colocado pelo Pai como o rei à sua direita, para que reine sobre a terra derrotando os seus inimigos até o último, que é a morte (como Paulo explicou aos coríntios). Jesus Cristo é o logos de Deus, criador do universo. Ideia essa mais explicada por João, Cristo é o logos de Deus que criou o mundo quando o Pai proferiu a viva palavra “Haja luz”. Ele é também, como diz a carta aos hebreus, aquele que sustenta todas as coisas pela sua palavra poderosa, o que tem relação com a ideia grega sobre o logos. Cristo é, portanto, a Palavra de Deus que criou – “por ele” -, sustenta em ordem e sentido – “nele” – e reina soberanamente sobre todas as coisas – “para ele”. Ou, como a frase seguinte resume: ele é antes de tudo e nele tudo subsiste. Se Deus retirasse a sua presença do universo, tudo seria um inimaginável caos.

Além de ser o Senhor do universo, Jesus é também o Senhor dos cristãos em uma relação mais íntima. Ele é a cabeça do corpo, que é a Igreja. Aqui, a ênfase não é tanto na metafísica da Igreja, mas sim na soberania de Cristo sobre ela. Ele é a pedra angular, o fundamento, a fonte da existência e da orientação eclesiástica. Ele é a luz que a Igreja deve refletir e o Deus que ela deve adorar e de quem deve depender para tudo. Paulo indicou aos coríntios que os anjos, de alguma forma, têm participação na Igreja, mas a carta aos hebreus os chama de “espíritos ministradores”. Anjos não são poderes para serem temidos e obedecidos pela Igreja, mas são adoradores do verdadeiro Senhor conosco. Somente Jesus Cristo é o chefe da Igreja.

Tendo o ponto de ser o cabeça da Igreja como ponte, Paulo coloca aqui a glória de Cristo em sua obra redentora. Ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos. Não que ele tenha sido o primeiro humano da história a voltar dos mortos. Temos como exemplos as crianças que Elias e Eliseu ressuscitaram, o morto que caiu nos ossos de Eliseu, e inclusive aqueles que Jesus ressuscitou, dos quais temos o registro de um filho de uma viúva em Naim e Lázaro. Mas a ressurreição da qual Paulo fala é outra. Não é apenas o voltar da morte para a vida comum, mas sim a grande ressurreição final, em corpos divinos, para a vida eterna no paraíso, profetizada por Daniel. Essa ressurreição ocorrerá a todos os santos que tiverem morrido quando o Senhor voltar, mas somente porque o próprio Cristo já a realizou em si mesmo. O Senhor foi o primogênito dentre os mortos. Ele foi o primeiro, o iniciador da ressurreição gloriosa. Mais uma vez, o fato de ele ter sido o primogênito lhe dá todo o poder e a autoridade sobre os seus irmãos mais novos que morrem e ressuscitam com ele, tanto no batismo da conversão como na realidade que virá; Cristo é o Senhor da morte e da vida. A frase que conclui essa ideia é “para que em tudo tenha a supremacia”. Jesus é o dono de toda a criação no estado presente e de toda a recriação que está por vir; da terra corrompida e da terra paradisíaca; do presente e do futuro; do tempo e da eternidade.

A supremacia de Cristo lhe foi dada por Deus Pai. Como disse Jesus, “o Pai ama o Filho e lhe entregou todas as coisas”. Deus quis que, no Filho, toda a divindade fosse revelada e exercida para reconciliar todas as coisas. O pecado do homem causou a queda não só da humanidade, mas de toda a criação, inclusive a criação angelical. O sacrifício de Cristo feito na cruz estabelece a paz entre toda a criação e o Criador. Não nos é explicado como isso ocorre aos anjos e ao universo, mas aos homens o evangelho da reconciliação é proclamado para que eles possam nascer de novo como adoradores de Deus. A obra do logos divino encarnado foi feita para transformar o caos em ordem através da união da criação ao Criador e, assim, tornar-se o soberano de tudo.” 

André Duarte

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