Pinóquio sai, no dia seguinte,
para a escola. Supostamente, ao ir para a escola, ele aprenderia a ser um
menino de verdade. Entretanto, no meio do caminho, ele é interrompido por dois
sujeitos, João Honesto e Gideão. Tais nomes dão aparência de retidão e, por
isso, são adornos adequados à natureza enganosa desses sujeitos. Quando
Pinóquio é abordado por eles, o Grilo não está presente, ficou atrasado. Isso
reflete o fato de que a atuação da consciência é tardia e, portanto, sua
atuação é potencialmente fracassada. Primeiro, vem a tentação e o desejo pelo
pecado, depois vem a consciência para apenas falhar.
O que
queriam os dois tentadores? Proveito próprio, em primeiro lugar, pois venderiam
o boneco de madeira vivo para Strombolli, apresentador de shows de marionetes.
O discurso para Pinóquio é mentiroso. Dizem eles que o boneco irá para o
“caminho fácil para o sucesso”, o qual, como diria Jesus, leva à perdição e
muitos entram nele. Esse tipo de tentação eleva o coração da criatura até o seu
próprio céu, ativando o orgulho e o desejo pela superioridade. Foi o mesmo
desejo que a serpente colocou no coração de Eva: “serás como Deus”. Esse largo
caminho leva ao prestígio e à admiração pública, com todos os benefícios que
apetecem a um coração autoidólatra. O boneco aceitou a proposta. E o que fez o
Grilo? Apenas repetiu a regra para Pinóquio: não pode ir para o teatro, deve ir
para a escola. A consciência primitiva é aliada da Lei. Ela conhece a Lei e usa
a Lei contra o pecado, mas falha justamente porque o coração humano jamais pode
se submeter à Lei. Pois a Lei é espiritual e o coração é carnal. Assim,
Pinóquio abandona o Grilo, mesmo após ser lembrado da regra por ele.
Devido à
aquisição do objeto da vontade de Pinóquio, com todo o dinheiro, aplausos e
sucesso, o Grilo o abandona, dizendo “Acho que ele não precisa mais de mim.
Afinal, o que um ator vai querer com uma consciência?” Quando o pecado é
consumado e cumpre as suas expectativas, a voz da consciência some. Como diz
Paulo em Romanos 1, Deus colocou a humanidade numa disposição mental
reprovável. Com o abandono da consciência, Pinóquio só pode contar consigo
mesmo. Tal é o estado do homem dominado pelo pecado: já desprezou consciência
divina sobre o certo e o errado e confia apenas em si mesmo. E então a ilusão
de certidão é destruída pelas consequências reais e inevitáveis do pecado:
Pinóquio é preso por Strombolli e toma conhecimento de que morrerá na fogueira
após servir ao seu propósito. Assim são todos os escravos do pecado: fazer a
vontade do diabo e depois serem jogados ao fogo. O transgressor provou do doce
fruto proibido por um instante e, em seguida, foi amaldiçoado e expulso do
paraíso, da vida eterna.
Existe
alguma esperança? Certamente que sim, mas não do próprio pecador. A figura do
Pinóquio engaiolado é perfeita para descrever o estado do homem caído. Ele não
pode fazer absolutamente nada para se salvar. Qualquer esforço será inútil. O
auxílio precisa vir de fora. Quem estava fora? Em primeiro lugar, o próprio
Geppetto, que sai em busca de seu filho, tal qual o pastor sai em busca de sua
ovelha perdida (Lucas 15). A busca de Geppetto é um bom paralelo bíblico, mas o
seu resultado não. Ele procura incansavelmente e não encontra Pinóquio, que é
um desfecho diferente do que aprendemos na Bíblia. Entretanto, os outros
significantes de Deus conseguem ajudar Pinóquio. O primeiro a encontrá-lo foi o
Grilo. Ele preferiu ir se despedir do boneco, mas o descobriu preso. Ora, o
Grilo é a consciência instituída e abençoada pela Fada Azul. Ele não pode ser
derrotado apenas pela rebeldia do boneco. Assim é o homem pecador, que, por
mais que se rebele contra Deus e se convença da certidão do seu pecado, jamais
poderá sufocar completamente e eternamente a consciência divina, pois ele
continua sendo imagem e semelhança do seu Criador. Entretanto, por mais que o
Grilo se preocupasse, nada poderia fazer para libertar Pinóquio, mas apenas
para servir-lhe de ensino, como o guardião da Lei. Da mesma forma, a
consciência divina, por mais que lhe seja dada importância, é inoperante para a
redenção. Como Paulo coloca em Romanos 2 e 3, o conhecimento da Lei e da
vontade de Deus apenas ressaltou e esclareceu a transgressão, mas não regenerou
o transgressor. Pinóquio chega ao entendimento do seu pecado ao conversar com o
Grilo, mas continua preso.
A ajuda
espiritual eficaz para a libertação vem com a intervenção da Fada Azul. Embora
o grande ícone de Pinóquio seja o seu nariz que cresce a cada vez que mente,
não creio que seja possível ao pecador confrontado pelo próprio Espírito Santo
mentir a ele depois de ter concordado com a consciência e antes que cumpra o
seu destino de ser salvo. Aqueles que mentem ao Espírito Santo, como Ananias e
Safira (Atos 5), jamais se importaram com a sua consciência, e o seu destino é
a destruição. Todos os personagens bíblicos que se encontraram com uma tremenda
visão de Deus ficaram tão pasmos que só conseguiam se ajoelhar e adorá-lo. Que
pena dar esse tratamento desprezível à cena mais famosa
do personagem :P. De qualquer forma, o papel da Fada é fazer o impossível. Ela
abre a gaiola e liberta Pinóquio. Diz ela que essa é a última vez que o
ajudaria. Na verdade, não foi a última, pois ela também revelou ao boneco sobre
o paradeiro de Geppetto, cena mais posterior do filme. Creio que ela disse isso
apenas para que o boneco não fosse leviano em suas próximas provações. Assim é
com Deus, que não aceita ser zombado e não pode ser controlado. O ponto é que a
Fada libertou Pinóquio de uma forma sobrenatural, mudando o curso estabelecido
pelo dominador da história, Strombolli. Com a graça soberana da Fada, Pinóquio
está livre para tentar de novo.
To be
continued.
André Duarte
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