terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Arrebatamento: um entendimento deixado para trás...


           

            Nos últimos anos, tem crescido o número de crentes que acreditam em um arrebatamento pré-tribulacionista. Parte da causa tem sido o sucesso da herege história “Deixados para Trás”, uma obra de péssima hermenêutica do Apocalipse, mas que tem sido considerado canônico por muitos crentes que pouco compreendem sobre o ensino escatológico bíblico. Outra parte, eu penso, é a mentalidade secularista contemporânea que idolatra o conforto e repercute nos axiomas cristãos como triunfalismo e entendimento imediatista da graça.
           
Com a expressão “arrebatamento pré-tribulacionista”, refiro-me ao dogma de que os cristãos serão arrebatados antes da perseguição do Anticristo. Um possível adorno ainda mais errado a esse dogma é que somente os cristãos “realmente santos” serão arrebatados, os “crentes carnais” não. Bem, crentes carnais não existem. Jesus é indivisível (João é o maior defensor disso), e não é possível alguém aceitá-lo como Salvador e não como Senhor. É possível que um crente aja como se fosse carnal excepcionalmente, mas não que tenha uma vida marcada por carnalidade. Todos os verdadeiros cristãos são salvos e participantes da graça de Deus.
           
De qualquer forma, os crentes não serão poupados da perseguição promovida pelo chamado “Anticristo”. Não há um só texto na Bíblia que afirme o contrário, enquanto há muitos que confirmam isso. Creio que parte da incompreensão advém de um entendimento confuso sobre as maldições do Apocalipse. Acho que muita gente não sabe separar o que é perseguição do Anticristo e o que é praga de Deus contra o mundo ímpio. Veem todos os fenômenos horríveis do Apocalipse e pensam “credo, claro que eu terei sido arrebatado antes disso”. Verdade. Quando Deus executar sua punição final sobre o mundo, os cristãos já estarão no céu, livres da ira. Apocalipse 7 fala sobre o selo de Deus sobre os seus santos, os quais não sofrerão as pragas. Daniel 7 é um texto que organiza bem o pensamento: o rei ímpio perseguirá os santos, depois o Filho do homem voltará, destruirá os perversos e todos os fiéis reinarão com ele para sempre.
           
Mas a perseguição do Anticristo é outra história. Ela virá e será necessária antes do arrebatamento e antes das pragas de Deus. Quem acha que está tudo bem, que será arrebatado e vai ficar em paz, bem, terá uma desagradável surpresa. Ora, a Bíblia está o tempo todo falando de perseguição contra os santos. Os salmos são cheios de imprecações. Os profetas afirmam isso em muitas circunstâncias. Jesus repete isso sempre. E não podemos achar que todas as perseguições da Bíblia são só para aquela época. Veja: os profetas foram perseguidos e mortos pelos israelitas ímpios. Os judeus do Império Grego foram perseguidos por Antíoco IV, conforme as visões de Daniel. Os cristãos foram perseguidos pelos judeus. Depois, em Jerusalém, foram perseguidos pelos romanos quando a cidade foi destruída. No tempo de João, havia perseguição romana da parte do imperador Domiciano. E cada profeta via no grande imperador da época uma figura do Anticristo e o fim do mundo vindo imediatamente depois. E de nenhum desses grandes vilões os fiéis foram poupados. Todos foram perseguidos até que Deus vingou o sangue deles.
           
Por que, eu pergunto, os cristãos do fim dos tempos, do grande julgamento e do cumprimento pleno da representação anticristã seriam poupados? Por que nós, crentes medíocres, receberíamos esse livramento que foi negado aos grandes exemplos da Bíblia? Deus resolveu dar um surto de bênção? Acho mais sensato presumir que foram os crentes quem esqueceram o seu lugar, o que é necessário para entrar no Reino do céu. Historicamente, a Igreja sempre compreendeu que haveria perseguição nos últimos tempos. A crença de que seremos arrebatados antes da perseguição é muito recente, quase tão recente quanto o secularismo a que estamos acostumados. Sei que muitos estão prontos para serem perseguidos no caso de haver algum tipo de veto à liberdade cristã. Mas a situação é mais séria. A perseguição aos cristãos não é uma hipótese, e sim uma certeza. E será a maior de todas.
           
Perdemos a noção do que é sofrer por Cristo. Pensamos que o máximo de perseguição que veremos é a perda de amizades, receber uma injúria aqui e ali. Infelizmente, uma grande massa da Igreja não está pronta para ser perseguida da maneira terrível que será quando o filho da antinomia vier (2Tessalonicenses 2:3). Será alarmante o número de apostasias. Não temos ideia do que é a sensação descrita em Atos 5:41 – “alegres por serem considerados dignos de sofrer por Cristo”. A maior parte da Igreja não é treinada para suportar perseguição, para considerar Jesus o seu único bem. Ouvimos o tempo todo mensagens de vitória, conquista e bênção. Sim, temos vitória, conquista e bênção, mas totalmente distintas daquilo que o padrão mundano considera como tais. Veja, Jesus diz, em seu discurso escatológico, que os dias de tribulação serão abreviados por causa dos eleitos (Marcos 13:20). Não significa que os eleitos não participarão deles, mas que Deus, por sua fidelidade e compaixão, não permitirá que a perseguição seja tão intensa que ninguém suportará – como provou em toda a história. Seremos perseguidos, mas venceremos, assim como Cristo sofreu, morreu, mas ressurgiu em triunfo.
           
            André Duarte
                       
           

             
           

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