Nos últimos anos, tem crescido o número de crentes que
acreditam em um arrebatamento pré-tribulacionista. Parte da causa tem sido o
sucesso da herege história “Deixados para Trás”, uma obra de péssima
hermenêutica do Apocalipse, mas que tem sido considerado canônico por muitos crentes
que pouco compreendem sobre o ensino escatológico bíblico. Outra parte, eu
penso, é a mentalidade secularista contemporânea que idolatra o conforto e
repercute nos axiomas cristãos como triunfalismo e entendimento imediatista da
graça.
Com a
expressão “arrebatamento pré-tribulacionista”, refiro-me ao dogma de que os
cristãos serão arrebatados antes da perseguição do Anticristo. Um possível
adorno ainda mais errado a esse dogma é que somente os cristãos “realmente
santos” serão arrebatados, os “crentes carnais” não. Bem, crentes carnais não
existem. Jesus é indivisível (João é o maior defensor disso), e não é possível
alguém aceitá-lo como Salvador e não como Senhor. É possível que um crente aja
como se fosse carnal excepcionalmente, mas não que tenha uma vida marcada por
carnalidade. Todos os verdadeiros cristãos são salvos e participantes da graça
de Deus.
De qualquer
forma, os crentes não serão poupados da perseguição promovida pelo chamado
“Anticristo”. Não há um só texto na Bíblia que afirme o contrário, enquanto há
muitos que confirmam isso. Creio que parte da incompreensão advém de um
entendimento confuso sobre as maldições do Apocalipse. Acho que muita gente não
sabe separar o que é perseguição do Anticristo e o que é praga de Deus contra o
mundo ímpio. Veem todos os fenômenos horríveis do Apocalipse e pensam “credo,
claro que eu terei sido arrebatado antes disso”. Verdade. Quando Deus executar
sua punição final sobre o mundo, os cristãos já estarão no céu, livres da ira.
Apocalipse 7 fala sobre o selo de Deus sobre os seus santos, os quais não
sofrerão as pragas. Daniel 7 é um texto que organiza bem o pensamento: o rei
ímpio perseguirá os santos, depois o Filho do homem voltará, destruirá os
perversos e todos os fiéis reinarão com ele para sempre.
Mas a
perseguição do Anticristo é outra história. Ela virá e será necessária antes do
arrebatamento e antes das pragas de Deus. Quem acha que está tudo bem, que será
arrebatado e vai ficar em paz, bem, terá uma desagradável surpresa. Ora, a
Bíblia está o tempo todo falando de perseguição contra os santos. Os salmos são
cheios de imprecações. Os profetas afirmam isso em muitas circunstâncias. Jesus
repete isso sempre. E não podemos achar que todas as perseguições da Bíblia são
só para aquela época. Veja: os profetas foram perseguidos e mortos pelos israelitas
ímpios. Os judeus do Império Grego foram perseguidos por Antíoco IV, conforme
as visões de Daniel. Os cristãos foram perseguidos pelos judeus. Depois, em
Jerusalém, foram perseguidos pelos romanos quando a cidade foi destruída. No
tempo de João, havia perseguição romana da parte do imperador Domiciano. E cada
profeta via no grande imperador da época uma figura do Anticristo e o fim do
mundo vindo imediatamente depois. E de nenhum desses grandes vilões os fiéis
foram poupados. Todos foram perseguidos até que Deus vingou o sangue deles.
Por que, eu
pergunto, os cristãos do fim dos tempos, do grande julgamento e do cumprimento
pleno da representação anticristã seriam poupados? Por que nós, crentes
medíocres, receberíamos esse livramento que foi negado aos grandes exemplos da
Bíblia? Deus resolveu dar um surto de bênção? Acho mais sensato presumir que
foram os crentes quem esqueceram o seu lugar, o que é necessário para entrar no
Reino do céu. Historicamente, a Igreja sempre compreendeu que haveria
perseguição nos últimos tempos. A crença de que seremos arrebatados antes da
perseguição é muito recente, quase tão recente quanto o secularismo a que
estamos acostumados. Sei que muitos estão prontos para serem perseguidos no
caso de haver algum tipo de veto à liberdade cristã. Mas a situação é mais
séria. A perseguição aos cristãos não é uma hipótese, e sim uma certeza. E será
a maior de todas.
Perdemos a
noção do que é sofrer por Cristo. Pensamos que o máximo de perseguição que
veremos é a perda de amizades, receber uma injúria aqui e ali. Infelizmente,
uma grande massa da Igreja não está pronta para ser perseguida da maneira
terrível que será quando o filho da antinomia vier (2Tessalonicenses 2:3). Será
alarmante o número de apostasias. Não temos ideia do que é a sensação descrita
em Atos 5:41 – “alegres por serem considerados dignos de sofrer por Cristo”. A
maior parte da Igreja não é treinada para suportar perseguição, para considerar
Jesus o seu único bem. Ouvimos o tempo todo mensagens de vitória, conquista e
bênção. Sim, temos vitória, conquista e bênção, mas totalmente distintas
daquilo que o padrão mundano considera como tais. Veja, Jesus diz, em seu
discurso escatológico, que os dias de tribulação serão abreviados por causa dos
eleitos (Marcos 13:20). Não significa que os eleitos não participarão deles,
mas que Deus, por sua fidelidade e compaixão, não permitirá que a perseguição
seja tão intensa que ninguém suportará – como provou em toda a história. Seremos
perseguidos, mas venceremos, assim como Cristo sofreu, morreu, mas ressurgiu em
triunfo.
André Duarte
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