Este é o meu último post da
minha série sobre Satanás, embora não esgote o assunto. No post anterior,
enfatizei a alta limitação das ações do diabo. Não quero correr o risco de
parecer negligente quanto à sua importância e, agora, exporei a maneira como
Satanás atinge aqueles que não pertencem à sua autoridade. Sistematizarei em
três atos: tentação, acusação e heresias.
O termo
“satanás” não é apenas o nome próprio de um anjo. É uma palavra hebraica que
significa “inimigo” ou “acusador”. A palavra “diabo” significa “caluniador”.
Por toda a Bíblia, vemos que a dinâmica celestial é comparada a um tribunal.
Nesse tribunal, o ser humano é o réu, Satanás é o promotor, Jesus é o advogado
e Deus é o juiz. O nome Satanás associa-se com essa função de promotor. Mas,
para que a acusação dele tenha fundamento, ele faz também o papel de tentador.
A tentação é o ato de Satanás que visa a obter os resultados que subsidiem sua
acusação diante de Deus. E é Deus quem determina a situação da tentação. Como
diz a oração do Pai Nosso, literalmente no grego, “e não nos induzas à
tentação”. Veja 1Reis 22, em que Deus pede a um dos seus anjos que engane o rei
Acabe para que ele morra na guerra. Mas, de acordo com Tiago, Deus não realiza
diretamente a tentação e não pode ser culpado por ela (Tiago 1:13).
O primeiro
exemplo de tentação é o Éden. Embora Satanás não esteja mencionado no texto,
sua atuação é deduzida devido à sua constante prática de tentar os homens no
resto da Bíblia. É difícil compreender exatamente quanto da tentação vem do
diabo e quanto vem da própria pessoa – pois, no texto supracitado, Tiago diz
que “cada um é tentado pelo seu mau desejo” (Tiago 1:14). Satanás coopera para
enganar o homem, induzindo-o a fazer o que ele quer apesar da lei de Deus. Há
muito o que falar sobre a situação no Éden, mas é interessante notar que a
serpente não diz mentiras explícitas para enganar Eva. É sua maneira de dizer que
induz dolosamente a uma compreensão errada sobre Deus. Ao fazer isso, o diabo
retira a palavra de Deus semeada no coração da pessoa (Marcos 4:15). Outro
exemplo de tentação, mas que não funciona, está na história da tentação de
Jesus no deserto. O diabo apelou para maus desejos que poderiam ocorrer em
Jesus, mas o Senhor resistiu pela palavra de Deus. Satanás inclusive usou a
própria Bíblia para levar Jesus a pecar, porém o Senhor era a própria Palavra
encarnada e não seria enganado. Entretanto, Jesus foi o único a “em tudo ser
tentado, porém sem pecar” (Hebreus 4:15); com os outros homens, não é assim. Construindo
um conceito novo condizente com o real desejo perverso, o humano peca, e o
diabo encontra suas “provas” para levar a Deus.
Então, vem
a etapa da acusação. Satanás, uma vez tendo feito o humano pecar, vai acusá-lo
de pecado diante do juiz. A sentença de Deus determinará o que ocorrerá com o
réu. O inferno não é uma opção para aqueles de quem Cristo é advogado. Nem
mesmo a ira de Deus. A punição divina pode ocorrer, mas com o caráter de
disciplina, não de destruição. Deus pode decidir perdoar também. Vejamos alguns
exemplos em que Satanás faz a acusação: em Zacarias 3, o diabo acusa o
sumossacerdote Josué e o anjo do Senhor apela para a repreensão de Deus, que
decidiu perdoar e exaltar o seu réu. Em Apocalipse 12:10, a derrota do diabo é
expressa pelos santos como “caiu aquele que acusava nossos irmãos dia e noite”.
Há o exemplo de Jó, que já foi visto. Como os exemplos mostram, bem como os
princípios, Satanás leva a acusação a Deus, que decide o que vai acontecer. A
teoria da “brecha” é errada. Explicaram-me, quando eu tinha 11 anos, em um
acampamento, que o pecado faz uma brecha na muralha de anjos ao meu redor, e o
diabo pode entrar por essa brecha e fazer a festa que quiser. Nessa teoria,
Deus é apenas um figurante. Como eu disse no post anterior, Satanás não tem
essa liberdade contra os crentes. É Deus quem determina a sentença, e a única
iniciativa do diabo é a de fazer a petição.
Abrindo um
parênteses para fazer uma constatação. Onde Satanás e os demônios atuam? Mais ou
menos por volta do século VIII, começou-se a imaginar Satanás no inferno,
torturando os condenados e assentado num trono com o seu tridente. Essa imagem
é adequada para Poseidon. Estranho é que até hoje muitos cristãos creem nesse
mito. Pensam que Satanás é dominador do inferno. Aprendi essa mentira ouvindo
Diante do Trono (III, faixa 4) quando criança (oh, God, why...). Até aqui,
mostrei biblicamente que a atuação de Satanás é na terra, dominando sobre os
descrentes e atacando os crentes, e no céu, acusando as pessoas diante de Deus
(o que torna ainda mais estranha a ideia de que Satanás foi expulso do céu). Inferno
é domínio de Deus, e não tem relação nenhuma com o poder do diabo. Satanás será
lançado ao inferno no dia do julgamento, junto a todos os seus filhos e anjos
(Mateus 25:41), mas ele não está lá na era presente.
Bem, vamos
agora à terceira forma de Satanás atacar: heresias. Esse deve ser um dos seus
maiores sucessos contra a Igreja. Inclusive, ele inventa heresias sobre ele
mesmo, como todas as que eu estou expondo nesta série. O foco na adoração ao
Cordeiro fica desviado pelas concepções erradas sobre o diabo. Mas, as heresias
podem ser infinitas. Os falsos mestres são chamados anticristos por João (1João
2:22; 4:1-3) e associados ao diabo por Paulo (2Coríntios 11:13-15), também
colocados contiguamente em Romanos 16:17-20. Heresias não são um problema
superficial. As cartas nos chamam continuamente para resistirmos às heresias e
aos falsos mestres. As cartas a Timóteo, as de João, 2Coríntios, Gálatas,
Colossenses... 2Pedro e Judas são veementes e já supõem que as heresias não são
mais um risco, mas uma realidade arrasadora. Inclusive, Pedro e Judas descrevem
os falsos mestres como pessoas que difamam os anjos com injúria (2Pedro
2:10,11; Judas 8,9). Judas, usando a história da Assunção de Moisés, mostra que
nem os próprios anjos dirigem-se com infâmia a Satanás. Não é interessante
vermos por aí exatamente isso: pastores que xingam e enchem a boca de insultos
contra Satanás e demônios? E não é triste que tão poucas pessoas conhecem esse
ensino nessas cartas que quase passam despercebidas? Falsos mestres servem ao
diabo, mesmo que proclamem o seu ódio contra ele. E eles são eficazes em
destruir o conhecimento da verdade na Igreja.
Onde fica a
tal guerra espiritual? Bem, se o diabo ataca dessas formas, nossa guerra deve
ser contra elas. Não há guerra espiritual quando se trata de circunstâncias da
vida, como doença, problema financeiro, problema familiar, drogas... não é
nisso que Satanás está interessado. Devemos, sim, revestirmo-nos com a armadura
de Deus (Efésios 6) para resistirmos à tentação, vencermos o pecado e
rechaçarmos toda doutrina que se levanta contra o conhecimento e os mandamentos
de Deus. O conhecimento bíblico profundo é fundamental. Afinal, os falsos mestres usam a Bíblia para
suas mentiras. Satanás, ao tentar Jesus, usou a Bíblia, como foi dito.
Entretanto, usou um texto fora de contexto para adequá-lo ao mau desejo que ele
queria despertar. Por isso, o padre Vieira diz que “Palavras da Bíblia fora de
contexto são palavras do diabo”. Pouco conhecimento bíblico é terreno fértil
para heresias. A Igreja precisa fundamentar-se nas Escrituras – não em partes
da Escritura, mas em toda ela. Em breve, farei um texto sobre a importância da Bíblia
inteira.
André Duarte
Massa :)
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