quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quem é Satanás 3 - Suas armas

          
           Este é o meu último post da minha série sobre Satanás, embora não esgote o assunto. No post anterior, enfatizei a alta limitação das ações do diabo. Não quero correr o risco de parecer negligente quanto à sua importância e, agora, exporei a maneira como Satanás atinge aqueles que não pertencem à sua autoridade. Sistematizarei em três atos: tentação, acusação e heresias.
           
O termo “satanás” não é apenas o nome próprio de um anjo. É uma palavra hebraica que significa “inimigo” ou “acusador”. A palavra “diabo” significa “caluniador”. Por toda a Bíblia, vemos que a dinâmica celestial é comparada a um tribunal. Nesse tribunal, o ser humano é o réu, Satanás é o promotor, Jesus é o advogado e Deus é o juiz. O nome Satanás associa-se com essa função de promotor. Mas, para que a acusação dele tenha fundamento, ele faz também o papel de tentador. A tentação é o ato de Satanás que visa a obter os resultados que subsidiem sua acusação diante de Deus. E é Deus quem determina a situação da tentação. Como diz a oração do Pai Nosso, literalmente no grego, “e não nos induzas à tentação”. Veja 1Reis 22, em que Deus pede a um dos seus anjos que engane o rei Acabe para que ele morra na guerra. Mas, de acordo com Tiago, Deus não realiza diretamente a tentação e não pode ser culpado por ela (Tiago 1:13).
           
O primeiro exemplo de tentação é o Éden. Embora Satanás não esteja mencionado no texto, sua atuação é deduzida devido à sua constante prática de tentar os homens no resto da Bíblia. É difícil compreender exatamente quanto da tentação vem do diabo e quanto vem da própria pessoa – pois, no texto supracitado, Tiago diz que “cada um é tentado pelo seu mau desejo” (Tiago 1:14). Satanás coopera para enganar o homem, induzindo-o a fazer o que ele quer apesar da lei de Deus. Há muito o que falar sobre a situação no Éden, mas é interessante notar que a serpente não diz mentiras explícitas para enganar Eva. É sua maneira de dizer que induz dolosamente a uma compreensão errada sobre Deus. Ao fazer isso, o diabo retira a palavra de Deus semeada no coração da pessoa (Marcos 4:15). Outro exemplo de tentação, mas que não funciona, está na história da tentação de Jesus no deserto. O diabo apelou para maus desejos que poderiam ocorrer em Jesus, mas o Senhor resistiu pela palavra de Deus. Satanás inclusive usou a própria Bíblia para levar Jesus a pecar, porém o Senhor era a própria Palavra encarnada e não seria enganado. Entretanto, Jesus foi o único a “em tudo ser tentado, porém sem pecar” (Hebreus 4:15); com os outros homens, não é assim. Construindo um conceito novo condizente com o real desejo perverso, o humano peca, e o diabo encontra suas “provas” para levar a Deus.
           
Então, vem a etapa da acusação. Satanás, uma vez tendo feito o humano pecar, vai acusá-lo de pecado diante do juiz. A sentença de Deus determinará o que ocorrerá com o réu. O inferno não é uma opção para aqueles de quem Cristo é advogado. Nem mesmo a ira de Deus. A punição divina pode ocorrer, mas com o caráter de disciplina, não de destruição. Deus pode decidir perdoar também. Vejamos alguns exemplos em que Satanás faz a acusação: em Zacarias 3, o diabo acusa o sumossacerdote Josué e o anjo do Senhor apela para a repreensão de Deus, que decidiu perdoar e exaltar o seu réu. Em Apocalipse 12:10, a derrota do diabo é expressa pelos santos como “caiu aquele que acusava nossos irmãos dia e noite”. Há o exemplo de Jó, que já foi visto. Como os exemplos mostram, bem como os princípios, Satanás leva a acusação a Deus, que decide o que vai acontecer. A teoria da “brecha” é errada. Explicaram-me, quando eu tinha 11 anos, em um acampamento, que o pecado faz uma brecha na muralha de anjos ao meu redor, e o diabo pode entrar por essa brecha e fazer a festa que quiser. Nessa teoria, Deus é apenas um figurante. Como eu disse no post anterior, Satanás não tem essa liberdade contra os crentes. É Deus quem determina a sentença, e a única iniciativa do diabo é a de fazer a petição.
           
Abrindo um parênteses para fazer uma constatação. Onde Satanás e os demônios atuam? Mais ou menos por volta do século VIII, começou-se a imaginar Satanás no inferno, torturando os condenados e assentado num trono com o seu tridente. Essa imagem é adequada para Poseidon. Estranho é que até hoje muitos cristãos creem nesse mito. Pensam que Satanás é dominador do inferno. Aprendi essa mentira ouvindo Diante do Trono (III, faixa 4) quando criança (oh, God, why...). Até aqui, mostrei biblicamente que a atuação de Satanás é na terra, dominando sobre os descrentes e atacando os crentes, e no céu, acusando as pessoas diante de Deus (o que torna ainda mais estranha a ideia de que Satanás foi expulso do céu). Inferno é domínio de Deus, e não tem relação nenhuma com o poder do diabo. Satanás será lançado ao inferno no dia do julgamento, junto a todos os seus filhos e anjos (Mateus 25:41), mas ele não está lá na era presente.
           
Bem, vamos agora à terceira forma de Satanás atacar: heresias. Esse deve ser um dos seus maiores sucessos contra a Igreja. Inclusive, ele inventa heresias sobre ele mesmo, como todas as que eu estou expondo nesta série. O foco na adoração ao Cordeiro fica desviado pelas concepções erradas sobre o diabo. Mas, as heresias podem ser infinitas. Os falsos mestres são chamados anticristos por João (1João 2:22; 4:1-3) e associados ao diabo por Paulo (2Coríntios 11:13-15), também colocados contiguamente em Romanos 16:17-20. Heresias não são um problema superficial. As cartas nos chamam continuamente para resistirmos às heresias e aos falsos mestres. As cartas a Timóteo, as de João, 2Coríntios, Gálatas, Colossenses... 2Pedro e Judas são veementes e já supõem que as heresias não são mais um risco, mas uma realidade arrasadora. Inclusive, Pedro e Judas descrevem os falsos mestres como pessoas que difamam os anjos com injúria (2Pedro 2:10,11; Judas 8,9). Judas, usando a história da Assunção de Moisés, mostra que nem os próprios anjos dirigem-se com infâmia a Satanás. Não é interessante vermos por aí exatamente isso: pastores que xingam e enchem a boca de insultos contra Satanás e demônios? E não é triste que tão poucas pessoas conhecem esse ensino nessas cartas que quase passam despercebidas? Falsos mestres servem ao diabo, mesmo que proclamem o seu ódio contra ele. E eles são eficazes em destruir o conhecimento da verdade na Igreja.
           
Onde fica a tal guerra espiritual? Bem, se o diabo ataca dessas formas, nossa guerra deve ser contra elas. Não há guerra espiritual quando se trata de circunstâncias da vida, como doença, problema financeiro, problema familiar, drogas... não é nisso que Satanás está interessado. Devemos, sim, revestirmo-nos com a armadura de Deus (Efésios 6) para resistirmos à tentação, vencermos o pecado e rechaçarmos toda doutrina que se levanta contra o conhecimento e os mandamentos de Deus. O conhecimento bíblico profundo é fundamental.  Afinal, os falsos mestres usam a Bíblia para suas mentiras. Satanás, ao tentar Jesus, usou a Bíblia, como foi dito. Entretanto, usou um texto fora de contexto para adequá-lo ao mau desejo que ele queria despertar. Por isso, o padre Vieira diz que “Palavras da Bíblia fora de contexto são palavras do diabo”. Pouco conhecimento bíblico é terreno fértil para heresias. A Igreja precisa fundamentar-se nas Escrituras – não em partes da Escritura, mas em toda ela. Em breve, farei um texto sobre a importância da Bíblia inteira.           

            André Duarte

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