Evangelismo é uma prática da
Igreja que tem se tornado banal, como se qualquer coisa que você fizer pudesse
ser conceituada como evangelismo. Percebo frequentemente uma distorção da parábola
do semeador que sustenta essa tendência. Dizem que a palavra lançada é a
semente que pode ou não frutificar, o que é correto. Mas, na prática,
identificam essa palavra lançada com qualquer coisa que você disser que faça
alguma alusão a Deus. Creio que, para contornar ou facilitar a vergonha em
pregar o evangelho ou mesmo o tempo e o esforço para isso, muitas práticas
programáticas são criadas para, como dizem, “plantar a semente”. Posso citar,
por exemplo, distribuição de panfletos com mensagens vagas e, geralmente,
agradáveis. Ou o ato de pregar um adesivo com algum versículo no carro. Ou,
como é tão popular, dizer frequentemente e sem contexto algum a frase “Jesus te
ama”.
Não digo
que essas coisas sejam erradas, nem que Deus não possa atuar através delas.
Torna-se um erro quando conceituamos essas práticas como “evangelismo” e
dizemos a nós mesmos “estou evangelizando, agora minha consciência pode
descansar”. Dizer “Jesus te ama” é bom, dependendo da compreensão que você
transmite, mas isso não é fazer evangelismo. O que quero propor aqui é que o
evangelismo deve conter todos os seus elementos essenciais, não só os mais
agradáveis, ou os mais fáceis de explicar, ou que pareçam mais relevantes. A
semente é a palavra e os evangelistas são os semeadores, mas a semente não é
qualquer frase solta, e sim a palavra completa. Muitos pensam que uma pregação
detalhada é desnecessária, dizendo “ora, o ouvinte não precisa se tornar um
teólogo para se converter”. Mais uma vez, negligenciamos o que as Escrituras
dizem sobre a fé, sobre pontos que, se não forem cridos, tornam toda a fé errada.
Evangelismo não se faz com um versículo ou com uma ou duas frases, mas com a
exposição sucinta de tudo o que compõe as boas novas da salvação.
Quais são
esses elementos essenciais do evangelismo? Em primeiro lugar: o pecado. O ouvinte precisa saber que
ele é pecador, que ele transgrediu a lei de Deus. Se necessário, confronte-o
com os mandamentos positivados na Bíblia. E isso não significa que ele, certa
vez, em ocasião específica, cometeu um pecado pontual. Significa que ele não
faz nada além de pecar. O pecado está presente em toda a sua vida, pois o seu
coração é naturalmente rebelde contra Deus.
Consequentemente: a ira de Deus.
Deus está irado com os transgressores e vai condená-los no dia do julgamento.
Todo aquele que pecou morrerá, será lançado no fogo. O ouvinte precisa
compreender que os condenados incluem, em princípio, todas as pessoas,
inclusive você, evangelista, que não deve fazer a abordagem com ar de
superioridade religiosa. Em seguida, a insuficiência
da reparação humana. Nada que o homem fizer “de bom” aplacará a ira de
Deus. O padrão de Deus é a perfeição dele mesmo. “Quem quebra um ponto da Lei é
culpado de quebrá-la inteiramente”. Nenhuma obra humana poderá reconquistar o
favor de Deus. Se parássemos aqui, a mensagem seria de total desesperança. E,
se começássemos sem esses três pontos, a graça não teria sentido nenhum.
O próximo
ponto é que, se o homem não pode se reconciliar com Deus sozinho, a salvação vem de fora, do próprio Deus,
pelo seu Filho, Jesus Cristo, o próprio Deus encarnado, por amor à humanidade
pecadora. Deus está irado contra os pecadores porque ele é justo, mas ele
ama a sua criação e deseja resgatá-la para si. O Deus que estaria totalmente
correto em condenar a humanidade oferece a ela um caminho de salvação. É o
próprio Deus quem estabeleceu os termos da reconciliação. E a única maneira de
salvar a humanidade é pela obra de Jesus Cristo. Jesus é o Filho de Deus
eterno, que fez-se verdadeiro homem, para cumprir toda a lei de Deus. Ele
tornou-se homem para que pudesse nos representar, e só pôde servir-se como
oferta santa a Deus porque viveu sem pecar. Somente o homem Jesus poderia
morrer e ser aceito por Deus como substituto. Jesus levou a penalidade que nós
merecíamos. Toda a ira de Deus contra os pecadores, Jesus invocou para si ao
morrer pela humanidade. A morte do Filho de Deus satisfez a sua ira e perdoou
todos os nossos pecados. Em seguida, Jesus
ressuscitou dos mortos. A ressurreição é frequentemente negligenciada na
pregação, mas ela é de total importância. Jesus ressuscitou para nos dar a
esperança da vida eterna. Se ele, que foi perfeito e que era Deus, tivesse
morrido para sempre, que esperança nós teríamos? Quando Jesus ressurgiu, ele
triunfou sobre a morte, para que pudéssemos ter a esperança de viver
eternamente com Deus em seu Reino vindouro. A sanção da nossa salvação é a
ressurreição.
Após
ressuscitar, Jesus voltou ao céu, de onde
reina sobre o universo, e enviou o Espírito Santo para nos ajudar. Cristo
não está morto, mas ele reina como o Messias, o Filho de Deus, governante de
toda a criação. Ao voltar ao céu, Jesus não nos abandonou, mas enviou o
Espírito Santo sobre os que creem, para que possam viver em santidade, iluminados
por Deus e em adoração ao Senhor. E, um dia, ele retornará para julgar vivos e mortos e estabelecer o seu reinado
pleno para sempre. A volta de Cristo também deve ser anunciada. O que
aconteceu com o juízo de Deus sobre a humanidade? Jesus virá novamente para executar
esse juízo, não mais como um homem a ser feito vítima, mas como um glorioso
rei, que destruirá a humanidade rebelde e salvará os homens que nele creem.
Após a
exposição deste evangelho, dê a ordem de Deus para o ouvinte: “arrependa-se de
seus pecados e creia no Senhor Jesus Cristo. Pois, somente através da fé neste
evangelho, você receberá a graça de Deus e será salvo. Se continuar rejeitando
o senhorio de Cristo e confiando em si mesmo, você morrerá”. Dessa forma, você
passa por todos os pontos cruciais da pregação do evangelho. Não incita o
ouvinte a ser um legalista e nem um antinomista. Fala sobre a ira de Deus e
sobre o amor de Deus. Sobre a justificação pela fé e sobre necessidade de viver
em obediência.
Depois
dessa pregação, se o ouvinte disser que crê em Jesus e que deseja ser seu
discípulo, gaste mais tempo com ele. Explique do que consiste a vida cristã.
Fale sobre a necessidade da Igreja, apresentando-a como o corpo de Cristo e sua
noiva. Fale que ele deve ser batizado. Não vá embora enquanto o ouvinte não
tiver a garantia de um discipulado. Se você não puder ser o discipulador por
morar em outra cidade, encaminhe-o para um lugar, para uma Igreja, uma pessoa
de confiança. Isso é crucial para que ele não se perca.
Veja, você
não explicou demais e nem de menos. Tudo isso é importante na pregação, e você
não precisou explicar toda a história do Antigo Testamento, o sacerdócio de
Cristo da ordem de Melquisedeque, o problema do mal, as teorias milenistas do
Apocalipse... tudo isso será devidamente tratado no discipulado. Gaste tempo
com o ouvinte, não tenha pressa. Ouça-o, para adequar a forma da pregação (não
o conteúdo) ao contexto dele. E saiba bem os seus fundamentos. Não pense que
você vai apenas orar muito e Deus lhe soprará todas as colas de que você
precisa; você precisa conhecer as Escrituras, entender o que você está dizendo.
Você nunca conseguirá fazer uma proclamação genuína se nem você entendeu o
evangelho. Evangelize a si mesmo e depois vá aos outros.
André
Duarte
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