Embora já tenha
havido posts a respeito de filmes específicos, quero aqui retratar paralelos
entre toda a cultura Disney e a mensagem do evangelho. É inegável que a Disney
influenciou grandemente a cultura ocidental e imprimiu seus conceitos no
imaginário coletivo. Quem pode olhar uma maçã vermelha e suculenta e não pensar
se ela está envenenada? Quem não sente que, se você acreditar, pode realizar os
seus sonhos? Quem se apaixona que não pensa em viver feliz para sempre com o
par encantado? Especialmente para quem vai aos parques Disney, existem
mensagens muito claras e insistentes que formam a base das produções dessa
empresa, e que procuram converter os convidados (assim são chamados os
clientes) às doutrinas dela. Vamos tratar, então, de conceitos fundamentais e
primários da Disney e ver a obra de Deus, o Salvador, através delas.
The Damsel in distress. Talvez o que haja de mais atômico nas produções Disney seja a
princesa que corre perigo. É interessante observar, inclusive, como que,
através das décadas, essas princesas têm se tornado cada vez mais autônomas e
ousadas. Branca de Neve, Cinderela, Aurora, que são princesas antigas, são
realmente completamente indefesas até que um príncipe as salve. Jasmine, Ariel,
Nala e Bela já demonstram um espírito mais rebelde contra a cultura e tomam
parte ativa no desfecho vitorioso do enredo. Mulan... é asiática, então não
conta :P. Ela é a heroína completa da história, mas lembre-se de que ela faz
isso assumindo o papel literal de homem; não faz isso como mulher. Rapunzel,
uma das princesas mais recentes, faz tudo na história, com independência,
determinação. Mesmo assim, todas as princesas Disney acabam precisando do herói
masculino, o príncipe, mesmo que seja nos últimos minutos. Giselle, embora
salve o Robert no final, demonstra ser sempre a moça que almeja ser conquistada
pelo seu príncipe (inclusive, no fim, pelo próprio Robert). O estado de
necessidade, de incompletude em si mesma, de anseio pelo amor pactual – pois a
Disney sempre trabalha o amor no contexto de casamentos – é verdade a respeito
do povo de Deus, a Igreja. Nós, a Igreja, fomos criados para não termos sentido
à parte do noivo, Jesus Cristo. Somos sim vítimas dos perigos de Satanás, do
pecado e da morte, e completamente indefesos contra eles. Precisamos de um
Salvador real. Note também que as princesas são sempre virgens e puras. Da
mesma forma, a Igreja que se encontrará com o seu Salvador é pura, sem mácula
ou ruga alguma (Efésios 5, Apocalipse 14:4, etc). A pureza é essencial para a
Igreja se casar com o seu príncipe. Porém, a pureza dela vem de fora, e esse é
o próximo ponto.
The Prince Charming. Para fazer par com
as princesas da Disney, nada mais adequado do que os príncipes encantados. O
príncipe é batalhador, e é ele quem dá o último ato na redenção final da
mulher. Eric matou a Úrsula, Aladdin prendeu o Jafar, Simba derrotou Scar,
Felipe matou Malévola. O príncipe da Disney é valente, heroico e frequentemente
arrisca a sua vida para salvar a princesa. É de um Salvador como esse que nós
precisamos. Jesus Cristo, nosso Príncipe Encantado perfeito, é corajoso e
amoroso o suficiente para não apenas arriscar a sua vida, mas entregá-la em
total voluntariedade e consciência para nos salvar do vilão. Ezequiel 16
demonstra como Deus é o príncipe encantado que se casa com o seu povo, este personificado
como uma mulher que ele tornou pura. Temos, aqui, uma diferença importantíssima
a salientar: na Disney, o homem e a mulher são puros. Às vezes, o homem não é
puro exteriormente, mas é puro de coração (Aladdin e José Bezerra são ladrões,
mas “bonzinhos”), enquanto a mulher é sempre pura. No evangelho, temos o
inverso: Jesus Cristo é o máximo da pureza e da perfeição, e a Igreja... é, na
verdade, uma prostituta! Nós nos prostituímos com deuses que inventamos, somos
adúlteros contra o nosso príncipe. Mas Jesus Cristo efetua em nós, pela limpeza
do seu sangue derramado, a purificação espiritual. É ele quem cuida de nós e
nos prepara para sermos imaculados quando nos encontrarmos com ele no céu. Ele
é o nosso Príncipe. Não é o garoto por quem você escolheu esperar! Tampouco,
homem, é você o redentor da sua namorada. É o Filho de Deus, que virá para
vencer o mal em seu cavalo branco, portando uma espada em sua boca, o belíssimo
noivo de sua Igreja.
True love’s kiss. “It’s the most powerful thing in the world”, Giselle disse. Também,
para a alegria das famílias de boa tradição, a Disney sempre retrata o primeiro
beijo no contexto de um casamento ou, pelo menos, de um princípio de noivado. O
beijo nunca é banalizado na Disney. Ele é o sinal garantido de que haverá um
casamento, se não ocorre somente no casamento. Ele é algo definitivo, que
transforma a relação entre o príncipe e a princesa, é um divisor de águas. Frequentemente,
ele desperta princesas adormecidas, como a Branca de Neve e a Aurora. Da mesma
forma, a cruz de Cristo e sua ressurreição são o nosso “beijo de amor
verdadeiro”. Estando nós adormecidos eternamente pelo poder do mal, pelo veneno
e pelo feitiço do pecado, é necessário que o nosso príncipe faça algo para nos
ressuscitar. O que Jesus Cristo fez foi dar a sua vida e tomá-la de volta. Pelo
sacrifício do nosso príncipe, somos despertados para, somente então, sermos
cativados por seu amor e aptos para nos casarmos com ele. Repetindo, o beijo é
a garantia de que haverá casamento. Nosso casamento com Jesus Cristo, no céu,
como Apocalipse 19 nos diz, é garantido pelo beijo que ele nos deu na cruz. Por
termos sido resgatados e cativados pelo seu beijo, recebemos a promessa de nos
tornarmos sua esposa, reinando com ele para sempre. Então, sim, é verdade que a
obra do nosso Senhor na cruz “is the most powerful thing in the world”.
The Fairy Godmother. Muitos contos
Disney mostram fadas que, pelo seu poder sobrenatural, capacitam a princesa
para atingir o seu objetivo de conquistar o príncipe. Vamos fazer aqui outra
distinção: geralmente, na Disney, é a princesa que quer muito encontrar o seu
príncipe, e cabe a ele reagir para isso. Embora eu tenha dito que o povo de
Deus anseia por um resgatador, esse resgatador é sempre uma distorção do verdadeiro.
Nós nunca realmente desejamos Deus enquanto estamos mortos em nossos pecados. É
dele o plano, a iniciativa, o princípio e o fim da nossa salvação. Apesar dessa
diferença, ainda assim a fada tem um paralelo interessante com o Espírito Santo
enquanto regenerador. Veja: foi a Fada Azul quem capacitou Pinóquio a tornar-se
vivo e atuante – como o Espírito de Cristo nos reaviva para iniciarmos nossa
jornada com ele. Foi a Fada Madrinha quem deu à Cinderela vestes de princesa e
uma carruagem, assim como o Espírito Santo nos santifica e nos conduz ao noivo.
Foi a Sininho quem lançou o pó mágico para as crianças voarem, da mesma forma
que o Espírito de Deus nos ressuscitará e nos levará às alturas, onde o santo
noivo habita. Apenas um poder sobrenatural das fadas permite que o enredo
termine em casamento. Apenas pelo poder sobrenatural do Espírito, somos
regenerados e conduzidos em espírito e em corpo até o nosso Príncipe.
The poisoned apple. Embora seja uma
particularidade de um único filme, Branca de Neve e os Sete Anões, é um dos
mais fortes ícones da ideia Disney. A maçã envenenada é oferecida pela rainha
bruxa, disfarçada de mendiga, para que Branca de Neve “morra”. O que Satanás
fez à primeira mulher? Em roupagem diversa, de serpente, oferece enganosamente
o fruto proibido pela mesma intenção. Embora não saibamos qual era o fruto
proibido, é interessante observamos que ele costuma ser pensado como uma maçã,
que é justamente o fruto da Branca de Neve. O que a rainha diz para enganar a
princesa? “É só prová-la e todos os seus sonhos se realizarão”. O que Satanás
diz? “É só provar, e você será como Deus”. Em engano e desobediência, Eva comeu
do fruto, como a princesa Disney (pois os anões também haviam ordenado que
Branca de Neve não falasse com ninguém que viesse à casa). O fruto era
envenenado, e a princesa adormece. Porém, não é possível que esse fruto seja
perpetuamente letal. Há um antídoto, e disso nós já falamos. Como o beijo do
príncipe reaviva a princesa envenenada, a obra do nosso Príncipe anula a mortandade
do pecado.
Dreams come true. Acho que essa é a
frase mais repetida no Magic Kingdom. A música tema das paradas tem isto como
refrão “Celebrate the dream inside of you, dream that just came true”. O show Dream
Along With Mickey ensina que, se repetirmos bem alto e com muita fé que “Dreams
Come True”, o mal é derrotado (no caso, a Malévola foge). E o fim da última
música diz “Find your dream inside of you”. O segundo longa-metragem da Disney,
Pinóquio (1940), tem como música vencedora do Óscar “When you wish upon a star”,
a qual diz, no final, que... your dream comes true. A grande celebração para
Cinderela é que “o seu sonho de felicidade se realizou”. Gaston, ao cantar a
Bela, diz “hoje é o dia de realizar o seu sonho”. Esse termo está em toda
parte! Infelizmente, penso eu que esse é também o termo mais desviado do
evangelho. Ele ensina, em todo o contexto Disney, que a realização desse sonho
depende de você. “É só você pedir e a estrela transformar”. De acordo com o
Magic Kingdom, todos os seus sonhos podem se realizar se você acreditar “muito”.
Esse tipo de pensamento acaba por negar a soberania de Deus e nos proclamar
como deuses de nossa vida. Tiago diz que a vanglória sobre o dia de amanhã é
demoníaca. E o “engraçado” é que boa parte da cristandade vê Deus exatamente
assim, como o gênio da lâmpada do Aladdin, que realiza tudo o que nós pedimos,
desde que tenhamos “muita fé”. Agora, vamos redimir o termo “dreams come true”.
Não acho correto, como certos crentes dizem, que “você tem de sonhar os sonhos
de Deus”, porque o Deus onisciente e soberano não sonha, ele simplesmente determina
e faz. O antropomorfismo é exagerado. Porém, entendendo que o sonho da princesa
é encontrar o seu príncipe, entendendo que isso só é possível quando uma fada a
ajuda, e que depende do príncipe lutar e vencer a realização desse sonho... aí
a coisa muda de figura. A fada da Cinderela veio porque ela teve fé. A
realidade, porém, é que o Espírito vem e então ele nos concede fé. Fé não é
obra humana, mas é dádiva de Deus. E a fé verdadeira é aquela que tem um alvo
verdadeiro, que é Jesus Cristo. Tendo isso em mente, sabendo que o maior sonho
nosso, como noiva, é encontrar o Príncipe da Paz, então aí sim podemos declarar
que Dreams Come True. Pois, como Paulo diz em Romanos 5, “a esperança não nos
decepciona”.
Happily Ever After. Todo filme Disney
termina com o casamento. Toda história de príncipe e princesa encerra com o fim
de todo o enredo, a aliança, realizado. As histórias Disney visam ao casamento.
Essa fixação pelo pacto é algo bíblico – naturalmente, o pacto correto. Podemos
ter a certeza de que o fim de toda a história do mundo, aquilo de que trata a
escatologia, o resultado inexorável de todas as coisas, é o casamento entre
Jesus e a Igreja. Um casamento onde verdadeiramente existe um felizes para sempre.
Na plena comunhão com o Salvador, gozaremos de felicidade eterna, pois “Deus
enxugará toda lágrima de seus olhos”. É para esse fim que o beijo do amor
verdadeiro – sim, o beijo daquele que é Amor e é Verdadeiro – é dado na cruz. Como
a fada é empática com a princesa, o Espírito e a noiva dizem “Vem, Senhor Jesus”.
Não há feliz para sempre senão com o único Príncipe Encantado, o Filho de Deus,
Jesus Cristo. O encerramento de toda história Disney é como o encerramento da
Bíblia: “E viveram felizes para sempre”.
(E tem gente
ignorante o suficiente pra dizer que Disney é do demônio...)
André Duarte.
Excelente o seu post.
ResponderExcluirInteressante seu post, gostei bastante. Vale à pena pensar em algumas coisas no sentido que escreveu e em outros. Mas veja que os personagens da Disney que citou, em sua maioria, já existiam nos contos de fada anteriores à Disney. Esses personagens formados desde a cultura popular, adaptados na tradição oral e depois aperfeiçoados em escrita para uma sociedade ocidental mais moderna, tem em seu cerne muitos valores dessa sociedade judaico-cristã. Então talvez, ao invés de converter nesse sentido, a Dsiney esteja reforçando tais valores, do meu ponto de vita muito patriarcais e androcêntricos, e fazendo uso de um imaginário existente, vendendo assim o que as pessoas querem mesmo ver. Claro que nunca é de uma via, afinal as coisas nesse mundo são muito dialéticas, concordo que eles tbm constroem imaginário. Só pra continuar na temática, recomendo a leitura desse texto aqui. http://www.prazerdapalavra.com.br/recursos/lingua-portuguesa/3052-branca-de-neve-e-os-7-anoes-teologia-prof-adalberto-alves-de-souza.html
ResponderExcluirLegal, Carol, bom pensamento. É outra perspectiva legal de ver a história. Agora, eu percebo muito mais as diferenças dos contos originais das adaptações da Disney. Os originais eram bem mais sanguinolentos e cruéis, e acho difícil que os valores deles tenham sido reforçados pela Disney. A Disney é extremamente original quando se trata de suas ideologias. Ah, gostei muito desse link, parece que alguém havia pensando umas coisas antes de mim, hehe.
ResponderExcluir