domingo, 16 de setembro de 2012

Hino cristológico de Filipenses


        Como eu fiz o de Colossenses e há outros hinos cristológicos lindos em outras cartas, resolvi fazer uma série de comentários sobre alguns deles. O de hoje é o que está em Filipenses.

        O que é mais relevante sobre esse hino é que ele não é uma afirmação abstrata sobre uma crença metafísica sobre Cristo, nem uma poesia para ser sentida. É um ensino sobre humildade. O início do hino tem a exortação de Paulo “tenham a atitude humilde de Jesus”. É impressionante como os escritores do Novo Testamento sabiam que toda regra moral deveria ser ensinada tendo como fundamento e fonte o exemplo de Jesus. Não já justiça alguma, nem mandamento algum, nem conselho algum fora de Cristo. Paulo usa o evangelho para ensinar uma regra moral. É isso que todo mestre deveria fazer.

        Portanto, para a sanção da regra de ser humilde, está a apresentação da obra e do ser de Cristo. Ele tinha a forma de Deus, isto é, sua essência e seus atributos eram totalmente divinos e onipotentes. Ele era o logos eterno do Pai, vivendo em perfeita beatitude e soberania. Entretanto, a máxima descrição de sua essência é o amor; como dirá João, “Deus é amor”. Devido ao amor ser o seu supremo atributo, Jesus não se apegou à sua divindade, pois, somente abrindo mão de sua plenitude divina, ele poderia salvar o mundo. Jesus Cristo jamais precisou encarnar para o seu próprio bem; ele já estava completamente cheio de si e autorrealizado como o soberano Deus. No entanto, o seu amor pela humanidade moveu-o a voluntariamente e alegremente abandonar o paraíso e o trono. É uma diminuição infinita e incompreensível essa de Deus tornar-se homem. Mais ainda é a afirmação de um Deus humilde. Porém, essa é a verdade maravilhosa.

        Como se não bastasse a encarnação de Deus em um homem, a humildade foi tão profunda que mesmo o homem foi dos menores dentre os homens. O logos poderia ter encarnado em um rei, mas ele decidiu ser um servo – pois só assim ele poderia reinar de fato. Aquele que era igual a Deus Pai tornou-se um homem sem poderes e prerrogativas, contando somente com a graça do Pai e com suas ordens. Jesus como homem precisou ser completamente obediente à Lei do Pai para salvar os seus semelhantes. E mais, sua obediência e humildade foram as mais difíceis e custosas que se pode imaginar: ele foi completamente submisso até a morte. O autor da vida foi morto. O eterno morreu. E não qualquer morte, mas uma morte de cruz, a mais dolorosa e humilhante de todos os tempos. Foi crucificado como o maior dos criminosos justamente por ter sido a perfeição em justiça e moral. A humildade do Senhor levou-o em todo o infinito caminho entre o mais alto céu e a mais alta vergonha. Você pensa que é difícil ser humilde? Bitch, please, veja a dimensão da humildade do seu Senhor. Por nós mesmos, pela mera pressão moral, jamais chegaremos perto da humildade de Jesus. Mas ele tomou para si essa responsabilidade e deu a nós a vitória para fazermos o mesmo.

        Jesus já era o Deus perfeito. Com a morte na cruz, ele provou ser também o humano perfeito. Como homem, ele cumpriu tudo aquilo, maximizado por milhares, que cabia a nós cumprir. O rigor da moral e da submissão à vontade de Deus foi realizado pelo humano Jesus. E, para todos aqueles que se submetem humildemente à vontade de Deus, existe esperança. Isso inclui o próprio Cristo. Para completar a nossa redenção para a vida eterna, Jesus Cristo foi o primeiro homem a adquiri-la. Sua perfeição foi satisfatória para que Deus o restaurasse à sua posição de rei e Senhor. Ele provou ser perfeitamente capaz de ser um perfeito Deus e um perfeito homem. Deus, assim, colocou em suas mãos o reinado do universo e, especialmente, da humanidade que a ele se submete. Nós, sendo submissos ao senhorio de Cristo, temos também a esperança de reinarmos com ele após suportarmos os louváveis sofrimentos da vida terrena. Mas o papel de rei supremo cabe somente àquele que é digno, Jesus Cristo, o único perfeito, sem pecado nem transgressão. Como recompensa à sua obra, ele foi colocado como o soberano do mundo. E assim ele domina a terra, vencendo o mal, derramando sua ira sobre os rebeldes e sua graça aos que se submetem. Como diz o salmo 110, ele reina à destra do Pai pisoteando os seus inimigos. Sendo o elo perfeito entre Deus e o homem, a divindade e a humanidade, através dele o homem pode glorificar adequadamente o nome do Pai em humildade. Que ele cresça em nós e que nós diminuamos.

André Duarte

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