domingo, 28 de outubro de 2012

Boneco, acorde. O dom da vida é seu. - I



            Resolvi voltar às resenhas de filme. Vou fazer essa do Pinóquio, que vai levar mais de um post, e depois pretendo fazer uma do Matrix. Na minha visão, o filme do Pinóquio conta detalhadamente toda a vida do homem, desde o seu nascimento, sua queda, seu renascimento e a entrada na vida eterna. Assistir a esse filme é como ler a Bíblia do Gênesis ao Apocalipse.

            Colocarei o velho Geppetto como o Pai. Embora haja algumas diferenças, que eu não ignorarei, há comparações muito válidas também. Ele é, pela sua profissão, um criador. Ele criou vários brinquedos e relógios para a sua satisfação, assim como Deus criou o universo para a sua glória, embora não houvesse vida espiritual em nada do que foi criado. Geppetto também tem dois animais, o gato Fígaro e a peixinha Cléo. Eles em nada participam da criação, exceto em contemplar e se alegrar com o designer – acho que são como os anjos que, de acordo com alguns salmos, exultaram diante das obras do Criador como expectadores.

            Ainda faltava algo na criação: alguém que pudesse ter uma vida compartilhável com Geppetto. Ele esculpiu o mais belo de seus bonecos e o chamou Pinóquio. Ele tanto se agradou desse boneco em especial que lhe desejou vida, uma vida compartilhável e relacional, assim como o Pai formou o homem do pó da terra. Geppetto queria um boneco que ele pudesse chamar de filho, e creio que essa é uma boa comparação para entendermos o que significa ser imagem e semelhança de Deus, entre outras coisas: apenas os humanos podem ser filhos dele, semelhantes a ele como qualquer filho é semelhante ao seu pai. Nesse sentido, de ser uma criação com característica de filho, a genealogia de Jesus em Lucas 3 chama Adão de filho de Deus. O filme, assim, concorda com a Bíblia em mostrar que o filho foi criado para ter uma relação familiar com o seu criador.

            Uma das diferenças do filme para a Bíblia é que, na história bíblica, o mesmo Deus que deu forma também deu a vida, pois o Pai e o Espírito são um. No filme, quem dá a vida é a Fada Azul, agindo em total autonomia com relação a Geppetto. De qualquer forma, vou definir a Fada como o Espírito Santo, por ser a doadora da vida e a auxiliadora. Como diz Gênesis 2:7 (yeah, atendendo a milhares de pedidos, vou começar a colocar referências): “Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente”. Ela disse “Boneco feito de pinho, acorde. O dom da vida é seu”. Pinóquio acordou e começou a falar e a se mexer alegremente.

Entretanto, a Fada avisou-lhe que ele só poderia se tornar um menino de verdade se provasse ser corajoso, verdadeiro e altruísta (a tradução do filme não é muito boa). Significa que, para aquele destinado a ser filho se tornar filho verdadeiramente, ele deve ter esse caráter. Esses termos só podem se aplicar a quem crê em Jesus, pois tais características são dons inseridos por Deus. Quanto à coragem, temos na Bíblia que “Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, amor e equilíbrio” (2Tm 1:7) e segue descrevendo a coragem “Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor (...) mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo evangelho”. E também “os covardes (...) o lugar deles será no lago de fogo” (Ap 21:8). Coragem é dom do Espírito de Deus. Além de corajoso, Pinóquio precisa ser verdadeiro. Afinal, o pai da mentira é o diabo (João 8), mas Jesus é “o Caminho, a Verdade, e a Vida” (Jo 14:6). Naturalmente, o homem é mentiroso, pois, segundo Romanos 1:18, “suprimiu a verdade pela injustiça”. Mas 1João descreve os filhos de Deus em vários momentos como praticantes da verdade  (ex: 2:21, 5:20). Por último, é necessário ser altruísta, o que, em termos bíblicos, significa amar o próximo. Paulo nos diz para “levar os fardos pesados uns dos outros” (Gl 6:2) e “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns com os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, revistam-se do amor, que é o elo perfeito” (Cl 3:13,14). Colocando a suprema importância do amor autossacrificial, João diz “Nós amamos alguém porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirmar ‘Eu amo Deus’, mas odiar o seu irmão, é mentiroso (...) Ele nos deu este mandamento: quem ama Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4:19,20). (E ainda tem gente que diz que Disney é do demônio...)

Pinóquio fica assustado com tantas exigências e pergunta “Como vou saber o direito e o errado?”, e a Fada nomeia o Grilo Falante a consciência do boneco. Os termos que a Fada usa são bem bíblicos: “Guardião do conhecimento do bem e do mal” – como Deus se chama em Gênesis 3:22 – “conselheiro nos momentos de tentações” – João 14:16 e 16:13 – e “guia no caminho reto e estreito” – Mateus 7:14. Aposto que você nem notou isso quando era criança 8). Bem, essas características são de uma consciência regenerada pelo Espírito Santo. Como Pinóquio e o Grilo ainda não haviam caído, não poderiam já se voltar de coração a esse ideal. A relação do Grilo com Pinóquio nas próximas cenas é mais parecida com o que Paulo descreve em Romanos 2. Diz ele que o homem tem a consciência que lhe diz o que é certo e errado, e ele pode obedecer-lhe ou não. Por mais que o homem afunde na depravação, sempre haverá a consciência moral exercendo o seu papel de testemunhar das ações dele, como diz o versículo 15: “Pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os”. Voltaremos mais à carta aos romanos em outros posts.

Temos então, no fim da cena, a repetição do lema “Deixe sua consciência ser seu guia”. Essa é, a princípio, a regra para o homem criado. Uma vez que ele recebe o espírito de vida e a consciência moral, o Pai se alegra na criação de seu filho. O resto da história fica para os próximos posts.

André Duarte

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