Resolvi voltar às resenhas de
filme. Vou fazer essa do Pinóquio, que vai levar mais de um post, e depois
pretendo fazer uma do Matrix. Na minha visão, o filme do Pinóquio conta
detalhadamente toda a vida do homem, desde o seu nascimento, sua queda, seu
renascimento e a entrada na vida eterna. Assistir a esse filme é como ler a
Bíblia do Gênesis ao Apocalipse.
Colocarei o
velho Geppetto como o Pai. Embora haja algumas diferenças, que eu não
ignorarei, há comparações muito válidas também. Ele é, pela sua profissão, um
criador. Ele criou vários brinquedos e relógios para a sua satisfação, assim
como Deus criou o universo para a sua glória, embora não houvesse vida
espiritual em nada do que foi criado. Geppetto também tem dois animais, o gato
Fígaro e a peixinha Cléo. Eles em nada participam da criação, exceto em
contemplar e se alegrar com o designer – acho que são como os anjos que, de acordo
com alguns salmos, exultaram diante das obras do Criador como expectadores.
Ainda
faltava algo na criação: alguém que pudesse ter uma vida compartilhável com
Geppetto. Ele esculpiu o mais belo de seus bonecos e o chamou Pinóquio. Ele
tanto se agradou desse boneco em especial que lhe desejou vida, uma vida
compartilhável e relacional, assim como o Pai formou o homem do pó da terra.
Geppetto queria um boneco que ele pudesse chamar de filho, e creio que essa é
uma boa comparação para entendermos o que significa ser imagem e semelhança de
Deus, entre outras coisas: apenas os humanos podem ser filhos dele, semelhantes
a ele como qualquer filho é semelhante ao seu pai. Nesse sentido, de ser uma
criação com característica de filho, a genealogia de Jesus em Lucas 3 chama
Adão de filho de Deus. O filme, assim, concorda com a Bíblia em mostrar que o
filho foi criado para ter uma relação familiar com o seu criador.
Uma das
diferenças do filme para a Bíblia é que, na história bíblica, o mesmo Deus que
deu forma também deu a vida, pois o Pai e o Espírito são um. No filme, quem dá
a vida é a Fada Azul, agindo em total autonomia com relação a Geppetto. De
qualquer forma, vou definir a Fada como o Espírito Santo, por ser a doadora da
vida e a auxiliadora. Como diz Gênesis 2:7 (yeah, atendendo a milhares de
pedidos, vou começar a colocar referências): “Então o Senhor Deus formou o
homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se
tornou um ser vivente”. Ela disse “Boneco feito de pinho, acorde. O dom da vida
é seu”. Pinóquio acordou e começou a falar e a se mexer alegremente.
Entretanto, a Fada avisou-lhe que
ele só poderia se tornar um menino de verdade se provasse
ser corajoso, verdadeiro e altruísta (a tradução do filme não é muito boa).
Significa que, para aquele destinado a ser filho se tornar filho
verdadeiramente, ele deve ter esse caráter. Esses termos só podem se aplicar a
quem crê em Jesus, pois tais características são dons inseridos por Deus.
Quanto à coragem, temos na Bíblia que “Deus não nos deu espírito de covardia,
mas de poder, amor e equilíbrio” (2Tm 1:7) e segue descrevendo a coragem
“Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor (...) mas suporte comigo
os meus sofrimentos pelo evangelho”. E também “os covardes (...) o lugar deles
será no lago de fogo” (Ap 21:8). Coragem é dom do Espírito de Deus. Além de
corajoso, Pinóquio precisa ser verdadeiro. Afinal, o pai da mentira é o diabo
(João 8), mas Jesus é “o Caminho, a Verdade, e a Vida” (Jo 14:6). Naturalmente,
o homem é mentiroso, pois, segundo Romanos 1:18, “suprimiu a verdade pela
injustiça”. Mas 1João descreve os filhos de Deus em vários momentos como
praticantes da verdade (ex: 2:21, 5:20).
Por último, é necessário ser altruísta, o que, em termos bíblicos, significa
amar o próximo. Paulo nos diz para “levar os fardos pesados uns dos outros” (Gl
6:2) e “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns com os
outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, revistam-se do amor,
que é o elo perfeito” (Cl 3:13,14). Colocando a suprema importância do amor
autossacrificial, João diz “Nós amamos alguém porque ele nos amou primeiro. Se
alguém afirmar ‘Eu amo Deus’, mas odiar o seu irmão, é mentiroso (...) Ele nos
deu este mandamento: quem ama Deus, ame também seu irmão” (1Jo 4:19,20). (E
ainda tem gente que diz que Disney é do demônio...)
Pinóquio fica assustado com
tantas exigências e pergunta “Como vou saber o direito e o errado?”, e a Fada
nomeia o Grilo Falante a consciência do boneco. Os termos que a Fada usa são
bem bíblicos: “Guardião do conhecimento do bem e do mal” – como Deus se chama
em Gênesis 3:22 – “conselheiro nos momentos de tentações” – João 14:16 e 16:13
– e “guia no caminho reto e estreito” – Mateus 7:14. Aposto que você nem notou
isso quando era criança 8). Bem, essas características são de uma consciência
regenerada pelo Espírito Santo. Como Pinóquio e o Grilo ainda não haviam caído,
não poderiam já se voltar de coração a esse ideal. A relação do Grilo com
Pinóquio nas próximas cenas é mais parecida com o que Paulo descreve em Romanos
2. Diz ele que o homem tem a consciência que lhe diz o que é certo e errado, e
ele pode obedecer-lhe ou não. Por mais que o homem afunde na depravação, sempre
haverá a consciência moral exercendo o seu papel de testemunhar das ações dele,
como diz o versículo 15: “Pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas
em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos
deles, ora acusando-os, ora defendendo-os”. Voltaremos mais à carta aos romanos
em outros posts.
Temos então, no fim da cena, a
repetição do lema “Deixe sua consciência ser seu guia”. Essa é, a princípio, a
regra para o homem criado. Uma vez que ele recebe o espírito de vida e a
consciência moral, o Pai se alegra na criação de seu filho. O resto da história
fica para os próximos posts.
André Duarte
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