domingo, 7 de outubro de 2012

Hino cristológico de 1Timóteo – 1



        Seguindo pelos hinos cristológicos das cartas, vemos que nas últimas cartas paulinas, as duas a Timóteo e a Tito, há uma ênfase na ortodoxia. Muitas vezes são mencionadas a “sã doutrina” e a expressão “Esta afirmação é digna de confiança”. Há também uma concentração de hinos cristológicos. Em 1Timóteo, há 3 deles. Vamos ao primeiro, que diz: Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo.

        Em toda a Bíblia e em toda a história, nós percebemos uma realidade: o homem tem a noção de um Deus perfeito, todo-poderoso e santo (mesmo que reprima isso com invenções idólatras). Ele também tem a noção de que a comunhão com Deus é impossível devido à distância infinita entre Deus e ele. Sempre o homem buscou alguém que promovesse a interação entre ele e Deus. Nunca o homem, em sua pequenez e defeitos, pode ter comunhão direta com o excelso Deus criador.

        A resolução oferecida pelo homem sempre incorreu em erro. As religiões oferecem uma classe de pessoas especiais – e, se necessário, espíritos especiais – para serem mediadores. Religiões fazem distinção entre o homem comum e o homem com elevada espiritualidade. Estes deveriam oferecer sacrifícios, orações e profecias para que a comunicação entre os deuses e os homens fosse efetuada. Essa é uma demonstração de que o homem tem a consciência de sua culpa e sua inferioridade. No entanto, sua resolução foi errada. Na época de Paulo, eram os gnósticos que estavam começando a fazer a dicotomia entre o material e o espiritual, colocando diversas deidades em superioridade gradual entre o Deus supremo e o homem. Essa heresia precisava ser rechaçada.

        Mas havia uma religião correta, uma que foi dada por Deus: a Lei de Moisés. Na instituição da Lei, havia diversos sinais que mais tarde serviriam para ensinar a realidade de Cristo. Deus escolheu sacerdotes e profetas para efetuarem a comunicação e a comunhão entre Deus e os homens. Eles seriam os mediadores. Não haveria como o homem compreender a mediação do próprio Deus Filho se antes não houvesse toda uma cultura e uma religião para servirem como figuras tipificadoras. A carta aos hebreus dirá que Jesus Cristo cumpriu o propósito sacerdotal de propiciar o perdão de Deus por meio de um sacrifício santo. Ele é o sumossacerdote eterno, como Deus jurou no salmo 110. Ele também é o profeta eterno, ensinando a Igreja e ministrando a vontade de Deus nos corações dos crentes por meio do Espírito Santo. Além de profeta e sacerdote, ele também é o perfeito rei teocrático, profetizado desde Jacó. Ele é o único que governa o universo de acordo com a vontade do Pai. Todas as teocracias, inclusive as israelitas, falharam nessa mediação, mas Jesus é o rei teocrático eterno. Como rei, sacerdote e profeta, Jesus Cristo é o mediador único entre Deus e os homens.

        Mas há um aspecto ainda maior sobre a mediação de Cristo. No antigo pacto, havia profetas, sacerdotes e reis eleitos por Deus, mas o homem que o sancionou foi Moisés. Moisés foi o mediador da aliança sinaítica. Ele serviu como um legislador escolhido por Deus e também pelo povo. Quando os israelitas se reuniram perto do monte Sinai, Deus proclamou a eles os Dez Mandamentos. Se você tinha a impressão de que os Dez Mandamentos foram dados diretamente a Moisés pelas tábuas de pedra, enganou-se; Deus os proclamou oralmente a todo o povo, enquanto fazia o monte tremer e incendiar. Essa demonstração do poder de Deus deixou o povo tão assustado que eles pediram para Moisés ir falar com Deus por eles e lhes transmitir as leis divinas. E Deus aprovou esse temor, como ele diz em Deuteronômio: “Quem me dera eles sempre tivessem essa disposição para me obedecer!”. Assim, Moisés foi escolhido para ser o mediador do pacto.

        A carta aos hebreus também dirá que Jesus é o melhor Moisés. Ele é o mediador do novo pacto. Através de Cristo, podemos conhecer as leis de Deus. O hino aqui enfatiza a humanidade de Jesus. Somente porque Jesus foi um humano, pôde ele representar diante de Deus os outros humanos e lhe ser o substituto. Somente porque ele foi humano, pôde ele entregar-se como resgate a eles e pagar-lhes a dívida. Mas a grande revelação é que, além de homem, ele é Deus também. Ele é Deus mediando entre Deus e os homens. É devido a esse paradoxo que a comunhão humana com Deus é possível indiretamente e diretamente. O véu que separava a presença máxima de Deus e o povo foi rasgado. Podemos nos achegar a Deus diretamente, através de Cristo, pois ele é o próprio Deus humano. Ele é o nosso perfeito e eterno mediador, nosso profeta, sacerdote, rei e sancionador do pacto que sela o amor de Deus.

André Duarte

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