Provavelmente, na minha
formação cristã, esses foram os dois elementos da prática cristã mais
distorcidos sobre os quais aprendi. Por anos, acreditei na literatura pagã –
Daniel Mastral, Rebecca Brown e semelhantes – que ensinava mitos, quase que
mágicos, sobre o uso dessas ferramentas. Vamos retornar às Escrituras, de onde
nunca deveríamos ter saído.
Primeiro, vamos falar sobre o bendito óleo ungido da
unção com óleo ungido etc. O que a Bíblia realmente diz sobre o seu uso? Depende
do momento. Em Êxodo 30, Deus ordenou que se fizesse um óleo para ungir os
sacerdotes para o serviço. Deus ordena uma receita especial para ele e, em
seguida, proíbe o povo de confeccionar esse óleo para uso próprio. Ou seja,
elemento da Lei, transitório, simbólico e tudo mais. Vemos também alguns profetas
ungindo reis com azeite, como símbolo da eleição deles. Também nada que deva
ter vigência hoje, visto que era também um costume simbólico e, além disso, o
último e eterno Rei de Israel está em seu posto. No Novo Testamento, há apenas
duas citações da unção: quando Jesus ordena seus discípulos para fazerem as
primeiras pregações (Marcos 6:6-13) – embora Jesus não tenha ordenado a unção,
mas foi usada por vontade dos discípulos – e em Tiago 5:14, em que se diz para
um doente pedir ao presbítero para ungi-lo.
Por que óleo? Para entendermos esse uso, precisamos
conhecer o sentido do óleo para os judeus. Sim, e apenas para os judeus; note
que não há nenhum texto da Bíblia mencionando o uso de óleo por gentios. Existe
um aspecto cultural e um aspecto prático. Em primeiro lugar, o óleo de azeite
era um dos alimentos mais comuns para os judeus, tanto quanto o café para o
Brasil. Portanto, ele era perfeitamente adequado como símbolo universal em
Israel. Além disso, a maneira de os judeus pensarem era sempre com símbolos e
rituais. Por isso há tantas parábolas, visões simbólicas e pequenos ritos e
toques em toda a Bíblia quando observamos o comportamento dos judeus. O judeu
não apenas orava por alguém doente, mas ele orava fazendo o gesto palpável de
aplicar-lhe óleo. A conveniência do óleo também é devida à sua aplicação
medicinal: um banho de óleo sobre o rosto aliviava a febre e, conforme o caso,
acelerava a cicatrização de ferimentos. Por isso, a recomendação para ungir os
doentes.
Não há nada de místico sobre o óleo. Não há poder nenhum,
mágica nenhuma que cause temor em demônios ou que sacralize um objeto ou pessoa,
ou que traga a cura de Deus de maneira mais eficaz, ou que impute santidade em
alta dose. Nada há nas Escrituras sobre essas invenções. Certa vez, uma pessoa
crente disse-me que era necessário ungir os carros para que eles nunca tivessem
acidentes. Pensei que Deus fosse capaz de me proteger sozinho, até eu ouvir
esse ensino iluminado... ¬¬ Se alguém quer expandir o Reino de Deus, as
Escrituras ensinam claramente como fazê-lo, e não é saindo e pingando óleo por
aí.
Agora, o jejum. Biblicamente, o jejum nada mais é do que
um exercício de humilhação própria em face do arrependimento de um pecado. Em
algumas ocasiões, o jejum era obrigatório, como no dia de Yom Kippur (Levítico
16:29-32). Em outras, dependia da disposição da pessoa. E, para que ele serve?
Se você usá-lo corretamente, serve para melhorar sua santidade; se usar errado,
serve para a sua própria glorificação. Em Isaías 58, Deus explica o jejum do
qual ele se agrada: que não seja apenas um ritual, mas que de fato haja
arrependimento do pecado e prática da justiça. Se o jejum não resultar nesse
amadurecimento, de nada vale. Deve ser feito para Deus, não para si mesmo
(Zacarias 7:4-10). O que Jesus diz sobre o jejum? Que não fazia sentido nenhum
assumir uma postura triste na companhia do noivo (Marcos 2:18-20). O jejum não
deve mais causar pesar ou tristeza, pois nosso perdão em Cristo enche-nos de
alegria. Mas Jesus também indica que a prática continua, no sermão do monte
(Mateus 6:16-18). Ele diz que o jejum deve ser feito como todo o resto – com o
objetivo de glorificar Deus, não de se exibir.
O jejum tinha um elemento cultural, assim como o óleo. Um
judeu não apenas sente arrependimento e tristeza, mas o demonstra com atos
simbólicos – que é o jejum. Praticar o jejum é desejável, porque percebemos no
corpo nossa fragilidade e nossa dependência de Deus, o que deve edificar o
nosso caráter. Mas, qual é o entendimento comum sobre o jejum? Por exemplo, que
ele serve para dar um turbo na
oração. Se oramos, Deus pode responder, mas, se for uma coisa muito importante
que Deus tenha de responder infalivelmente, então o jejum é a chave. Ele
constrange Deus a cumprir nossas orações. Quando jejuamos, aí sim Deus mexe nas
circunstâncias do que jeito que queremos. Nenhum mestre usaria esses termos,
mas o entendimento comum é esse. A distorção idólatra do jejum acompanha a da
oração. Um ultraje e uma blasfêmia. A imaginação humana para tentar controlar
Deus parece não ter limites. Em outras vezes, ouvi que o jejum pode ser a
abstenção de um determinado prazer. Não precisa ficar sem comer, basta escolher
alguma coisa de que você gosta e deixá-la por um tempo. Isso também não é
bíblico, mas sim uma tentativa carnal de burlar as “regras”. É fácil escolher
um prazer não tão significativo ou que pode ser sublimado em outro. Mas, a
abstenção completa do alimento causa as sensações inevitáveis a que o jejum
visa.
Muitos crentes pensam que o jejum é necessário para a
chamada “batalha espiritual” com base em Marcos 9:29 e paralelos – “Esta
espécie só sai por oração e jejum”. Mas uma cuidadosa leitura perceberá que o
termo “e jejum” está comentado em nota de rodapé ou entre colchetes. Isso
porque é um termo que não aparece nos manuscritos mais antigos e confiáveis.
Além disso, não há nenhum texto bíblico que exemplifique alguém jejuando para
um demônio sair. É bom compreender também que o texto grego para a fala de
Jesus em “espécie” ou “casta” é “raça”, um termo que dá ideia mais genérica do
que específica. Jesus não estava dizendo que existem demônios fortes e fracos,
mas referia-se a demônios em geral. Não se pode expulsar um demônio sem oração.
Jejum não entra nessa ensino.
Esses são apenas dois exemplos de elementos distorcidos,
mas qualquer coisa pode sê-lo. O problema desses erros é que eles refletem uma
fé errada. Excesso de piedade pode significar falta de fé. Se realmente
confiamos na vontade de Deus, que ele é perfeitamente sábio e poderoso para
governar o mundo, não precisamos de óleos mágicos e jejuns egoístas. Temos de
ter fé em Deus, não em objetos e rituais. É muito fácil termos nossa fé
desviada para os meios pelos quais Deus age, em vez de colocá-la no próprio
Deus. Quando confiamos em Deus, sabendo que não há nada que possamos fazer para
manipulá-lo, aí sim encontramos humildade e paz.
André Duarte
Oi André boa noite você escreveu muitas verdades nesse texto.Eu estou fazendo uma campanha com um pastor não sei se estou fazendo certo ou estou sendo egoísta perante a Deus quando estou no jejum me sinto uma pessoa egoísta pedindo coisas a Deus para que ele faca para eu da meu testemunho.acredito que estou fazendo tudo errado.muito obrigado pelo texto me ajudou muito.
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