quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

João 3 e o novo nascimento




Transcrevo aqui o meu comentário de João 3:1-21.

O novo nascimento (1-8)

   Tem-se aqui a continuação do princípio da pregação de Jesus. Sobre essa época ainda não tardia da sua jornada pública, João oferece ao leitor, de diversas conversas que certamente Jesus teve, algumas particulares entre ele e um indivíduo. Primeiro, no capítulo 3, Jesus fala a um judeu fariseu – o partido farisaico mais popular, conservador e seguidor das tradições rabínicas. Em seguida, no capítulo 4, ele fala a uma samaritana e, logo depois, a um gentio, tipificando a progressão da missão de seus apóstolos (Atos 1:8). O diálogo entre Jesus e Nicodemos é um exemplo maravilhoso de evangelização profunda, individualizada, atenciosa, altamente doutrinária e completa em seus pontos principais. As lições e os insights são inesgotáveis, e os missionários e pregadores contemporâneos têm muito a aprender aqui.

Nicodemos era um dos poucos fariseus e rabinos que respeitavam a mensagem de Jesus. Após o episódio tenebroso no templo, a popularidade de Jesus entre os grandes mestres certamente caiu muito. Mas, Nicodemos manteve, no mínimo, curiosidade a respeito do Senhor. Ele era autoridade entre os judeus, provavelmente um membro do Sinédrio, e participou positivamente da história de Jesus no final da jornada, como será explicado. Ainda havia compreendido pouco sobre Jesus, mas reconheceu que ele era profeta de Deus, por fazer tantos milagres. Ele dirigiu-se a Jesus com respeitosa curiosidade, buscando entender qual era o significado e a finalidade do que Jesus fazia, e quem ele realmente era. Nicodemos reconheceu que os milagres de Jesus eram a prova de que ele realmente era profeta de Deus. Uma apologia constante na Bíblia é que a evidência de que Jesus fala da parte de Deus são os milagres que ele faz. Este evangelho tratará disso diversas vezes. Mesmo no Antigo Testamento, o poder verdadeiro, público, sobrenatural e inquestionável de Deus é proclamado como prova de que só o Senhor é real (Êx 9:16, 29; 20:1; Dt 4:7, 32-35; 1Rs 18:22-39). Como bom conhecedor das Escrituras, Nicodemos admite que, somente pelo poder de Deus, milagres como os que Jesus fez em Jerusalém poderiam ser feitos. E, visto que nenhum profeta fez milagres desacompanhados de uma nova revelação em mensagem, é isso que o fariseu foi ouvir. Deve-se notar, porém, que o fato de que Nicodemos foi se encontrar com Jesus à noite indica, provavelmente, medo de ser identificado pelos colegas, o que não é justificável (Mc 8:38; Lc 9:26; ver também 2Tm 1:7).
   
Jesus sabe qual era a curiosidade de Nicodemos e responde-lhe diretamente com a mensagem do evangelho: é necessário nascer de novo para entrar no Reino de Deus. Uma das mais preciosas descrições da conversão é a metáfora do novo nascimento. Significa mortificar o passado de rebeldia e pecaminosidade e renascer, isto é, tornar-se uma nova pessoa. O nascer de novo não é uma mera resolução volitiva, nem apenas uma nova decisão para a vida. O ponto é que, no primeiro nascimento, o carnal, todo homem é pecador e corrupto em sua natureza. Esse tipo de homem não pode entrar no Reino da santidade. A única maneira de herdar o Reino de Deus é nascer novamente, o que se dá espiritualmente. Nasce no homem um novo coração, uma nova mente, uma nova natureza. O termo “nascer de novo” pode também ser traduzido como “nascer do alto”, o que também é correto, pois Deus é o autor paterno desse renascimento. A pessoa renascida é descrita por João como filha de Deus, de natureza semelhante à do Pai (v. 6; 1Jo 3:1-3; 5:1; ver também Gl 2:20; 2Pe 1:4) . O prólogo deste evangelho já havia dito isso: os que receberam Jesus nasceram da vontade do Espírito. O novo nascimento significa essencialmente o que comumente se chama de regeneração – o milagre de Deus em transformar o coração ímpio e um coração obediente e verdadeiramente adorador (Dt 30:6; Jr 31:33; Ez 11:9; 36:26;; 2Co 3:3, 6, 14-17; 5:17; Tt 3:5).

A questão de Nicodemos não é uma falta de entendimento da metáfora. Um rabino jamais seria tão ingênuo em pensar que Jesus estava falando de renascer em termos literais, de um adulto retornar ao ventre da mãe. O que o fariseu fez foi acompanhar Jesus em sua metáfora, declarando não saber como renascer, que não era possível fazer-se novo, romper com um passado perverso e começar uma nova vida. Tão impossível quanto um homem voltar ao útero de sua mãe é o homem mau reconciliar-se com Deus e começar tudo de novo. Nicodemos fala a verdade aqui. Nenhum homem pode, por ele mesmo, nascer de novo. Assim como o homem não faz esforço algum quando nasce, mas sai do ventre pela força de pessoas externas, também não é o homem que faz qualquer coisa para nascer do alto. O novo nascimento é obra de Deus somente, de sua benevolência e graça.
   
É precisamente esse o argumento de Jesus. O renascido não realiza isso de seu esforço ou de uma obra humana, mas é nascido de Deus, espiritualmente. Quem entra no Reino de Deus é quem nasce da água e do espírito, referências à purificação e à regeneração. A água não deve ser entendida aqui como o batismo, visto que esse sacramento não é agente para a salvação, mas sim um sinal externo do pertencimento ao povo de Deus. É uma metáfora para a purificação, que é uma das consequências da regeneração. E é adequada, visto que desde a Lei é a água que purifica cerimonialmente (Nm 19) e permanece na linguagem do Novo Testamento (Ef 5:26; Tt 3:5). Esse nascimento espiritual é tão real e concreto quando o nascimento carnal. Quem nasceu apenas do útero humano é um homem comumente carnal, mas quem nasceu do Espírito é um homem espiritual (1Co 2:14-16). Sendo o novo nascimento espiritual, não é absurdo que ele seja possível. Jesus compara o nascido no espírito com o vento. Em grego, a metáfora é mais intensa, porque o mesmo “pneuma” significa vento e espírito. Há duas aplicações dessa comparação: primeiro, a soberania de Deus na regeneração. O vento, ou Espírito, sopra onde quer, e em sua vontade é insondável e incontestável (1Co 2:11, 15, 16; ver também 14:11). Isso responde à objeção de Nicodemos: que não depende do homem esforçar-se para nascer de novo, mas da vontade soberana do Espírito (Rm 9:15-18). A segunda aplicação é que o resultado das obras do Espírito é perceptível por meio do fruto espiritual nos cristãos (Mt 7:15-20; Gl 5:16-25; Ef 5:9; ver também o capítulo 15 deste evangelho). Dessa forma, é possível aceitar que o novo nascimento existe. Logo, duas coisas “acontecem aos nascidos do Espírito” no que tange às características da regeneração: são renascidos pela soberania de Deus e para se assemelharem a ele.

Portanto, no princípio da evangelização de Jesus, o leitor deve notar duas características esquecidas pela pregação contemporânea: enfatizar a soberania de Deus de forma monergística e proclamar a necessidade primária da regeneração para a recepção da vida eterna. Deve-se levar em conta que o homem que Jesus evangeliza é um fariseu altamente instruído nas bases bíblicas e intelectualmente pronto para a linguagem de Jesus; mas, ainda assim, é menos que um bebê na fé cristã, e precisa lidar, como todo aquele que busca a mensagem de Deus, com essas doutrinas comumente consideradas pelos preguiçosos como difíceis demais ou desnecessárias.
           
As Escrituras e a fé (9-15)

Nicodemos pergunta novamente como tudo isso pode ser verdade. Seu coração ainda estava duro para acomodar seu entendimento à verdade da regeneração. Pela reposta de Jesus, fica claro que a limitação de Nicodemos não é intelectual, mas sim em fé. Ele pode entender toda a lógica e as proposições e metáforas sobre o novo nascimento, mas ainda resiste a crer; devolve o assunto com mais dúvidas, esperando que haja algum argumento capaz de, por si mesmo, convencer seu espírito. Jesus, porém, censura sua falta de entendimento. “És mestre em Israel e não entendes?”. Isso não faz crítica, como estamos insistindo, à sua inteligência lógica, mas sim ao seu mau uso do conhecimento das Escrituras. Um rabino sabia de memória centenas de textos do Antigo Testamento; como não compreende que o novo nascimento é uma promessa bíblica? Não é sem razão que Tiago ensina que os mestres serão cobrados com maior rigor (Tg 3:1). Jesus passa, após censurar Nicodemos, a falar sobre si mesmo, suas credenciais para, com justa autoridade, afirmar a verdade do evangelho; e, em seguida, dá prosseguimento à pregação.

Cristo veio do céu. Ele estava com o Pai, partilhando da divindade e sabe perfeitamente aquilo que diz. Ele diz “nós testemunhamos”; é difícil definir quem mais é parte do “nós”. Pode ser quaisquer das testemunhas que João relata no capítulo 5. João Calvino sugere que Cristo fala de si juntamente aos profetas bíblicos, que Nicodemos tanto conhecia. Embora fale do que viu em sua eterna e insondável onisciência, os homens não recebem a mensagem. Os olhos do Senhor veem claramente o novo nascimento, pois ele é Deus onisciente e infinitamente sábio, mas a dureza do homem não lhe permite crer. Eis o problema: o homem que não nasceu de novo não pode crer que possa nascer de novo, pois a regeneração antecede a fé. Ninguém pode crer em Deus se não tiver seu entendimento e sua vontade restauradas por ele. A descrença é, portanto, o natural do ser humano, e ele é justamente responsabilizado por Deus por esse pecado. Além disso, Jesus apenas falou de coisas terrenas – isto é, comparações simples com elementos do cotidiano que afetam os sentidos e os hábitos. A ênfase do contraste entre coisas terrenas e celestiais não é no conteúdo da doutrina, pois todo ensino do evangelho é naturalmente celestial; mas recai sobre a linguagem que Jesus usou. O que temos dito até agora, e muito mais que não foi dito, foi resumido por Cristo em poucas frases simples, as quais usaram “coisas terrenas” para ilustrar as verdades celestiais. Por essa razão, ele comparou o vento com o Espírito, e falou da regeneração espiritual como um novo nascimento. Se nem com tão simples proposições Nicodemos pôde crer, quão embaraçada será sua mente quando Jesus Cristo falar em linguagem complexa e dogmática?
   
Após essa repreensão, Jesus começa a entrar na essência do evangelho de forma mais direta. Ele sempre existiu no céu e de lá veio ao mundo como homem – a necessária doutrina da pré-existência de Cristo. Ao dizer isso, Jesus estava ousadamente se proclamando como Deus encarnado. Diz ele que ter sido o único a subir ao céu. Deve-se excluir da semelhança com Cristo a ascensão de Elias e Enoque. “Subir ao céu” tem aqui outro sentido, visto que Jesus não havia ascendido literalmente ao céu até esse momento. O que ele tem é pleno acesso aos mistérios e verdades celestiais. Além disso, ele seria o único a realmente subir ao céu após sua ressurreição, e se assentaria à direita do Pai como ninguém jamais fez. Logo, todo aquele que deseja entrar no céu deve apoiar-se em Cristo somente. Aquele que conhece toda a verdade celestial também desceu até a condição humana, veio do paraíso à terra. E, embora tenha descido, esse “filho de homem” deveria ser levantado à vista de todos, para que todos os que nele cressem tivessem vida eterna. O levantar de Cristo é mencionado mais algumas vezes neste evangelho e sintetiza em si a verdade da humilhação e da exaltação de Jesus. Quanto a isso, o Senhor se compara à serpente de bronze que Moisés fez no deserto (Nm 21:8,9). Deus havia decretado, na ocasião, que todos aqueles rebeldes que olhassem para a serpente fundida, confiando na palavra de Deus, seriam curados do veneno das serpentes reais. Semelhantemente, Jesus seria posto publicamente para que todo o que olhasse para ele com fé fosse salvo da morte e sanado do veneno do pecado. Ora, aqui Cristo usa um texto da Escritura como um sinal de si mesmo. Isso, naturalmente, atiçaria o raciocínio do rabino, e é também essencial na hermenêutica e na pregação. Ninguém, na Bíblia, fala sobre Jesus sem usar a própria Bíblia. Que isso sirva de exemplo.

Como Cristo salva (16-21)

Deve-se tomar especial cuidado com essa próxima sessão, especialmente em vista dos abusos que ela tem sofrido nas mãos de pregadores precipitados e descuidados. Não é raro encontrar o costume de recitar o versículo 16 isoladamente, de conscientemente insistir que ele é um resumo de todo o evangelho, que é o versículo mais importante da Bíblia e que ele é, inclusive, a principal e primeira afirmação que se deve fazer em pregações evangelísticas. Nada disso resiste a uma análise hermenêutica criteriosa e a uma compreensão holística das Escrituras. A enorme popularidade exclusiva desse versículo encontra base na distorção da cultura de nossas décadas, que, como muitos tem notado corretamente, reduziu Deus à proposição do amor e lançou ao mar do esquecimento sua ira, sua soberania e sua justiça. Não são necessários tantos argumentos; basta ver como Jesus usou esse versículo – ou melhor, como ele não usou. Ele não começou a evangelização de Nicodemos com ele, mas o colocou justamente no princípio do fim, de sua conclusão, na última sessão. Isso não foi por acaso, mas sim porque o amor de Deus só tem sentido em face das doutrinas expostas antes: que o homem não entra no céu em sua condição natural, mas apenas regenerado; que não crê na pregação a menos que o Espírito lhe abra o coração; que não pode pretender chegar ao céu se não for em Cristo; que, por fim, Cristo desceu do céu para dar ao homem a subida. Somente então o amor de Deus é exposto sem vieses errados. É ridículo pensar que o homem pode abraçar o amor de Deus sem antes perceber a sua miséria, sua urgente necessidade dele. Obviamente, Jesus não usou apenas esse versículo e deixou Nicodemos a meditar por si mesmo. Ele gastou tempo ensinando diversas coisas que compõem o evangelho, às quais os pregadores contemporâneos não se dão ao trabalho. Por fim, o amor de Deus, mesmo na última sessão, não foi apresentado sem contexto. Que tipo de examinador tomaria o versículo 16 como supremo e ignoraria o versículo 18, a não ser que tivesse interesse em acobertar a doutrina da condenação e da ira? Assim, toda a pregação de Jesus perfeitamente elaborada tem sido violada pela preguiça e pelo comodismo de infantes ávidos por serem justificados pelo número de ouvintes que se comovem ante o “amor” de Deus, que rasgam o texto, trituram a hermenêutica e dizem com suas ações que tudo o que Jesus disse é inútil, a não ser o versículo 16. Eis a ironia desse pecado: aquele que deseja enfatizar tanto o amor de Deus a ponto de esquecer a sua ira para a evangelização, devido ao medo de que a doutrina da ira seja tão terrível que afaste os ouvintes da fé, demonstra ser ele mesmo amedrontado por tal doutrina diante da qual não consegue olhar com confiança e destemor; e, em outro lugar, o mesmo apóstolo diz que “aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1Jo 4:18) – justamente esse amor tido em tão grande estima. A conclusão é: se alguém fala tanto do amor porque não se agrada da verdade da ira prova, na verdade, ser ignorante a respeito desse amor. Encerrando esse parêntese: dissemos essas coisas não para diminuir a importância do belíssimo versículo 16, mas sim para aumentar a de todos os outros versículos igualmente belos, e para exaltar o esplendor da consistência da mensagem do Senhor.

O que, então o versículo 16 significa? Que o decreto de Deus explicado anteriormente – que todo o que olhasse para Cristo com fé seria salvo - vem do eterno e imutável amor de Deus. Deus amou a humanidade de tal forma – isto é, com a mesma forma com que amou os que se rebelaram contra Moisés no caso das serpentes –, embora ela não mereça e seja rebelde contra Deus constantemente, que deu a ela o seu Filho Unigênito. Ele sacrificou seu único Filho gerado a fim de trazer órfãos para sua família. O santíssimo Deus teve tal amor por perversos e alheios que enviou seu perfeito e divinal Filho como resgate por eles. Não há causa para o amor de Deus; ele é eterno e a causa última. Todo aquele que crer no Filho Unigênito terá a vida eterna. Deus não desejou que a morte continuasse reinando, como tem sido desde Adão. A morte separa o homem de Deus, mas, através da fé no Filho, o amor de Deus é selado e a vida eterna em comunhão fica irrevogável. O princípio da salvação pelo Filho encarnado é o amor incondicional de Deus, não qualquer obra humana ou tentativa da criatura. “Nós o amamos porque ele nos amou primeiro (1Jo 4:19). Como diz Paulo, nada pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus, isto é, o amor pactual. Não há base aqui para pensarmos em expiação ilimitada; o mundo que Deus amou contempla os eleitos em todo o mundo e o resto da criação caída, e não todas as pessoas do mundo. O mundo merece a ira de Deus e, se ele enviasse um representante, seria esperado que viesse em julgamento para o “terrível Dia do Senhor” de que os profetas falam. Mas a graça de Deus ainda não trouxe esse julgamento; antes, enviou o seu Filho para salvar o mundo. Essa é a missão de Jesus na terra: salvar, não condenar. Essa mensagem prepara o ouvinte para saber que Jesus não virá como o rei grandioso que “governa as nações com cetro de ferro”, mas sim como um sacrifício substituto para aplacar a ira de Deus, salvando assim os pecadores. O dia do julgamento virá, mas não antes da mais plena e maravilhosa manifestação do amor de Deus, a missão do Filho como homem. A condenação somente continua para aqueles que recusam essa oportunidade magnífica da salvação pelo Filho. Aqueles que não creem no Filho de Deus, apesar de toda a sua missão salvífica como o manso Cordeiro, continuam em condenação. Por essa razão, Jesus faz tantos milagres e tantas maravilhas, inclusive a sua ressurreição – para dar aos homens todas as provas de que ele é o Cristo, Filho de Deus. Quem continuar sem crer, mesmo depois de tudo isso, está condenado por Deus com justiça. É necessário nascer de novo para entrar no Reino dos céus porque somente os regenerados podem exercer a fé, que é o meio pelo qual se recebe a salvação. Deve-se partir do princípio que todo homem não crê e, por isso, está condenado. Então, compreende-se que Jesus veio salvar o mundo, especificamente aqueles que nele creriam. Cristo veio salvar todos aqueles a quem ele mesmo concederia fé salvífica e deixar os outros em seu estado natural – a condenação.

  Os condenados e os fiéis são comparáveis a trevas e luz. Jesus era a luz do mundo, mas os homens amaram mais as trevas. Quando ele diz “Este é o julgamento”, esclarece que é pelos seguintes critérios que os homens serão julgados: aqueles que amaram as trevas e rejeitaram a luz de Cristo estão sob condenação, ao passo que os que foram cativados por sua luz e o amaram estão na condição de salvos. E quais os motivos pelos quais os homens amam trevas ou luz? Ora, as trevas ocultam a maldade dos homens; eles acham que podem praticar o mal em segredo, por trás de uma proteção, um manto de justiça própria, uma máscara. A luz os ofende porque revela o mal escondido no coração, clarifica cada recanto da alma perversa e expõe à vergonha toda maldade para que seja extirpada. Em vez de arrependimento e humilhação, os homens preferem a intransigência de seu orgulho, e abrigar em segurança os seus pecados – como se fosse possível. Quiseram continuar com a sensação de serem deuses. Entretanto, dá-se o inverso com aqueles que nasceram de novo. Estes são praticantes da verdade, creem no verdadeiro Filho de Deus e nele se refugiam. Sabendo que não há nada de bom neles, mas somente em Deus, eles se achegam à luz de Cristo, para que as obras que Deus efetua neles sejam manifestas diante do mundo. Não precisam construir uma muralha em torno de seus atos vergonhosos, porque sua vida e sua fé estão no Filho de Deus. Seu desejo não é esconder seus pecados, mas confessá-los, e mostrar para o mundo a luz de Deus refletida em suas obras, não para glória própria, mas para a glória de Deus. É assim que Jesus explica os resultados de alguém ser condenado ou ser salvo: não é apenas uma declaração judicial de Deus, mas uma realidade que ele opera nas almas dos homens.


 A conversa entre Jesus e Nicodemos acaba aqui. O fariseu desaparece da história, apenas para ser mencionado novamente na Festa dos Tabernáculos, defendendo Jesus dos outros fariseus, e no sepultamento dele, levando especiarias para honrar o seu corpo. Isso deve indicar que Nicodemos creu em Jesus, ou, pelo menos, admirou-o muito.

André Duarte

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