Transcrevo
aqui o meu comentário de João 3:1-21.
O novo nascimento (1-8)
Tem-se aqui a
continuação do princípio da pregação de Jesus. Sobre essa época ainda não
tardia da sua jornada pública, João oferece ao leitor, de diversas conversas que
certamente Jesus teve, algumas particulares entre ele e um indivíduo. Primeiro,
no capítulo 3, Jesus fala a um judeu fariseu – o partido farisaico mais
popular, conservador e seguidor das tradições rabínicas. Em seguida, no
capítulo 4, ele fala a uma samaritana e, logo depois, a um gentio, tipificando
a progressão da missão de seus apóstolos (Atos 1:8). O diálogo entre Jesus e
Nicodemos é um exemplo maravilhoso de evangelização profunda, individualizada,
atenciosa, altamente doutrinária e completa em seus pontos principais. As
lições e os insights são
inesgotáveis, e os missionários e pregadores contemporâneos têm muito a
aprender aqui.
Nicodemos
era um dos poucos fariseus e rabinos que respeitavam a mensagem de Jesus. Após
o episódio tenebroso no templo, a popularidade de Jesus entre os grandes
mestres certamente caiu muito. Mas, Nicodemos manteve, no mínimo, curiosidade a
respeito do Senhor. Ele era autoridade entre os judeus, provavelmente um membro
do Sinédrio, e participou positivamente da história de Jesus no final da
jornada, como será explicado. Ainda havia compreendido pouco sobre Jesus, mas
reconheceu que ele era profeta de Deus, por fazer tantos milagres. Ele
dirigiu-se a Jesus com respeitosa curiosidade, buscando entender qual era o
significado e a finalidade do que Jesus fazia, e quem ele realmente era. Nicodemos
reconheceu que os milagres de Jesus eram a prova de que ele realmente era
profeta de Deus. Uma apologia constante na Bíblia é que a evidência de que
Jesus fala da parte de Deus são os milagres que ele faz. Este evangelho tratará
disso diversas vezes. Mesmo no Antigo Testamento, o poder verdadeiro, público,
sobrenatural e inquestionável de Deus é proclamado como prova de que só o
Senhor é real (Êx 9:16, 29; 20:1; Dt 4:7, 32-35; 1Rs 18:22-39). Como bom
conhecedor das Escrituras, Nicodemos admite que, somente pelo poder de Deus,
milagres como os que Jesus fez em Jerusalém poderiam ser feitos. E, visto que
nenhum profeta fez milagres desacompanhados de uma nova revelação em mensagem,
é isso que o fariseu foi ouvir. Deve-se notar, porém, que o fato de que
Nicodemos foi se encontrar com Jesus à noite indica, provavelmente, medo de ser
identificado pelos colegas, o que não é justificável (Mc 8:38; Lc 9:26; ver
também 2Tm 1:7).
Jesus sabe qual era a curiosidade de Nicodemos e responde-lhe
diretamente com a mensagem do evangelho: é necessário nascer de novo para
entrar no Reino de Deus. Uma das mais preciosas descrições da conversão é a
metáfora do novo nascimento. Significa mortificar o passado de rebeldia e
pecaminosidade e renascer, isto é, tornar-se uma nova pessoa. O nascer de novo
não é uma mera resolução volitiva, nem apenas uma nova decisão para a vida. O
ponto é que, no primeiro nascimento, o carnal, todo homem é pecador e corrupto
em sua natureza. Esse tipo de homem não pode entrar no Reino da santidade. A
única maneira de herdar o Reino de Deus é nascer novamente, o que se dá
espiritualmente. Nasce no homem um novo coração, uma nova mente, uma nova
natureza. O termo “nascer de novo” pode também ser traduzido como “nascer do
alto”, o que também é correto, pois Deus é o autor paterno desse renascimento. A
pessoa renascida é descrita por João como filha de Deus, de natureza semelhante
à do Pai (v. 6; 1Jo 3:1-3; 5:1; ver também Gl 2:20; 2Pe 1:4) . O prólogo deste
evangelho já havia dito isso: os que receberam Jesus nasceram da vontade do
Espírito. O novo nascimento significa essencialmente o que comumente se chama
de regeneração – o milagre de Deus em transformar o coração ímpio e um coração
obediente e verdadeiramente adorador (Dt 30:6; Jr 31:33; Ez 11:9; 36:26;; 2Co
3:3, 6, 14-17; 5:17; Tt 3:5).
A questão
de Nicodemos não é uma falta de entendimento da metáfora. Um rabino jamais
seria tão ingênuo em pensar que Jesus estava falando de renascer em termos
literais, de um adulto retornar ao ventre da mãe. O que o fariseu fez foi
acompanhar Jesus em sua metáfora, declarando não saber como renascer, que não
era possível fazer-se novo, romper com um passado perverso e começar uma nova
vida. Tão impossível quanto um homem voltar ao útero de sua mãe é o homem mau
reconciliar-se com Deus e começar tudo de novo. Nicodemos fala a verdade aqui.
Nenhum homem pode, por ele mesmo, nascer de novo. Assim como o homem não faz
esforço algum quando nasce, mas sai do ventre pela força de pessoas externas,
também não é o homem que faz qualquer coisa para nascer do alto. O novo
nascimento é obra de Deus somente, de sua benevolência e graça.
É precisamente esse o argumento de Jesus. O renascido não
realiza isso de seu esforço ou de uma obra humana, mas é nascido de Deus,
espiritualmente. Quem entra no Reino de Deus é quem nasce da água e do
espírito, referências à purificação e à regeneração. A água não deve ser
entendida aqui como o batismo, visto que esse sacramento não é agente para a
salvação, mas sim um sinal externo do pertencimento ao povo de Deus. É uma
metáfora para a purificação, que é uma das consequências da regeneração. E é
adequada, visto que desde a Lei é a água que purifica cerimonialmente (Nm 19) e
permanece na linguagem do Novo Testamento (Ef 5:26; Tt 3:5). Esse nascimento
espiritual é tão real e concreto quando o nascimento carnal. Quem nasceu apenas
do útero humano é um homem comumente carnal, mas quem nasceu do Espírito é um
homem espiritual (1Co 2:14-16). Sendo o novo nascimento espiritual, não é
absurdo que ele seja possível. Jesus compara o nascido no espírito com o vento.
Em grego, a metáfora é mais intensa, porque o mesmo “pneuma” significa vento e
espírito. Há duas aplicações dessa comparação: primeiro, a soberania de Deus na
regeneração. O vento, ou Espírito, sopra onde quer, e em sua vontade é
insondável e incontestável (1Co 2:11, 15, 16; ver também 14:11). Isso responde
à objeção de Nicodemos: que não depende do homem esforçar-se para nascer de
novo, mas da vontade soberana do Espírito (Rm 9:15-18). A segunda aplicação é
que o resultado das obras do Espírito é perceptível por meio do fruto
espiritual nos cristãos (Mt 7:15-20; Gl 5:16-25; Ef 5:9; ver também o capítulo
15 deste evangelho). Dessa forma, é possível aceitar que o novo nascimento
existe. Logo, duas coisas “acontecem aos nascidos do Espírito” no que tange às
características da regeneração: são renascidos pela soberania de Deus e para se
assemelharem a ele.
Portanto, no princípio da evangelização de Jesus, o
leitor deve notar duas características esquecidas pela pregação contemporânea:
enfatizar a soberania de Deus de forma monergística e proclamar a necessidade
primária da regeneração para a recepção da vida eterna. Deve-se levar em conta
que o homem que Jesus evangeliza é um fariseu altamente instruído nas bases
bíblicas e intelectualmente pronto para a linguagem de Jesus; mas, ainda assim,
é menos que um bebê na fé cristã, e precisa lidar, como todo aquele que busca a
mensagem de Deus, com essas doutrinas comumente consideradas pelos preguiçosos
como difíceis demais ou desnecessárias.
As Escrituras e a fé (9-15)
Nicodemos
pergunta novamente como tudo isso pode ser verdade. Seu coração ainda estava
duro para acomodar seu entendimento à verdade da regeneração. Pela reposta de
Jesus, fica claro que a limitação de Nicodemos não é intelectual, mas sim em fé.
Ele pode entender toda a lógica e as proposições e metáforas sobre o novo nascimento,
mas ainda resiste a crer; devolve o assunto com mais dúvidas, esperando que
haja algum argumento capaz de, por si mesmo, convencer seu espírito. Jesus,
porém, censura sua falta de entendimento. “És mestre em Israel e não
entendes?”. Isso não faz crítica, como estamos insistindo, à sua inteligência
lógica, mas sim ao seu mau uso do conhecimento das Escrituras. Um rabino sabia
de memória centenas de textos do Antigo Testamento; como não compreende que o
novo nascimento é uma promessa bíblica? Não é sem razão que Tiago ensina que os
mestres serão cobrados com maior rigor (Tg 3:1). Jesus passa, após censurar
Nicodemos, a falar sobre si mesmo, suas credenciais para, com justa autoridade,
afirmar a verdade do evangelho; e, em seguida, dá prosseguimento à pregação.
Cristo veio
do céu. Ele estava com o Pai, partilhando da divindade e sabe perfeitamente
aquilo que diz. Ele diz “nós testemunhamos”; é difícil definir quem mais é
parte do “nós”. Pode ser quaisquer das testemunhas que João relata no capítulo
5. João Calvino sugere que Cristo fala de si juntamente aos profetas bíblicos,
que Nicodemos tanto conhecia. Embora fale do que viu em sua eterna e insondável
onisciência, os homens não recebem a mensagem. Os olhos do Senhor veem
claramente o novo nascimento, pois ele é Deus onisciente e infinitamente sábio,
mas a dureza do homem não lhe permite crer. Eis o problema: o homem que não
nasceu de novo não pode crer que possa nascer de novo, pois a regeneração
antecede a fé. Ninguém pode crer em Deus se não tiver seu entendimento e sua
vontade restauradas por ele. A descrença é, portanto, o natural do ser humano,
e ele é justamente responsabilizado por Deus por esse pecado. Além disso, Jesus
apenas falou de coisas terrenas – isto é, comparações simples com elementos do
cotidiano que afetam os sentidos e os hábitos. A ênfase do contraste entre
coisas terrenas e celestiais não é no conteúdo da doutrina, pois todo ensino do
evangelho é naturalmente celestial; mas recai sobre a linguagem que Jesus usou.
O que temos dito até agora, e muito mais que não foi dito, foi resumido por
Cristo em poucas frases simples, as quais usaram “coisas terrenas” para
ilustrar as verdades celestiais. Por essa razão, ele comparou o vento com o
Espírito, e falou da regeneração espiritual como um novo nascimento. Se nem com
tão simples proposições Nicodemos pôde crer, quão embaraçada será sua mente
quando Jesus Cristo falar em linguagem complexa e dogmática?
Após essa repreensão, Jesus começa a entrar na essência
do evangelho de forma mais direta. Ele sempre existiu no céu e de lá veio ao
mundo como homem – a necessária doutrina da pré-existência de Cristo. Ao dizer
isso, Jesus estava ousadamente se proclamando como Deus encarnado. Diz ele que
ter sido o único a subir ao céu. Deve-se excluir da semelhança com Cristo a
ascensão de Elias e Enoque. “Subir ao céu” tem aqui outro sentido, visto que
Jesus não havia ascendido literalmente ao céu até esse momento. O que ele tem é
pleno acesso aos mistérios e verdades celestiais. Além disso, ele seria o único
a realmente subir ao céu após sua ressurreição, e se assentaria à direita do
Pai como ninguém jamais fez. Logo, todo aquele que deseja entrar no céu deve
apoiar-se em Cristo somente. Aquele que conhece toda a verdade celestial também
desceu até a condição humana, veio do paraíso à terra. E, embora tenha descido,
esse “filho de homem” deveria ser levantado à vista de todos, para que todos os
que nele cressem tivessem vida eterna. O levantar de Cristo é mencionado mais
algumas vezes neste evangelho e sintetiza em si a verdade da humilhação e da
exaltação de Jesus. Quanto a isso, o Senhor se compara à serpente de bronze que
Moisés fez no deserto (Nm 21:8,9). Deus havia decretado, na ocasião, que todos aqueles
rebeldes que olhassem para a serpente fundida, confiando na palavra de Deus, seriam
curados do veneno das serpentes reais. Semelhantemente, Jesus seria posto
publicamente para que todo o que olhasse para ele com fé fosse salvo da morte e
sanado do veneno do pecado. Ora, aqui Cristo usa um texto da Escritura como um
sinal de si mesmo. Isso, naturalmente, atiçaria o raciocínio do rabino, e é
também essencial na hermenêutica e na pregação. Ninguém, na Bíblia, fala sobre
Jesus sem usar a própria Bíblia. Que isso sirva de exemplo.
Como Cristo salva (16-21)
Deve-se
tomar especial cuidado com essa próxima sessão, especialmente em vista dos
abusos que ela tem sofrido nas mãos de pregadores precipitados e descuidados. Não
é raro encontrar o costume de recitar o versículo 16 isoladamente, de
conscientemente insistir que ele é um resumo de todo o evangelho, que é o
versículo mais importante da Bíblia e que ele é, inclusive, a principal e
primeira afirmação que se deve fazer em pregações evangelísticas. Nada disso
resiste a uma análise hermenêutica criteriosa e a uma compreensão holística das
Escrituras. A enorme popularidade exclusiva desse versículo encontra base na
distorção da cultura de nossas décadas, que, como muitos tem notado
corretamente, reduziu Deus à proposição do amor e lançou ao mar do esquecimento
sua ira, sua soberania e sua justiça. Não são necessários tantos argumentos;
basta ver como Jesus usou esse versículo – ou melhor, como ele não usou. Ele
não começou a evangelização de Nicodemos com ele, mas o colocou justamente no
princípio do fim, de sua conclusão, na última sessão. Isso não foi por acaso,
mas sim porque o amor de Deus só tem sentido em face das doutrinas expostas
antes: que o homem não entra no céu em sua condição natural, mas apenas
regenerado; que não crê na pregação a menos que o Espírito lhe abra o coração;
que não pode pretender chegar ao céu se não for em Cristo; que, por fim, Cristo
desceu do céu para dar ao homem a subida. Somente então o amor de Deus é
exposto sem vieses errados. É ridículo pensar que o homem pode abraçar o amor
de Deus sem antes perceber a sua miséria, sua urgente necessidade dele. Obviamente,
Jesus não usou apenas esse versículo e deixou Nicodemos a meditar por si mesmo.
Ele gastou tempo ensinando diversas coisas que compõem o evangelho, às quais os
pregadores contemporâneos não se dão ao trabalho. Por fim, o amor de Deus,
mesmo na última sessão, não foi apresentado sem contexto. Que tipo de
examinador tomaria o versículo 16 como supremo e ignoraria o versículo 18, a
não ser que tivesse interesse em acobertar a doutrina da condenação e da ira?
Assim, toda a pregação de Jesus perfeitamente elaborada tem sido violada pela
preguiça e pelo comodismo de infantes ávidos por serem justificados pelo número
de ouvintes que se comovem ante o “amor” de Deus, que rasgam o texto, trituram
a hermenêutica e dizem com suas ações que tudo o que Jesus disse é inútil, a
não ser o versículo 16. Eis a ironia desse pecado: aquele que deseja enfatizar
tanto o amor de Deus a ponto de esquecer a sua ira para a evangelização, devido
ao medo de que a doutrina da ira seja tão terrível que afaste os ouvintes da
fé, demonstra ser ele mesmo amedrontado por tal doutrina diante da qual não
consegue olhar com confiança e destemor; e, em outro lugar, o mesmo apóstolo
diz que “aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1Jo 4:18) –
justamente esse amor tido em tão grande estima. A conclusão é: se alguém fala
tanto do amor porque não se agrada da verdade da ira prova, na verdade, ser
ignorante a respeito desse amor. Encerrando esse parêntese: dissemos essas
coisas não para diminuir a importância do belíssimo versículo 16, mas sim para
aumentar a de todos os outros versículos igualmente belos, e para exaltar o
esplendor da consistência da mensagem do Senhor.
O que,
então o versículo 16 significa? Que o decreto de Deus explicado anteriormente –
que todo o que olhasse para Cristo com fé seria salvo - vem do eterno e
imutável amor de Deus. Deus amou a humanidade de tal forma – isto é, com a
mesma forma com que amou os que se rebelaram contra Moisés no caso das
serpentes –, embora ela não mereça e seja rebelde contra Deus constantemente, que
deu a ela o seu Filho Unigênito. Ele sacrificou seu único Filho gerado a fim de
trazer órfãos para sua família. O santíssimo Deus teve tal amor por perversos e
alheios que enviou seu perfeito e divinal Filho como resgate por eles. Não há
causa para o amor de Deus; ele é eterno e a causa última. Todo aquele que crer
no Filho Unigênito terá a vida eterna. Deus não desejou que a morte continuasse
reinando, como tem sido desde Adão. A morte separa o homem de Deus, mas,
através da fé no Filho, o amor de Deus é selado e a vida eterna em comunhão
fica irrevogável. O princípio da salvação pelo Filho encarnado é o amor
incondicional de Deus, não qualquer obra humana ou tentativa da criatura. “Nós
o amamos porque ele nos amou primeiro (1Jo 4:19). Como diz Paulo, nada pode nos
separar do amor de Deus em Cristo Jesus, isto é, o amor pactual. Não há base
aqui para pensarmos em expiação ilimitada; o mundo que Deus amou contempla os
eleitos em todo o mundo e o resto da criação caída, e não todas as pessoas do
mundo. O mundo merece a ira de Deus e, se ele enviasse um representante, seria
esperado que viesse em julgamento para o “terrível Dia do Senhor” de que os
profetas falam. Mas a graça de Deus ainda não trouxe esse julgamento; antes,
enviou o seu Filho para salvar o mundo. Essa é a missão de Jesus na terra:
salvar, não condenar. Essa mensagem prepara o ouvinte para saber que Jesus não
virá como o rei grandioso que “governa as nações com cetro de ferro”, mas sim
como um sacrifício substituto para aplacar a ira de Deus, salvando assim os
pecadores. O dia do julgamento virá, mas não antes da mais plena e maravilhosa
manifestação do amor de Deus, a missão do Filho como homem. A condenação
somente continua para aqueles que recusam essa oportunidade magnífica da
salvação pelo Filho. Aqueles que não creem no Filho de Deus, apesar de toda a
sua missão salvífica como o manso Cordeiro, continuam em condenação. Por essa
razão, Jesus faz tantos milagres e tantas maravilhas, inclusive a sua
ressurreição – para dar aos homens todas as provas de que ele é o Cristo, Filho
de Deus. Quem continuar sem crer, mesmo depois de tudo isso, está condenado por
Deus com justiça. É necessário nascer de novo para entrar no Reino dos céus
porque somente os regenerados podem exercer a fé, que é o meio pelo qual se
recebe a salvação. Deve-se partir do princípio que todo homem não crê e, por
isso, está condenado. Então, compreende-se que Jesus veio salvar o mundo,
especificamente aqueles que nele creriam. Cristo veio salvar todos aqueles a
quem ele mesmo concederia fé salvífica e deixar os outros em seu estado natural
– a condenação.
Os condenados e os fiéis são comparáveis a trevas e luz.
Jesus era a luz do mundo, mas os homens amaram mais as trevas. Quando ele diz
“Este é o julgamento”, esclarece que é pelos seguintes critérios que os homens
serão julgados: aqueles que amaram as trevas e rejeitaram a luz de Cristo estão
sob condenação, ao passo que os que foram cativados por sua luz e o amaram estão
na condição de salvos. E quais os motivos pelos quais os homens amam trevas ou
luz? Ora, as trevas ocultam a maldade dos homens; eles acham que podem praticar
o mal em segredo, por trás de uma proteção, um manto de justiça própria, uma máscara.
A luz os ofende porque revela o mal escondido no coração, clarifica cada
recanto da alma perversa e expõe à vergonha toda maldade para que seja
extirpada. Em vez de arrependimento e humilhação, os homens preferem a
intransigência de seu orgulho, e abrigar em segurança os seus pecados – como se
fosse possível. Quiseram continuar com a sensação de serem deuses. Entretanto,
dá-se o inverso com aqueles que nasceram de novo. Estes são praticantes da
verdade, creem no verdadeiro Filho de Deus e nele se refugiam. Sabendo que não
há nada de bom neles, mas somente em Deus, eles se achegam à luz de Cristo,
para que as obras que Deus efetua neles sejam manifestas diante do mundo. Não
precisam construir uma muralha em torno de seus atos vergonhosos, porque sua
vida e sua fé estão no Filho de Deus. Seu desejo não é esconder seus pecados,
mas confessá-los, e mostrar para o mundo a luz de Deus refletida em suas obras,
não para glória própria, mas para a glória de Deus. É assim que Jesus explica
os resultados de alguém ser condenado ou ser salvo: não é apenas uma declaração
judicial de Deus, mas uma realidade que ele opera nas almas dos homens.
A conversa entre Jesus e Nicodemos acaba aqui. O fariseu
desaparece da história, apenas para ser mencionado novamente na Festa dos Tabernáculos,
defendendo Jesus dos outros fariseus, e no sepultamento dele, levando
especiarias para honrar o seu corpo. Isso deve indicar que Nicodemos creu em
Jesus, ou, pelo menos, admirou-o muito.
André
Duarte
muito bom, que Deus te abençoe ricamente
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