Até este ponto, o nascimento do
Senhor tem sido celebrado por todos os que ouvem a notícia. Maria, os pastores,
os anjos, Simeão, Ana e os magos prestaram louvor e adoração pela vinda do novo
rei. Entretanto, essa breve história tem um vilão, Herodes, o Grande.
Quando
os magos disseram a Herodes que um novo rei havia chegado, Herodes entrou em
pânico. Ele é referido pela história como um rei extremamente paranoico e
cruel, chegando a matar vários de seus parentes e sua própria esposa,
simplesmente por suspeita de traição. A dinastia herodiana vem de Esaú (nesta
época, os edomitas eram chamados idumeus), e a rivalidade entre esse ancestral
de Herodes e o irmão Jacó perpetua-se entre os dois personagens presentes –
Herodes e Jesus. Entretanto, como um homem meticuloso, Herodes fingiu submissão
ao novo rei, quando disse aos magos para informá-lo da localização de Jesus
para ir adorá-lo.
O plano
de Herodes foi frustrado, porque é Deus quem controla a história. Em sonho,
talvez por um anjo, os magos foram alertados para não voltarem com a notícia ao
perverso rei, mas que voltassem à terra deles por outro caminho. Também José
foi avisado em sonho por um anjo para fugirem ao Egito, pois Herodes tentaria matar
Jesus. Prontamente, a família obedeceu.
A fuga
para o Egito é cumprimento de profecia. Em Oseias 11:1, Deus diz “Do Egito,
chamei meu filho”. O profeta se referia ao êxodo de Israel, em como Deus chamou
Israel para fora do Egito, mas foi ignorado e desobedecido constantemente. Tal
continuação não se aplica a Jesus, o filho perfeitamente obediente. No post da
análise de O Rei Leão, eu mostrei como Jesus é identificado com o novo e ideal
Israel. Assim como Israel, Jesus teve de fugir para o Egito devido à
necessidade de sobrevivência (veja a história no Gênesis). Entretanto, em certo
momento, Deus chamou o seu filho para voltar à terra natal. Em Êxodo 4:22, Deus
chama Israel de seu primogênito, o qual é também o título adequado de Jesus em
vários textos do Antigo Testamento. Jesus é o cumprimento do propósito e do
significado de Israel. Dessa forma, a profecia de Oseias encontra o seu
significado pleno em Jesus.
Durante
a estadia no Egito, o que houve com Herodes? De tanto esperar pelos magos, ele
percebeu que havia sido enganado. Sua terrível solução para evitar que o tal
bebê viesse a tomar o seu trono foi bem pragmática: ordenar o genocídio de
todas as crianças com menos de dois anos, tanto em Belém como no entorno. Esse
fato não é registrado pela histórica laica, pois, comparando com outros feitos
de Herodes, esse ato cruel não foi dos maiores. Ainda assim, foi um grande
sofrimento para as famílias. E foi ineficaz, pois Jesus já estava no Egito,
salvo pela intervenção de Deus. A chacina em Belém e nas cidades próximas é
referida por Mateus como cumprimento de profecia também. Jeremias, ao proferir
a morte dos filhos de Raquel, falava da destruição das tribos de Israel – os
filhos de Raquel – e, em seguida, profetiza sobre a restauração vindoura. Mas a
história se repete com a destruição de centenas de crianças, filhas dos judeus,
na cidade de Ramá – uma cidade próxima a Belém e que havia pertencido à tribo
de Benjamim. E, dessa vez, com a restauração bem próxima.
O
destino de pessoas como Herodes, que fazem de tudo para suprimir o reinado de
Jesus, é ter seu plano frustrado e morrer. Logo que Herodes morreu, um anjo
avisou José de que eles poderiam já retornar a Israel. José voltaria para
Belém; entretanto, quem estava reinando na Judeia era Arquelau, filho de
Herodes. Arquelau era simplesmente tão cruel quanto o seu pai. Prudentemente, e,
obedecendo a mais uma ordem divina, José voltou à sua cidade na Galileia,
Nazaré. Mateus diz que a identificação de Jesus com a origem nazarena era
também cumprimento de profecia. Essa tem sido uma das profecias mais difíceis
de entender, pois ela não existe literalmente no Antigo Testamento. Uma das
hipóteses é que o termo “nazareno” seja referência ao termo “renovo” em Isaías
11:1 – “Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo”,
visto que a raiz hebraica é a mesma e as palavras são bem semelhantes. Outra
hipótese é que o termo “nazareno” esteja sendo usado como sinônimo de
desprezível, o que seria uma identificação de Jesus com o servo sofredor de
Isaías 53, pois Nazaré era uma das cidades mais escarnecidas de Israel.
Aqui
encerra-se o registro canônico da infância de Jesus. Ele teve a sua vida
preservada por milagres do Pai e foi adorado por todos aqueles a quem Deus
chamou. A grande diferença entre os seus adoradores e Herodes foi o “sim” ou o
“não” à questão: eu quero me submeter à soberania deste pequeno rei? Herodes
representa todos nós, quando rejeitamos o senhorio de Cristo sobre nossas
vidas, quando tememos o seu reinado por atentar contra nossas vontades
egoístas. Não foi essa a reação daqueles que eram pequenos aos seus próprios
olhos: pastores, um homem justo, uma idosa, estrangeiros – e mesmo anjos.
Herodes era um falso rei, injusto, temporário e ineficaz; Jesus, porém, era o
verdadeiro rei, cujo reinado é eterno e santo. Não pense que alguém deve
aceitar ou receber Jesus, pois é o rei quem deve aceitar o súdito para
poupar-lhe a vida. A pergunta que paira para nós diariamente é: eu desejo ser
submisso ao Rei dos reis, não importando as consequências para a minha vontade?
Ou tentarei ser um Herodes, lutando contra Jesus e iludindo-me com o meu
controle sobre mim e sobre a minha vida?
Feliz
Natal e um ano de prosperidade e vitórias e conquistas e dinheiro, amém!
André Duarte
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