sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Salmo 3


        

       Este é o primeiro salmo de clamor por livramento. Foi escrito por Davi quando fugia de seu filho Absalão. Nessa ocasião, como lemos em 2Samuel, Absalão usurpou o trono de Davi, o qual fugiu com suas tropas leais, estando na iminência de uma guerra civil uma vez que o exército de Israel saísse à perseguição.

Davi inicia o salmo reconhecendo a magnitude do perigo; não era exagero afirmar que os perseguidores eram muitos. Sua reclamação quanto aos inimigos, como é comum nos outros salmos imprecatórios, é que o inimigo que se levanta contra ele é culpado de se levantar contra Deus, pois Deus está a favor do salmista. Assim, quando o exército de Israel e todos aqueles que odiavam Davi perseguiam-no, faziam-no blasfemando contra Deus. Pois, como Davi tinha total consciência, Deus estava com ele devido à sua aliança perpétua, e havia prometido um reinado eterno a ele. As ideias do salmo 2 devem se resgatadas aqui: o exército que rejeita o ungido do Senhor rejeita o próprio Senhor.

Davi, entretanto, age não com o orgulho que se poderia esperar do rei ungido, mas com a humildade de um homem frágil, que não concebe força alguma além de Deus. Ele confia que Deus é o seu defensor, seu ajudador e seu consolador. Deus não apenas protege o corpo da morte infligida pelas armas, mas também a alma da agonia. Ele estabelece a paz no espírito enquanto age sobre as circunstâncias físicas.

Também é elemento comum nos salmos imprecatórios que o salmista inicie expressando angústia e, em seguida, ou no fim do salmo, declare confiança e tranquilidade na resposta de Deus à oração em andamento. Poucos salmos contêm o clamor e omitem a resposta. Neste caso, a confiança de Davi baseia-se, como foi dito, na aliança que Deus selou. Ele diz que Deus o responde do seu santo monte, o qual é representado pelo monte Sião, de onde Davi estava fugindo. O monte Sião representa o encontro de Deus com o seu povo dentro do contexto do pacto messiânico. É a infalível fidelidade de Deus ao que o monte Sião representa o fundamento da esperança de Davi, bem como da Igreja ora perseguida, que confia no Deus que garante a promessa da salvação para o reino do Messias.

Um dos resultados práticos dessa confiança é a percepção de que Davi continua vivo, não sendo assassinado enquanto dorme. Ele nota que, após dormir, ele acorda vivo. Seria fácil atribuir a segurança à sua própria força em qualquer parte do dia em que Davi estivesse consciente e em ação; entretanto, quem pode cuidar dele durante o seu sono? Ele conclui que somente Deus é o protetor, especialmente nas circunstâncias em que ele mais se encontra indefeso e frágil. O fato de Davi estar protegido em momentos em que ele jamais poderia agir em seu próprio favor comprova para ele que Deus está zelando por sua vida. Constatado isso, Davi não sente medo diante dos seus inimigos. A meditação no livramento constante de Deus trouxe para ele a tranquilidade interior da qual necessitava.

Somente agora Davi apresenta sua petição. Ele desabafa sua situação perante Deus, declara o que ele sabe sobre Deus e seu relacionamento com ele, medita em uma constatação prática e, agora preparado, encerrando sua oração, Davi pede a Deus que derrote seus inimigos. Essa petição é totalmente vinculada à confiança de que Deus a atenderá. Pode-se questionar: por quê, então, pedir? Porque a petição é necessária ao nosso amoldamento à atitude de filhos de Deus. É a linguagem humana abrindo o coração para a ação espiritual de Deus.

A última frase de Davi é a declaração, mais uma vez, de que é o Senhor quem dá o livramento e a bênção para o seu povo. Outro ponto típico dos salmos imprecatórios é a conclusão que declara a expansão da bênção de Deus além do próprio salmista e alcançando o povo ou a nação. Neste caso, Davi compreende que ele não é especial diante de Deus, como se tivesse qualquer destaque que atraísse o favor de Deus mais do que outra pessoa o faria. Pois Deus não é exclusivo dele, mas é o Deus que abençoa Israel. Davi também compreende que o livramento em sua vida é diretamente relevante para o livramento de Israel. Ele relembra que foi escolhido por Deus para ser o rei de Israel gerando uma dinastia perpétua e que, portanto, Israel pode cumprir o seu propósito para Deus e diante do mundo. Isto é, se Davi sobreviver aos inimigos, ele poderá voltar ao trono e governar Israel como o devido rei teocrático.

Podemos retirar deste salmo a seguinte aplicação messiânica. Jesus Cristo também abandonou o seu trono – espontaneamente, não como Davi, que foi expulso – e teve de passar por perigos e perseguições de inimigos. No entanto, mesmo sofrendo e ansioso, Jesus orava a Deus constantemente e confiava nele, como diz Hebreus 5. Jesus também foi livrado da morte por Deus, mas de forma muito mais plena que Davi: Jesus de fato morreu, mas triunfou sobre a morte ao ressuscitar. Sua ressurreição e sua vitória sobre a morte e sobre seus inimigos recolocaram-no de volta ao seu trono, de onde reina sobre o seu povo como o perfeito rei teocrático da linhagem de Davi. Porque Jesus venceu a morte, pelo livramento de Deus, a sua bênção está sobre o seu povo.

André Duarte

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