Bem, vamos lá,
começar uma nova série de posts – 4, no total. Vamos estudar diversos aspectos
da ontologia e da funcionalidade da Igreja. É de total importância o
entendimento sobre o que é Igreja. Uma gama incontável de erros ocorre por
causa de uma má compreensão sobre o porquê da Igreja existir. Sinceramente, a
grande maioria dos crentes vai à Igreja por motivos errados. Comentarei sobre
alguns deles em cada post. Neste primeiro, quero falar um pouco da finalidade
da Igreja diante daqueles que não são dela.
Todo
conhecimento sobre Deus é revelado. Ninguém jamais descobriu Deus. Para
resgatar o mundo após a queda do homem, Deus se revelou a algumas pessoas
específicas – os patriarcas. Em seguida, de um deles, Jacó, Deus fez surgir uma
descendência que, como nação, perpetuaria a aliança de Deus. Nessa aliança,
Deus promete abençoar e salvar Israel, enquanto Israel se compromete em
obedecer às leis de Deus. Em uma primeira vista, parece um compromisso muito
particular, que exclui o resto do mundo. Entretanto, vejamos algumas
estipulações: em Êxodo 19:5,6, Deus diz “Agora, se me obedecerem fielmente e guardarem a minha aliança, vocês
serão o meu tesouro pessoal dentre todas as nações. Embora toda a terra seja
minha, vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa”. Em
Deuteronômio 4:6-8, há uma clarificação sobre como Israel abençoaria as nações.
Resumindo, os outros povos veriam a fidelidade de Israel às leis justas de Deus
e ficariam impressionados com a sabedoria desse Deus. Israel seria um
testemunho da sabedoria e da santidade de Deus diante das nações. Assim, os
estrangeiros se converteriam e todos os povos seriam redimidos. Em Isaías, há
várias profecias de Israel sendo luz para os gentios e levando a salvação de
Deus até os confins da terra.
Leia de
novo o texto de Êxodo. Agora, veja do que Pedro chama a Igreja: “sacerdócio
real, nação santa...” (1Pe 2:9). A Igreja não surgiu do nada na época dos
apóstolos. Ela é a continuação de Israel. O povo de Deus é um só, em todos os
tempos. Os santos do Antigo Testamento são nossos irmãos tanto quanto os do
Novo Testamento. A Igreja tem o propósito de revelar Deus diante do mundo,
assim como Israel tinha. A grande pergunta: como ela faz isso?
Geralmente,
pensamos em evangelismo, em primeiro lugar. Entretanto, grandes missões
evangelísticas não são viáveis a todas as pessoas. Além disso, a Igreja não
deve testemunhar de Cristo apenas através de indivíduos pregando, mas sim da
sua realidade conjunta e una. Quero dizer, com isso, que é mais importante o
testemunho da Igreja como um todo do que o de seus indivíduos. Sabemos que o
nosso testemunho como cristãos é importante para levar pessoas à conversão,
ouvimos isso a vida toda. Mas é complicado quando a imagem da Igreja é tão ruim
diante do mundo. É cada vez mais comum que os evangélicos sintam
constrangimento de se chamarem publicamente assim, por causa das associações
com igrejas de pastores bandidos que só pensam em dinheiro. Provavelmente, a
Igreja está enfrentando uma das maiores crises de testemunho da história. O que
ela deveria estar fazendo?
Bem, em
primeiro lugar, o que ela não deveria
estar fazendo? Não deveria atrair os mundanos pelo entretenimento. Não deveria
se amoldar à cultura ao ponto de cortar elementos do evangelho. Não deveria
oferecer Cristo como um produto para o conforto. Não deveria pregar bênçãos vãs
e materiais. Não deveria veicular pela mídia com escândalos morais de mega
pastores. Não deveria falar de dízimo com prioridade. Não deveria ser ignorante
e de mente fechada para a apologética. Não deveria ser tão leiga nas
Escrituras. Não deveria oscilar entre os extremos da negligência quanto aos
problemas do mundo e à intromissão agressiva na vida das pessoas. Não deveria
ter medo de ser rejeitada por proclamar a verdade. Não deveria transformar
cultos em shows. Não deveria prometer coisas que Deus não prometeu. Não deveria
dar às pessoas o que elas querem. Também não deveria confundir a pregação do
evangelho com a pregação de uma moral. Não pode fortalecer-se afirmando sua
superioridade moral em relação aos mundanos. Não deve faltar com humildade no
trato com descrentes, nem deve faltar com coragem. Principalmente, não deve ser
desunida. Concorrência entre denominações, rivalidade entre igrejas, ou mesmo
isolamento total, essas coisas não passam despercebidas do mundo. O mundo nem
sabe mais o que significa “cristão”. Existem igrejas para todo tipo de desvio
doutrinário que se possa conceber. Esse é, provavelmente, o maior fracasso da
Igreja.
Como,
então, dar o testemunho da realidade de Cristo positivamente? Vamos a alguns
textos. Em João 17, Jesus ora por nós. Ele ora pelos discípulos e pela Igreja
que viria com eles. E veja os versículos 11 e 21-23. O desejo de Cristo é que a
Igreja seja nada menos do que o reflexo da Trindade. Pense um pouco na doutrina
da Trindade. O que ela significa? Para muitos, serve apenas como abstração e
como credo para se afirmar. Mas o Deus Triúno é totalmente relevante para a
vida cristã. Ele é um só Deus, mas tem comunhão perfeita consigo mesmo – o Pai,
o Filho e o Espírito Santo. Esse é o objetivo da Igreja: ser tão coesa entre si
pelo vínculo do amor que manifeste para o mundo a encarnação da Trindade. Já
pensou que os membros da Igreja devem ser tão unidos quanto o Pai é com o Filho
e o Espírito? A distância imensurável a que estamos desse ideal é certamente
uma das maiores causas para o fracasso da Igreja em converter milhões de
pessoas.
Em Efésios
3, Paulo reforça a mesma ideia. Ele explica, nesta carta, que a inclusão de
gentios na Igreja é uma demonstração do poder de Deus para unir as pessoas. O
evangelho é poderoso para unir inimigos, povos e pessoas completamente
diferentes. A união entre judeus e gentios, bem como de quaisquer outros
critérios mundanos de inimizade e divisão, é um testemunho para o mundo do
verdadeiro Deus trinitário. Veja o versículo 10: a multiforme sabedoria de Deus
é revelada ao mundo pela união em amor e paz de pessoas de todo tipo. É assim que cumprimos o propósito do antigo
Israel: através do elo do amor mútuo e da união em torno de Cristo. Jesus disse
que todos saberiam que a Igreja pertence a Cristo se os seus membros amarem uns
aos outros (João 13:35). Quantas vezes o Novo Testamento fala sobre o povo
salvo, composto de gente de toda tribo, língua e nação! Veja que maravilha
Apocalipse 7:9. Como isso vai acontecer, se a Igreja não for una como o Deus que
é Amor?
O
testemunho individual é importante, mas o testemunho da Igreja é o principal.
Compare como ela deve ser e como ela é. E tente calcular a dimensão da
catástrofe, se puder. Na tentativa absurda de sanar esse problema, muitas
igrejas modernas enfatizam em demasia o que eles chamam de “comunhão”, enquanto
suprimem rigor doutrinário. Fracassam igualmente. Sem a vivência do verdadeiro
evangelho, você consegue uma comunhão de apertos de mão, sorrisos e abraços,
nada mais. Comunhão verdadeira só existe um torno do perfeito ser em comunhão
própria, Deus. Se a comunhão girar em torno de outro ideal, ela simplesmente
não existirá. Nenhum programa ou meta ou qualquer termo empresarial que se usa
para igrejas pode gerar o vínculo do amor. Somente o Amor uno manifesto em três
pessoas pode.
André Duarte
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