terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Salmo 8




Este belíssimo salmo de Davi é um louvor quase extático pelo contraponto entre a grandeza de Deus, a pequenez humana e a incompreensível resolução para ambas: o amor de Deus pela humanidade.

Primeiro, Davi é espiritualmente surpreendido pela soberania real de Deus. Ele exclama “como é majestoso o teu nome em toda a terra”. Deus é o rei que revela a sua glória em todo o mundo. Ele louvado nos céus pelos anjos, devido à maravilha de sua perfeição manifestada em sua criação. Deus é o supremo artista e arquiteto, cuja obra é testemunho do seu grande poder e de sua infinita sabedoria. E o salmista vai além, declarando que Deus intervém na sua criação, fazendo-se conhecido entre os menores humanos – crianças e recém-nascidos. Deus protege os pequenos e indefesos, fazendo do seu nome motivo de segurança e dependência, o que resulta em louvor e adoração. Assim, os ímpios são derrotados por Deus, com o fim de que os humildes que se beneficiam dessa defesa glorifiquem o Senhor.

Essas duas constatações – a intervenção de Deus em favor dos indefesos e a grandiosidade do seu poder criador – levam o salmista a se embasbacar com o amor de Deus pelos homens. Deus criou coisas magníficas, como as estrelas, o sol, a lua, o céu. Tendo em vista essas criações belíssimas e imponentes, o homem parece insignificante. O homem é das menores obras de Deus. O salmista, entretanto, acabara de perceber a atuação de Deus pelos homens em favor dos indefesos e contra os perversos. Por que, ele pergunta, Deus se importa com os homens? Por que um Deus tão grandioso daria tanto valor a seres tão pequenos? O salmista sabe muito bem que Deus não precisa dos homens. Ele é suficiente em si mesmo. Poderia ele deixar a humanidade descuidada, tal qual o homem que não se importa com formigas. O homem é imensamente inferior a Deus. Como isso contrasta com a ideia humanista de que o homem é o maior dos seres! Em seu orgulho, os homens adoram os seus próprios pensamentos, considerando-os da maior sabedoria. Adoram seus sentimentos, pensando que eles são o que há de mais valioso. Adoram suas próprias obras, pensando que cada feito tecnológico, cada nação governada, cada poder militar é o que há de melhor. Em tudo isso, os homens ignoram o Deus que criou o universo. A ignorância e a pequenez do homem, tal qual a criança malcriada fazendo birra, resultam em desprezar Deus. Mas, Deus, que é o supremo rei da terra, que tem todo o direito de fazer aos homens o que eles fazem contra ele, em vez disso, demonstra amor pela humanidade. Isso é impressionante e incompreensível.

O salmista também percebe essa realidade do amor com base no próprio relato da criação escrito por Moisés. Deus colocou o homem como o dominador da terra. Debaixo de sua autoridade, está o resto do mundo. Esse é um direito que deveria ser recebido em espírito de adoração e gratidão a Deus, pois de forma alguma o homem é digno de comandar a terra. Por causa do pecado, ele se tornou um péssimo dominador, arrasando a natureza que Deus criou. Em vez de governar o mundo com temor a Deus, o homem o faz para a sua própria glória e, consequentemente, para a sua própria desgraça. Por isso, Paulo diz, em Romanos 8, que a natureza aguarda com grande expectativa o juízo de Deus, para que ela seja restaurada.

Importante a declaração de Davi de que o homem foi feito um pouco menor que os anjos. Não pode significar “menor que Deus” por dois motivos: primeiro, porque o salmo inteiro enfatiza justamente o quanto o homem é muito menor do que Deus; segundo, porque a citação em Hebreus prefere a tradução “menor que os anjos”. Essa citação nessa carta leva à maior surpresa e incompreensão com que o salmista jamais sonhou. Ora, Davi está perplexo pelo amor de Deus aos homens, que, embora pequenos e estúpidos, são exaltados por Deus para governarem a criação e para participarem da atuação graciosa de Deus sobre eles. O que o salmista pensaria, então, se conhecesse Jesus? A citação em Hebreus diz que esse salmo se cumpriu em Jesus também, pois Jesus tornou-se homem, menor do que os anjos, como qualquer outro homem. Entretanto, o homem comum já foi criado menor que os anjos. Jesus, em sua eternidade, é o próprio Deus supremo que corresponde ao Deus deste salmo, embora Davi não compreenda isso. Assim, Jesus estava acima de qualquer criação, inclusive os próprios anjos. Mas, em seu imenso amor, Deus tornou-se homem, rebaixou-se à condição de servo e assumiu o papel que, segundo este salmo, é diametralmente oposto ao papel soberano de Deus. O amor de Deus ao homem é demonstrado não apenas por tê-lo revestido de glória e honra com relação à criação, embora o homem fosse tão pequeno, mas em ele próprio ter assumido essa pequenez para salvar a humanidade. O Deus supremo encarnou em um servo humano, menor do que anjos, movido pelo seu amor, a fim de resgatar a humanidade para a libertação do pecado. Em Cristo, o homem pode, finalmente, cumprir o seu propósito de andar em temor a Deus, respeitando as suas obras e grato pelo seu amor. Como diz Paulo, “nisso está o amor de Deus: Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores”.

Diante disso, não há o que falar, a não ser o próprio suspiro do salmista: “Senhor, Senhor nosso, como é majestoso o teu nome em toda a terra!”

André Duarte

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