terça-feira, 12 de março de 2013

Cristãos e desafios atuais



           Para quem vive hoje, há uma distância histórica de, no mínimo, dezenove séculos até os tempos bíblicos. A forma do mundo de hoje mal pode ser comparada à do mundo daquela época. Da última vez em que alguém escreveu um texto canônico, havia um imperador romano cheio de poder e menos de 100 mil cristãos no mundo. O governo era tirânico, impositivo, e cristãos poderiam ser perseguidos com tortura e morte dependendo do humor do governante. Os cristãos eram poucos e quase todos pobres. O mundo era cheio de desrespeito por minorias, o que incluía os próprios cristãos.
           
Hoje em dia, tudo é bem diferente. Existe toda essa noção de paz mundial, amor entre os diferentes, confraternização entre ricos e pobres, governos democráticos, liberdade religiosa e filosófica, amparo às minorias, valorização do meioambiente. A humanidade progrediu muito, e está cada vez mais perto de construir um paraíso com suas próprias forças. O lema disperso é “vamos tornar o mundo um lugar melhor”. Se cada pessoa viver isso, um dia chegaremos ao ideal de sociedade justa e igualitária.
           
Bem, é isso que os mundanos dizem. E esse tipo de convicção nunca vai mudar. O ápice da confiança na bondade e na inteligência humana produziu os horrores da 2ª Guerra Mundial. Os próprios humanos ficaram chocados com a dimensão da destruição que causaram – eles, os homens, os seres evoluídos, conscientes, em processo crescente de aprimoramento. Claro que não demorou muito para o trauma da 2ª Guerra sair do pensamento coletivo e os humanos começarem a novamente confiar no êxito de seus esforços para produzir um mundo maravilhoso. Afinal, os humanos descobriram aquilo que faltava: o apreço pela paz. O único problema é que, antes, eles não sabiam que a guerra poderia ser tão ruim. Agora, aprenderam a lição e sabem que a meta certa é a paz. Pronto, resolvido, é só questão de tempo.
           
Veja que interessante: valores ordenados por Deus foram apropriados por mundanos para que, rejeitando Deus, os próprios homens pudessem ser os deuses dos valores. Deus ordena a vivência da paz, mas os homens querem eles mesmos produzir a paz independente de Deus. Deus comanda o amor mútuo, e os humanos repetem essa proclamação retirando todo o conceito divino sobre o amor e estabelecendo o seu próprio. E é assim que os crentes são enganados pelas aparências do mundo caído e se deixam convencer de que Jesus não é tão necessário assim para a edificação de um mundo “melhor”.

Mas o mundo não está, de forma alguma, mas justo e bondoso do que no passado. A aparência desse humanismo feliz é construída sobre a areia, não sobre a rocha. Por isso, ela sempre deixará efeitos colaterais. O avanço científico é desejável, mas, para a maioria das pessoas, substitui a fé em Deus. A liberdade religiosa é certamente melhor do que a conversão forçada, mas dá impulso às ameaçadoras heresias à sã doutrina. A escravatura foi abolida, mas a prostituição é tolerada. Como diz o Dr. Manhattan, “eles alegam que seus esforços construirão um paraíso, todavia esse paraíso está preenchido com horrores”. De que maneira, então, pode-se ser um cristão fiel nesses tempos distintos? Há duas escolhas erradas possíveis: a escolha do legalista, de criticar tudo o que é moderno e fechar a mente, e a escolha do antinomista, de mundanizar o evangelho. Como fazer a escolha certa?

O cristão precisa, em primeiro lugar, ter essa noção de que o mal do mundo é imutável, apenas suas manifestações são variadas. Legalistas tendem a ver a modernidade com pessimismo, como se as coisas estivessem piorando e o mundo de antigamente fosse melhor. Lembram-se de que antes não havia banalização do sexo (porque, pros legalistas, o maior problema do mundo é o sexo), drogas pra todo lado, homossexualismo difundido. Esse ponto de vista é errado, porque esses problemas sempre existiram. Se na época de Abraão já existia Sodoma e Gomorra... Mesmo com regras mais repressivas, sempre houve um número alto de transgressões, embora não fosse tão comentado. Por exemplo, Freud verificou tantos casos de abuso sexual na infância por parte dos pais que se recusou a crer que eram todos verdadeiros e postulou que a maioria deles era só fantasia inconsciente da mulher. Embora essa possibilidade seja verdadeira, hoje sabemos que, realmente, havia muito mais abuso sexual há 100 anos do que era comentado na época. Por outro lado, os antinomistas enfatizam as melhoras do mundo, as liberdades, o respeito às minorias, o progresso científico e tudo o mais que já foi comentado. Esse ponto de vista também é errado, pois é totalmente herético afirmar que o mundo pode progredir em justiça e bondade à parte de Deus. Então, o primeiro ponto para o cristão é este: a maldade do mundo é sempre a mesma, apenas suas manifestações variam conforme as novas necessidades de justificação própria que a cultura demanda.

Se o mal do mundo é constante, então ele deve ser identificável em todos os tempos. E de fato é. O mal do mundo é a sua rejeição do rei Jesus. É o pecado, a construção de um verniz de sabedoria e retidão em cima de uma alma sombria e perversa. E é isso que os cristãos devem combater. As boas obras dos crentes são um adorno à sua fé para dela testemunhar, e não o seu objetivo último no mundo. Legalistas estão engajados em destruir manifestações flagrantes de “grandes pecados”, despreocupando-se do pecado holisticamente; antinomistas querem misturar mundo e Igreja para que a Igreja pareça mais “legal” e interessante. O que o crente realmente precisa saber é que sua missão no mundo não é fortalecer as regras contra as coisas mais feias – isso já existia antes e não se sustentou -, nem é unir mundo e Igreja por discursos abertos e fofos – pois não há comunhão alguma entre luz e trevas -, e sim testemunhar do eterno e imutável evangelho por meio de toda a vida. Testemunhar de Jesus diante do mundo não é ser uma pessoa chata e repressiva o tempo todo. Também não é só falar de amor e praticar caridade, pois isso os mundanos também fazem. O crente deve, por um lado, ter o evangelho como o fundamento inabalável de sua vida, sem concessão e negociação alguma da verdade completa, e, por outro, demonstrar a beleza dele para o mundo. Um cristão deve, por meio da sua vida, chamar atenção não para si, mas para Jesus, por meio de sua firmeza e dos seus bons frutos.

Hoje em dia, na nossa sociedade, os cristãos têm o grande desafio de resistir à tolerância. Sim, tolerância. Quer dizer, os cristãos precisam resistir à moda de aceitar tudo e achar que qualquer coisa que se faça “por amor” e “por sinceridade” está correta. “Amor” é o termo da contemporaneidade. “All we need is love”, cantam os Beatles. Jamais pode ser confundido com o amor bíblico, encarnado no Deus-homem. A única semelhança entre ambos é o substantivo. O amor cristão é totalmente definido pelo ser de Deus. Terrivelmente, os crentes estão redefinindo o amor de Deus a partir do amor mundano! Isso acontece, por exemplo, quando os crentes falam que Deus ama todas as pessoas, seja como elas forem, e só quer o melhor para elas, independentemente de qualquer exigência para uma mudança de vida. Acontece que Deus não nasceu em 1960 e não virou um hippie. O que o mundo chama de “amor”, Deus chama de orgulho e libertinagem.

Assim, não importa se homossexuais se “amam”, Deus não vai aprová-los. Talvez, a questão da homossexualidade seja a que tenha maior potencial para resultar em perseguição aos cristãos. Existem os legalistas, que combatem a homossexualidade como se fosse o pior pecado do mundo, e os antinomistas, que só ficam falando que Deus os ama como eles são e pronto. Cristãos devem responder com o evangelho inflexível, porém libertador, de Jesus Cristo. Pode ser que chegue o dia em que as autoridades inquirirão os crentes sobre a sua religião, devido a essa controvérsia da homossexualidade, e eles precisam fazer como Pedro orienta, saber explicar a razão de sua fé.

É muito provável que o mundo continue caminhando cada vez mais para a tolerância a qualquer coisa – exceto, é claro, aos cristãos “intolerantes”. Paulo diz, em 2Tessalonicenses, que, antes de Jesus voltar, o “filho da perdição” se levantará e se oporá a Deus e a tudo o que é sagrado. Em grego, a expressão usada para o termo “homem do pecado” significa literalmente “homem sem lei”. Parece que é nessa direção que o mundo está indo: cada vez menos regras e maior permissividade. É Direitos Humanos de um lado, facilitando a vida dos bandidos e ressaltando o suposto valor intrínseco do ser humano com seus fantasiosos direitos naturais – sem vínculo algum com o valor que Deus dá ao homem -, relaxamento sexual e de drogas do outro, multiplicação de alternativas religiosas inclusive dentro do que se chama de igreja evangélica... Esse é o mundo para o qual os crentes devem estar preparados, firmados no perfeito evangelho de Cristo – a imutável e sólida verdade.

André Duarte

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