domingo, 10 de março de 2013

Decisões e a consulta a Deus

         
           Uma das grandes marcas do caráter cristão é a submissão à vontade de Deus para a tomada de decisões para a vida. É louvável que um crente busque compreender os planos de Deus para si e faça suas escolhas vinculadas a eles. A finalidade, embora correta, depende do meio adequado, e é nesse ponto que há tantas falhas. A eterna pergunta “como vou saber o que Deus quer pra minha vida” só é respondida através do método de consulta correto. E é importante saber que essa pergunta não é recente. Desde a Lei de Moisés, existe essa ordem para a consulta a Deus, e ele mesmo instituiu o procedimento certo. Existem diversos exemplos na Bíblia que mostram como essa consulta foi feita. Entretanto, o modo como Deus era consultado na época bíblica não é mais o mesmo hoje. É necessário compreender como podemos conhecer a vontade de Deus para uma decisão atual.
           
Em primeiro lugar, precisamos partir do princípio de que a vontade de Deus deve ser clara e indubitável. Deus nunca exigiu de nós uma capacidade extrassensorial para alcançarmos o mais misterioso e enigmático de seus pensamentos. Por essa razão, não podemos pensar que a oração é o meio principal para efetuar esse desvendamento, embora seja o mais comumente valorizado. Não podemos contar que, ao orarmos, Deus vai falar-nos alguma coisa nova, personalíssima e perfeitamente clara, como ele falou aos profetas da Bíblia. Se você pensa assim, nega o pressuposto fundamental da suficiência das Escrituras (se quiser rejeitar esse pressuposto, tudo bem, pode criar uma nova religião :P). Pois, em uma oração independente da Bíblia, não há como saber se a “voz” que você ouve é de Deus mesmo ou é apenas um eco dos seus sentimentos. Deus nunca ordenou que você descobrisse os pensamentos obscuros dele através de uma oração e uma força sentimental transcendente subsequente.
           
Biblicamente, a consulta a Deus sempre foi bem clara. Lemos, por exemplo, que Josué falhou em consultar o Senhor antes de fazer acordo com os gibeonitas (Josué 9). Pela sua negligência, Israel sofreu consequências gravíssimas, até mesmo à época de Davi (2Samuel 21). Falando nele, o próprio Davi também fazia consultas a Deus constantemente, principalmente quando fugia de Saul, pois Abiatar levava o colete sacerdotal com ele. De que forma Josué ou Davi poderiam conseguir respostas de Deus? Na Lei de Moisés, Deus ordenou a posse do Urim e do Tumim pelos sacerdotes (Êxodo 28:30). A Bíblia não explica como eles funcionavam, mas eram pedras que, de alguma maneira, eram usadas para descobrir a vontade de Deus. Uma interessante opinião judaica diz que o Urim representava o “sim”, e o Tumim, o “não”, e a pedra correspondente à resposta de Deus brilhava diante da pergunta. De qualquer forma, a consulta a Deus era feita através desses objetos. Posteriormente, o ministério profético ganhou impulso a partir de Elias e Eliseu, e os profetas vieram a ser a forma alternativa e preferencial de consulta a Deus. Havia, é claro, profetas que falavam em nome de Deus enganosamente. Mas a palavra dos verdadeiros profetas permaneceu, e os seus livros estão no cânon para serem conhecidos. Por meio deles, podemos consultar Deus.
           
Pode-se concluir, naturalmente, que a consulta à vontade de Deus é feita pela Bíblia. É o estudo e o conhecimento das Escrituras que nos ensinam o que Deus quer de nós. Afinal, sabemos que a Bíblia é a palavra de Deus revelada e disponível. A revelação bíblica é totalmente e suficientemente ampla para responder a todas as questões das nossas vidas. Tenha a certeza de que, se Deus já revelou algo na Bíblia, ele não revelará novamente ao seu ouvido em particular. Ele já disse qual é a vontade dele. Cabe a você ir atrás das Sagradas Letras. Não estou dizendo que a oração é desprezível como meio de buscar a orientação de Deus. Quando oramos, pedimos sim a direção divina sobre nossas decisões, e isso é um dever. Mas, a oração não é independente da Bíblia. Você descobre a direção de Deus em oração quando, através de suas expressões, do desenvolvimento do seu raciocínio e da ativação de suas memórias, você compreende a aplicação de uma verdade bíblica à sua situação particular. Deus não fala nenhuma novidade em oração, mas ele ensina você a entender o que você conhece da Bíblia. O Espírito abre o seu entendimento. Não é uma nova revelação nem uma nova interpretação, mas uma nova aplicação circunstancial de um princípio eterno já positivado na Bíblia. Para esse fim, a oração é fundamental.
           
Penso que a maior resistência à dependência das Escrituras é a nossa predisposição egoísta ao nos aproximarmos de Deus. Certamente, todo mundo já passou pela experiência de abrir a Bíblia em busca de uma certa resposta e não encontrá-la no texto aberto. Você quer que a Bíblia diga com quem você deve se casar ou qual curso da faculdade escolher, e o texto fala da genealogia de Jafé, ou de uma guerra entre sírios, moabitas e israelitas. Então você se decepciona pela irrelevância imediata da Bíblia e insiste que Deus responda ao seu ouvido diretamente. Aí está um exemplo do desconhecimento de nossas reais necessidades. Queremos que Deus nos dê respostas às perguntas que nós consideramos importantes, não às que ele considera. Queremos que Deus fale com total particularidade, diretamente às nossas dúvidas, esquecendo-nos de que o seu Filho já é a resposta para o que precisamos. Paulo diz aos colossenses que estão escondidos em Cristo todos os tesouros do conhecimento e da sabedoria. Não há maneira de entendermos a orientação total de Deus à nossa vida se não buscarmos, primeiro, compreender quem ele é. Pois a nossa identidade é totalmente dependente da identidade dele. Você nunca vai entender o seu lugar e a sua vida sem antes entender quem é Deus. Seria como procurar um reflexo sem o seu respectivo objeto, como buscar luz na lua estando o sol apagado.
           
Ao ler a Bíblia, esqueça um pouco as suas questões particulares, dobre o seu coração às palavras de Deus e compreenda o que ele quer que você saiba, não o que você quer saber. Perceba que Deus não trata as pessoas isoladamente, mas que ele tem princípios universais para todo ser humano. A vontade dele é, em primeiro lugar, que você o ame por quem ele é, não pelo que ele pode fazer por você. Ele quer que você obedeça aos seus mandamentos. Ele quer que você confie em sua graça e soberania, e não no seu próprio esforço. Ele quer que você creia que Jesus é o rei e o salvador, e que não há vida nem significância fora dele. Quando você perceber a glória do Senhor Jesus revelada em toda a Bíblia, seus problemas parecerão menores. Você não sofrerá tanto diante de um dilema. Você sabe que a verdade da vida está em Jesus, e não em certa decisão que você precisar tomar. Você compreenderá que as respostas para todas as suas escolhas dependem apenas do evangelho e da salvação efetuada por Jesus. Sua única necessidade para viver sabiamente é crer mais profundamente e amplamente no evangelho, e ele iluminará todos os cantos do seu coração e todos os becos da sua vida.

            André Duarte

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