O que é avivamento? Tem sido
um desejo das igrejas atuais um novo avivamento. Percebemos que há uma grande
mortandade mundana na maioria das igrejas, que os “prazeres desta vida e as
riquezas deste mundo” têm sufocado uma espiritualidade fervorosa nas
comunidades cristãs. Muitas igrejas nada mais são do que uma repetição
litúrgica ineficaz para a santificação; muitos crentes vivem em carnalidade
enquanto atendem às rotinas eclesiásticas. Percebemos que o evangelho tem sido abandonado
em troca de doutrinas fáceis que exigem pouco de alguém que professa a fé.
Sabemos que há uma necessidade urgente de que as igrejas despertem para o fato
de que Jesus Cristo é o centro e o fim de tudo o que fazemos e de quem nos
tornamos. A esse despertar chamamos de avivamento.
Mas como o
avivamento realmente se dá e se manifesta na prática? Ora, se o avivamento é um
retorno de uma Igreja morta espiritualmente para uma vivificação no evangelho,
é absolutamente necessário que se redescubra o evangelho. O testemunho
histórico nos confirma isso. Em pouco mais de um século da reforma protestante,
surgiu o movimento pietista nas igrejas luteranas. A situação das igrejas era
de uma ortodoxia muito exata, sobre a qual era necessário simplesmente manifestar
concordância. Não que a ortodoxia fosse ruim, mas ela era praticamente a única
coisa que importava. Após ir às igrejas ouvir pregações bem bíblicas, os
membros praticamente se esqueciam de aplicá-las em suas vidas e se davam ao
pecado sem remorso. Faltava também um senso de relacionamento pessoal com
Jesus; era como se toda a verdade bíblica pregada fosse uma abstração meramente
intelectual. O movimento pietista propôs-se a reavivar as igrejas, isto é,
enfatizar a necessidade da fé frutífera e da submissão alegre à vontade de
Deus, com devocionais e uma relação pessoal com Jesus que se estendesse para
fora dos ambientes de igreja. Isso só foi possível com a redescoberta do
evangelho – não uma redescoberta meramente de textos bíblicos, mas da
relevância e da maravilha que ele significa. O movimento pietista foi o
precursor do movimento morávio e de outros avivamentos em séculos seguintes,
como o Primeiro Grande Despertar, cujas grandes figuras são John Wesley
(fundador dos metodistas), George Whitefield e Jonathan Edwards, e do Segundo
Grande Despertar, com destaque para Dwight Moody. Embora não tenham sido
movimentos isentos de defeitos, eles tiveram impactos marcantes sobre o planeta
(especialmente no contexto da colonização da América do Norte) devido à intensa
evangelização, ao fervor espiritual pelo reino de Deus e à atenção a uma vida
devota e santa coerente com a doutrina.
Avivamento
é diferente de reforma. Na reforma, houve a derrubada de pressupostos errados
para o estabelecimento de outros totalmente diferentes. Algumas igrejas atuais
realmente precisam de reforma. No avivamento, há apenas a redescoberta de algo
que a Igreja esqueceu, mas que está nominalmente na crença. Igrejas evangélicas
têm uma crença que é certa em suas raízes históricas, mas elas frequentemente
se esquecem delas e estabelecem novos costumes errados que acabam esmagando o
fluir do evangelho verdadeiro. Mas, se isso é verdade, e se realmente as
igrejas têm buscado avivamento, então por que ele não acontece? Por que há
tantas falas e tantos programas, e tudo continua igual? Minha sugestão é que as
igrejas esqueceram até mesmo o que é o avivamento. Na verdade, elas precisam de
um avivamento para redescobrir o que é avivamento (yo dawg!). Nesse caso,
precisamos definir o que não é avivamento.
Avivamento
não é explosões emocionais. Embora mesmo os avivamentos históricos tenham sido
marcados por êxtases emocionais, não é esse o objetivo e não é esse o motor.
Nunca uma forte emoção pode ser evidência de renovação espiritual. Emoções são
as faculdades mais mutáveis e flutuantes do ser humano, mas Jesus e o seu
evangelho são eternamente inabaláveis. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e
sempre”. Em um momento, o povo da Igreja está chorando e surtando, movido por
um clima sustentado pela música de fundo, orações e gritos do ministro. Horas
depois, tudo isso acaba e a mesma mediocridade de sempre retorna. Avivamentos
não duram meia hora, não duram uma noite. A redescoberta do evangelho tem
resultados de longo prazo, pois ela renova toda a nossa maneira de crer e de
viver. Não importa quantas pessoas choraram e “se derramaram”, se não houve
mudança de vida para a santificação, aquele momento foi perda de tempo. Avivamentos
também não são controlados por programas. Embora haja campanhas e acampamentos,
e essas coisas tenham sua importância, não são garantia de avivamento. Pois o
avivamento não depende do homem, mas sim de Deus. Ele é quem tem soberania para
conceder ao povo a paixão pelo evangelho ou não. Isso não retira a nossa
responsabilidade de buscar, mas nos humilha para que saibamos que Deus tem
poder para agir conforme sua perfeita vontade, e não conforme nossos desejos.
Dessa forma, não é possível controlar um avivamento e determinar que ele
ocorra.
A Bíblia
alerta fortemente contra o avivamento falso. O rei Josias tentou promover uma
renovação da aliança com Deus. Foi talvez mais uma reforma do que um
avivamento, mas o ponto é que ele tentou controlar a busca do povo por Deus.
Embora ele tivesse as melhores intenções e tenha feito o que pôde, não foi
suficiente. Ele obrigou o povo a se afastar dos ídolos, confirmar o pacto do
Sinai, celebrar a Páscoa com grande festividade e matar os profetas pagãos. Ele
foi movido por zelo pelo Senhor. Porém, tão longo o próximo rei assumiu o
poder, sendo ele ímpio, tudo foi desfeito imediatamente. O povo teve o seu
momento de “avivamento” que não durou nada. Jeremias 3:6-10 dá o diagnóstico
divino sobre o ocorrido. Deus diz que Israel, o reino do norte, foi ímpio do
começo ao fim, e por isso sofreu o exílio. Judá, porém, nos dias de Josias,
voltou-se para Deus com fingimento, para logo depois voltar às práticas
perversas comuns. E Deus diz que Judá, por essa razão, agiu de maneira pior do
que Israel. A mensagem é clara. É menos pior ser coerente com sua impiedade e
viver afastado de Deus sempre do que ter os seus “momentos de renovação” que
são pura fachada e não duram nada.
Com tudo
isso, compreendemos a consistência do avivamento. É uma redescoberta do
evangelho que resulta em vida santificada, relacionamento pessoal e fervoroso
com Cristo pelo seu Espírito e testemunho digno diante dos descrentes. Mas,
como examinar a sua Igreja para ver se ela está reavivada mesmo? Tim Keller,
repetindo o que o professor dele ensinou, diz que há 6 características de uma
Igreja que são tanto a causa para ela se renovar como também o resultado de que
ela está se renovando. São elas: ensino bíblico teologicamente profundo; louvor
vibrante e passional – que nada tem a ver com o duelo entre guitarras e órgãos
ou música de rock contra hinos –; comunhão e irmandade ricas; evangelismo
destemido e límpido; preocupação social com os pobres; adaptação moderada à
cultura. Uma Igreja reavivada apresentará esses frutos. Tudo começa, porém, com
a conversão genuína à fé cristã, ao testemunho das Escrituras e ao amor a
Cristo. Pois é a sua verdade que moverá todas as coisas para nele convergirem,
de forma que a vida determinada pelo evangelho poderá iniciar.
Pense
também no que significa a palavra “avivamento”. A ideia não é trazer vida ao
que está morto? Como não lembrar da ressurreição de Cristo? Não é a
ressurreição de Jesus que nos concede o novo nascimento, para que morramos para
a carne e revivamos para Deus? É isso que avivamento significa: morrer para o
mundo e ressuscitar para as coisas do alto.
André Duarte
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