domingo, 5 de maio de 2013

Avivamento verdadeiro



          O que é avivamento? Tem sido um desejo das igrejas atuais um novo avivamento. Percebemos que há uma grande mortandade mundana na maioria das igrejas, que os “prazeres desta vida e as riquezas deste mundo” têm sufocado uma espiritualidade fervorosa nas comunidades cristãs. Muitas igrejas nada mais são do que uma repetição litúrgica ineficaz para a santificação; muitos crentes vivem em carnalidade enquanto atendem às rotinas eclesiásticas. Percebemos que o evangelho tem sido abandonado em troca de doutrinas fáceis que exigem pouco de alguém que professa a fé. Sabemos que há uma necessidade urgente de que as igrejas despertem para o fato de que Jesus Cristo é o centro e o fim de tudo o que fazemos e de quem nos tornamos. A esse despertar chamamos de avivamento.
           
Mas como o avivamento realmente se dá e se manifesta na prática? Ora, se o avivamento é um retorno de uma Igreja morta espiritualmente para uma vivificação no evangelho, é absolutamente necessário que se redescubra o evangelho. O testemunho histórico nos confirma isso. Em pouco mais de um século da reforma protestante, surgiu o movimento pietista nas igrejas luteranas. A situação das igrejas era de uma ortodoxia muito exata, sobre a qual era necessário simplesmente manifestar concordância. Não que a ortodoxia fosse ruim, mas ela era praticamente a única coisa que importava. Após ir às igrejas ouvir pregações bem bíblicas, os membros praticamente se esqueciam de aplicá-las em suas vidas e se davam ao pecado sem remorso. Faltava também um senso de relacionamento pessoal com Jesus; era como se toda a verdade bíblica pregada fosse uma abstração meramente intelectual. O movimento pietista propôs-se a reavivar as igrejas, isto é, enfatizar a necessidade da fé frutífera e da submissão alegre à vontade de Deus, com devocionais e uma relação pessoal com Jesus que se estendesse para fora dos ambientes de igreja. Isso só foi possível com a redescoberta do evangelho – não uma redescoberta meramente de textos bíblicos, mas da relevância e da maravilha que ele significa. O movimento pietista foi o precursor do movimento morávio e de outros avivamentos em séculos seguintes, como o Primeiro Grande Despertar, cujas grandes figuras são John Wesley (fundador dos metodistas), George Whitefield e Jonathan Edwards, e do Segundo Grande Despertar, com destaque para Dwight Moody. Embora não tenham sido movimentos isentos de defeitos, eles tiveram impactos marcantes sobre o planeta (especialmente no contexto da colonização da América do Norte) devido à intensa evangelização, ao fervor espiritual pelo reino de Deus e à atenção a uma vida devota e santa coerente com a doutrina.
           
Avivamento é diferente de reforma. Na reforma, houve a derrubada de pressupostos errados para o estabelecimento de outros totalmente diferentes. Algumas igrejas atuais realmente precisam de reforma. No avivamento, há apenas a redescoberta de algo que a Igreja esqueceu, mas que está nominalmente na crença. Igrejas evangélicas têm uma crença que é certa em suas raízes históricas, mas elas frequentemente se esquecem delas e estabelecem novos costumes errados que acabam esmagando o fluir do evangelho verdadeiro. Mas, se isso é verdade, e se realmente as igrejas têm buscado avivamento, então por que ele não acontece? Por que há tantas falas e tantos programas, e tudo continua igual? Minha sugestão é que as igrejas esqueceram até mesmo o que é o avivamento. Na verdade, elas precisam de um avivamento para redescobrir o que é avivamento (yo dawg!). Nesse caso, precisamos definir o que não é avivamento.
           
Avivamento não é explosões emocionais. Embora mesmo os avivamentos históricos tenham sido marcados por êxtases emocionais, não é esse o objetivo e não é esse o motor. Nunca uma forte emoção pode ser evidência de renovação espiritual. Emoções são as faculdades mais mutáveis e flutuantes do ser humano, mas Jesus e o seu evangelho são eternamente inabaláveis. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre”. Em um momento, o povo da Igreja está chorando e surtando, movido por um clima sustentado pela música de fundo, orações e gritos do ministro. Horas depois, tudo isso acaba e a mesma mediocridade de sempre retorna. Avivamentos não duram meia hora, não duram uma noite. A redescoberta do evangelho tem resultados de longo prazo, pois ela renova toda a nossa maneira de crer e de viver. Não importa quantas pessoas choraram e “se derramaram”, se não houve mudança de vida para a santificação, aquele momento foi perda de tempo. Avivamentos também não são controlados por programas. Embora haja campanhas e acampamentos, e essas coisas tenham sua importância, não são garantia de avivamento. Pois o avivamento não depende do homem, mas sim de Deus. Ele é quem tem soberania para conceder ao povo a paixão pelo evangelho ou não. Isso não retira a nossa responsabilidade de buscar, mas nos humilha para que saibamos que Deus tem poder para agir conforme sua perfeita vontade, e não conforme nossos desejos. Dessa forma, não é possível controlar um avivamento e determinar que ele ocorra.
           
A Bíblia alerta fortemente contra o avivamento falso. O rei Josias tentou promover uma renovação da aliança com Deus. Foi talvez mais uma reforma do que um avivamento, mas o ponto é que ele tentou controlar a busca do povo por Deus. Embora ele tivesse as melhores intenções e tenha feito o que pôde, não foi suficiente. Ele obrigou o povo a se afastar dos ídolos, confirmar o pacto do Sinai, celebrar a Páscoa com grande festividade e matar os profetas pagãos. Ele foi movido por zelo pelo Senhor. Porém, tão longo o próximo rei assumiu o poder, sendo ele ímpio, tudo foi desfeito imediatamente. O povo teve o seu momento de “avivamento” que não durou nada. Jeremias 3:6-10 dá o diagnóstico divino sobre o ocorrido. Deus diz que Israel, o reino do norte, foi ímpio do começo ao fim, e por isso sofreu o exílio. Judá, porém, nos dias de Josias, voltou-se para Deus com fingimento, para logo depois voltar às práticas perversas comuns. E Deus diz que Judá, por essa razão, agiu de maneira pior do que Israel. A mensagem é clara. É menos pior ser coerente com sua impiedade e viver afastado de Deus sempre do que ter os seus “momentos de renovação” que são pura fachada e não duram nada.
           
Com tudo isso, compreendemos a consistência do avivamento. É uma redescoberta do evangelho que resulta em vida santificada, relacionamento pessoal e fervoroso com Cristo pelo seu Espírito e testemunho digno diante dos descrentes. Mas, como examinar a sua Igreja para ver se ela está reavivada mesmo? Tim Keller, repetindo o que o professor dele ensinou, diz que há 6 características de uma Igreja que são tanto a causa para ela se renovar como também o resultado de que ela está se renovando. São elas: ensino bíblico teologicamente profundo; louvor vibrante e passional – que nada tem a ver com o duelo entre guitarras e órgãos ou música de rock contra hinos –; comunhão e irmandade ricas; evangelismo destemido e límpido; preocupação social com os pobres; adaptação moderada à cultura. Uma Igreja reavivada apresentará esses frutos. Tudo começa, porém, com a conversão genuína à fé cristã, ao testemunho das Escrituras e ao amor a Cristo. Pois é a sua verdade que moverá todas as coisas para nele convergirem, de forma que a vida determinada pelo evangelho poderá iniciar.
           
Pense também no que significa a palavra “avivamento”. A ideia não é trazer vida ao que está morto? Como não lembrar da ressurreição de Cristo? Não é a ressurreição de Jesus que nos concede o novo nascimento, para que morramos para a carne e revivamos para Deus? É isso que avivamento significa: morrer para o mundo e ressuscitar para as coisas do alto.  

André Duarte

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