domingo, 12 de maio de 2013

Devocional: Bíblia, meditação e oração



Sabemos que é necessário praticar a leitura da Bíblia e a oração para mantermo-nos acesos no amor a Deus. São meios de graça maravilhosos que Deus nos entregou para realizarmos comunhão com ele. A maioria dos crentes chama a prática diária dessas coisas de devocional. Não sei por quê, mas não tem problema. Normalmente, pratica-se a devocional, como foi dito, diariamente. É uma regularidade boa e tem certo fundamento na petição do Pai Nosso “dá-nos o pão de cada dia”. A rotina humana é baseada no tempo de um dia mais do que em qualquer outra medida temporal, e convém que a devocional seja também semelhantemente periódica. Mas, como qualquer outra prática cristã, existem os desvios para o legalismo e para o antinomismo.

O legalismo está presente quando um crente se torna tão dependente de uma inquebrável rotina devocional que passa a fazer dela o salvador da sua vida. Conheço pessoas que, se falham em ler a Bíblia e orar em um só dia, começam a se apavorar com o dia seguinte, pensando que já estão se desviando de Deus e suscetíveis à apostasia. É muito importante entender que a salvação, a segurança e a santidade estão na obra de Cristo, e não na sua obra em usar os meios de graça dele. É uma distinção sutil, mas que faz grande diferença. Se você confiar na sua devocional rígida e inflexível para a manutenção da sua salvação, declara que Jesus é dispensável e chama a si mesmo de seu próprio redentor. Já o antinomismo está ligado à necessidade da sensação subjetiva de espontaneidade e disposição para realizar a devocional. A ideia é: hoje estou cansado, tive muita coisa pra fazer e não estou com vontade de ler a Bíblia e orar. Melhor, então, não fazer nada. Senão, vai ficar muito mecânico e artificial. Bem, acontece que Deus é quem manda, e o que ele ordena é para ser cumprido. Se você for obedecer à vontade de Deus apenas quando sente muita vontade, então quem dá a última palavra é você e, assim, você se proclama como o chefe de Deus, tal qual o legalista. Deus ordena que você examine e ame as Escrituras, e que você ore sempre. Não que as ordens de Deus ignorem a sua disposição subjetiva. Mas a espontaneidade não surge do seu coração – lembre-se de que a única coisa que você faz totalmente espontaneamente é pecar. A espontaneidade é criada, educada, construída pelo trabalho do Espírito enquanto você obedece aos mandamentos divinos. Primeiro, vem a obediência, depois vem a sua vontade.

Vamos a algumas orientações sobre como aproveitar com excelência uma devocional. Dividirei em três partes: a leitura da Bíblia, a meditação no que foi lido e a oração.

Leitura da Bíblia: Em primeiro lugar, saiba que você deve ler a Bíblia toda. Você não vai progredir na compreensão de Deus se ficar lendo sempre os textos fáceis de que você mais gosta. Além de perder partes importantes da Bíblia – pois, ao contrário do que o seu coração diz, todas as partes são importantes –, você acaba sendo arbitrário quanto àquilo que você deseja aprender. Leia, portanto, em sequência. Se quiser, pode ler outro texto que tenha relação com o principal de sua leitura, mas não perca a sequência. Já ouvi muitas pessoas dizendo “O problema é que eu esqueço do que eu li anteriormente. Por isso, não posso avançar e fico voltando para o mesmo texto várias vezes”. Por mais estranho que pareça, minha resposta é: não importa que você tenha esquecido. Em primeiro lugar, você nunca esquece completamente; alguma coisa do texto ficou registrada no seu inconsciente. Em segundo lugar, de acordo com esse raciocínio, você nunca lerá a Bíblia toda. Você realmente acha que todas as pessoas que leram a Bíblia toda só concluíram a primeira leitura completa depois de memorizar completamente os ensinos de todo o resto? Meio impossível, não? Siga a sequência, não importa que você ache que não está sendo de bom proveito. No futuro, você verá que foi fundamental. E, é claro, as dicas de sempre: leia com atenção, entenda o contexto, respeite a gramática. Compare versões diferentes da Bíblia (as boas, por favor; sugiro que esqueça a NTLH). Se não entendeu algum versículo, procure um comentário bíblico.

Meditação: Este é um ponto quase sempre esquecido, mas essencial para a edificação pessoal. Tim Keller diz que a meditação é o meio-termo entre a leitura e a oração. Nela, você vai gastar um tempo silencioso pensando (no meu caso, faço isso melhor escrevendo do que só pensando) no que você acabou de ler. Pensando no que o texto significa. Não é o momento intelectual da exegese, mas sim a reflexão sobre as aplicações e implicações. Pense no que o texto significa sobre você, sua vida, sua Igreja. No que ele ensina sobre Deus. Em como ele se relaciona com Jesus o que o que ele fez. Você vai fazer um sermão para si mesmo, pregar para si mesmo. Keller conta a história em que Martinho Lutero estava no barbeiro, e este lhe perguntou “Mestre Lutero, como você ora?”, e Lutero, conciso como pôde, respondeu-lhe com um artigo de 40 páginas sobre a oração. A maior parte desse escrito, na verdade, ensina a como se preparar para orar, que é justamente a prática de meditar. Lutero diz que ele segue a oração do Pai Nosso, depois os 10 mandamentos e então algum outro texto bíblico, palavra por palavra, respondendo a si mesmo a 5 perguntas com base no que ele leu: Como posso adorar Deus por isso? Como posso confessar um pecado a Deus baseado nisso? Como posso agradecer a Jesus por me dar isso? Do que eu preciso hoje para conseguir cumprir isso? Qual comportamento errado, qual emoção danosa e qual atitude falsa resultam de mim quando eu me esqueço da realidade disso? E Lutero não daria início à sua oração até que alguma verdade de Deus acendesse em sua alma. E veja que a meditação não é moralista, como se tudo o que você tivesse de aprender fossem leis de Deus, e nem é motivacional, como se tudo fosse para confortar o seu coração ansioso. A meditação deve ir do amor de Deus para o pecado humano, o evangelho de Cristo e a sua eficácia para ajudar você a parar de pecar, reconhecer a glória de Deus e amá-lo.

Oração. Enfim, na oração, você fala com Deus. E será bem mais fácil após você trazer as verdades para o seu coração na etapa da meditação. Para as orientações na oração, temos todo o livro dos salmos e a Oração Dominical, que é o Pai Nosso. São textos que ensinam quais são as coisas que Deus deseja que você diga a ele. Ele graciosamente concede modelos para que você diga palavras ensinadas por ele mesmo ao orar. Você aprende que é bom orar pelo Reino de Deus, para louvá-lo e declarar seus atributos, agradecê-lo por toda a sua obra e o seu cuidado, pedir que ele o ajude com seus problemas. Compreenda que a oração não serve para que Deus se convença a fazer o que você quer, mas sim para que você, ao orar, seja por ele tratado, com base nas etapas anteriores da devocional, a se transformar conforme o caráter e a vontade dele. Verbalize para Deus o resultado daquilo em que você meditou. Agradeça-o por suas bênçãos, especialmente as bênçãos espirituais da adoção por meio de Cristo. Peça-lhe para que ele guarde o seu coração de pecar e se desviar, que ele cative sua mente para que você cresça em amor. Louve-o por seu poder, sua graça e sua soberania. Confesse seus pecados e suas “boas obras” com motivos pecaminosos. Ore em consciência da comunidade de cristãos da sua Igreja e do mundo, oferecendo ações de graças e petições. Acredite, assunto para orar não falta. Basta que você prepare o seu coração pela leitura da Bíblia e pela meditação, e você verá que há muito mais para ser orado do que o seu mesmo probleminha de sempre.

Para muitas pessoas, é realmente difícil realizar uma devocional assim, com o tempo necessário. Embora haja pessoas que simplesmente enrolam, há aquelas que de fato têm uma rotina apertada e cheia. Porém, procure aproveitar os momentos oportunos para realizar sua devocional, conforme suas possibilidades. Não pense que vai morrer só por ter aberto mão da devocional em um dia ou outro. Mas também não se acomode com o hábito da procrastinação. Lembre-se, tudo depende do fato de que você crê em Jesus, ama-o e a ele se sujeita. Aja em conformidade com esse fato.

André Duarte

Um comentário:

  1. Ótimo post, poderia informar qual a bibliografia do Tim Keller utilizada?
    Obrigado
    Deus abençoe

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