quarta-feira, 22 de maio de 2013

Namorar ou esperar?



           Bem, lá vamos nós de novo falar sobre namoro. Falo aqui como um jovem para um público jovem. Sabemos que uma das maiores preocupações dos adultos com nossa formação moral tem a ver com namoro. Já ouvimos inúmeras pregações, desde a adolescência, sobre isso. E grande parte das regras morais favoritas dos pregadores tem a ver com namoro. Mas essa preocupação não é só deles, é também nossa, que, na adolescência, pensamos que vamos morrer se não namorarmos tal pessoa ou se demorarmos mais do que tal tempo para namorarmos. E, quando ficamos jovens, temos a impressão de que o tempo está acabando, as opções estão ficando escassas – especialmente as mulheres, por existirem em maior número. Como lidar com essa situação? Como encontrar uma solução melhor do que o ascetismo e a negação ou do que o desespero ao tentar qualquer coisa?
           
Uma das dificuldades surge a partir de uma premissa óbvia: a Bíblia não fala sobre namoro. Não adianta tentar encontrar namoro na história de Sansão, como já vi muita gente fazendo. Namorar é uma prática cultural. Pode-se perguntar, por conseguinte, se o namoro é realmente necessário para o casamento, mas não penso ter uma boa resposta pra isso. Mas há de se notar algo importante, que já serve para dar um limite para as possibilidades de compreensão teológica: se uma prática cultural não deve ser sacralizada como absoluta, isso serve não apenas para o namoro, mas para qualquer das alternativas que alguns crentes de linha mais ascética determinam. Por exemplo, a tal da “amizade especial”. Ou a “corte”. Muitos adultos e jovens desse tipo de consciência pensam que namorar, por si só, já é errado, que alternativas mais ascéticas (por não envolverem beijo na boca, penso eu) são as certas. Mas, como diz o Tim Keller no livro “O significado do casamento”, determinar o namoro como ruim e a corte como boa é nada mais do que trocar uma prática cultural por outra. Assim, se for por meio de namoro, corte ou amizade especial, o importante é não determinar qualquer dessas práticas como “bíblicas”, mas sim como opções intercambiáveis conforme a conveniência prática delas para o alcance do objetivo do par, o casamento.
           
O temor ascético do namoro também afeta negativamente a maneira como decidimos iniciar ou não os namoros. Implicitamente, existe uma regra consensual em muitos crentes que, pra ser bem claro, diz que quanto menos pessoas você beijar na boca, mais santo você é. Baseado nessa visão negativa de contatos íntimos primários, o crente solteiro tenta namorar o mínimo de pessoas que puder, para que, conforme suas expectativas, haja a máxima probabilidade de ele casar com quem namorar, e da forma “mais pura”. O problema é que essa prática é tão danosa quanto o tentar namorar qualquer pessoa que aparecer, sem reflexão. Namorar, com o intuito de conhecer – aliás, o intuito principal do namoro em sua concepção contemporânea, já quase esquecido – é uma prática boa, que dá experiência, maturidade. Você não aprende a ser um bom cônjuge só com teoria. Algumas pessoas precisam sim namorar mais de uma ou duas vezes para aprenderem lições que só o racionalismo cartesiano em clausura não ensina. E não há nada de impuro se você acabar beijando na boca de algumas pessoas diferentes. Não há dogma bíblico a respeito disso.
           
Outra razão para a preferência ascética é a defesa própria contra sofrimentos altamente temidos que podem surgir durante o curso e principalmente o término de um namoro. Acontece muito com quem já namorou e foi horrível. Mas essa solução ajuda mesmo? Porque você teve um namoro péssimo e sofrido, a melhor maneira de lidar com isso é evitar namoros que tenham um mínimo de suspeita de imperfeição? Sério: todo namoro vai fazer você sofrer em algum momento. Não há par perfeito, e nem você é perfeito. E encare de uma vez a verdade de que sofrer não tem problema nenhum. Qual o problema de sofrer? Você acha que teria aprendido alguma coisa na vida se nunca tivesse sofrido? Vislumbre a possibilidade não do inexistência de sofrimento, mas da superação de sofrimentos que certamente virão. Você sofre quando precisa estudar para uma prova, mas nem por isso deixa de fazê-la. Agora, existe um tipo de sofrimento que pode ser perfeitamente eliminado: o sofrimento que vem da idolatria, do não reconhecimento de que Jesus é tudo de que você precisa. Muita gente permanece no ascetismo porque procura um par que seja o seu salvador, o redentor de sua felicidade. E, obviamente, não acha nunca. E, quando pensa que acha, fracassa. Você deve ser completo em Jesus, dependente somente dele para a felicidade e a estabilidade psicológica e emocional. Nenhum cônjuge no mundo fará isso pra você. Quando você compreender isso, terá muito menos medo de sofrer quando for escolher alguém para namorar. Se o seu ascetismo é dessa natureza, você é tão idólatra quanto a pessoa que você julga por estar sempre namorando todo mundo que aparece. Os dois estão buscando significância pessoal no par.
           
Sabendo dessas coisas, fica muito mais fácil descobrir a pessoa certa pra você. Claro, é sempre importante lembrar: concentre-se, em primeiro lugar, em ser a pessoa certa. É risível a pessoa que namora terrivelmente, mas exige um par maravilhoso. Que pensa naquela pessoa toda santa e enviada por Deus, mas que mal cuida da própria santidade e sabedoria. Se você for a pessoa certa, mesmo quando namorar a errada, vai saber lidar com isso sabiamente. Voltando: sabendo do que foi colocado nos parágrafos anteriores, ficou faltando uma última dica para encontrar a pessoa certa: tentativa e erro. Empirismo. Claro que existem pessoas do seu conhecimento que você pode eliminar do seu mapa de possibilidades apenas enxergando incompatibilidades óbvias. Mas, quanto ao resto todo, você só saberá quem é certo e quem é errado pela tentativa de namorar. Sério, vá sem medo. Chegue na pessoa, mande a conversa, seja direto (claro, há sutilezas na conquista que levam um tempinho). Esqueça aquela frescura de pré-adolescente de ficar com medinho de ser rejeitado. Você já cresceu, você já sabe que o mundo não vai se acabar se você ouvir um não. E digo isso para homens e mulheres igualmente. Sim, mulheres também podem dar a “chegada”. Se o homem que ouvir a sua iniciativa julgar você como uma piriguete, ele já provou ser contaminado pelo mundanismo e poupou o seu trabalho de descobrir se ele é a pessoa certa. Lembre-se: namorar vem antes do conhecer, e não o contrário. Se você preferir, use a corte ou sei lá, mas ficar parado não adianta. No mais, lembre-se de que achar logo um par não é a razão da sua vida, não é motivo para desespero e pode ser sinal de idolatria.
           
Quero também expor minha crítica ao movimento ascético no facebook do Eu Escolhi Esperar. Calma, deixe-me esclarecer: minha briga é com a página do facebook, não com o blog. O blog fala sobre esperar o casamento para fazer sexo, e não é contra isso que falo. A página do facebook fala para esperar alguma coisa indefinida e divina para namorar. E, para ser mais específico, não são todas as publicações da página nesse sentido, mas a maioria. Não sei como ela é hoje, porque eu já tirei do meu feed de notícias as pessoas que compartilhavam compulsoriamente aquelas coisas (quem compartilhava só esporadicamente parece que parou). Outra coisa: minha briga não é pessoal, mas teológica. Claro, como poderia ser pessoal, se eu já tenho a minha gata, que escolheu namorar em vez de esperar 8)? Não é problema meu se há tantas meninas ascéticas. Mas, porque eu me preocupo que a verdade de Deus seja crida pelas minhas irmãs (falo no feminino porque não conheci ainda nenhum homem que aderisse seriamente ao movimento da página do facebook), quero fazer essa crítica.
           
O grande problema de muitas publicações da página é o uso em vão do nome de Deus. Toda vez em que você coloca uma expectativa pessoal na boca de Deus, você usa o nome dele de forma profana. Primeira coisa: Deus nunca prometeu que você se casaria. Você pode morrer solteiro e isso em nada vai tornar Deus menos fiel e verdadeiro. Já pensou em fazer voto de celibato? É um conselho de Paulo para quem deseja servir o evangelho com exclusividade, sem ser atrapalhado pela vida em família. Mas quase ninguém pensa nisso, por ser tão condicionado a idolatrar a necessidade de se casar (onde eu me incluo pela minha história, sim). Menos ainda Deus prometeu que, se você for bonzinho e agradá-lo, ele vai te dar o cônjuge ideal e perfeito. A própria motivação de fazer a vontade de Deus para que ele dê uma recompensa já é pecaminosa. Casar com a pessoa ideal é vontade sua, nunca foi promessa de Deus. E se Deus quiser te dar um cônjuge péssimo, por propósitos didáticos? Uma enorme parte das publicações do EEE no facebook morre aqui, pois elas frequentemente assumem como certa essa bênção de Deus sem que ele jamais tenha prometido isso nas Escrituras. Muito menos dado um método, “esperar”, para que tais promessas sejam aplicáveis.
           
Segue-se, com isso, uma fé irracional nesse método. Supostamente, ele só dá certo porque é o método desejado por Deus. Mas, além de ele ser totalmente estranho à Bíblia, sendo conveniente apenas para a pulsão ascética; se você remover a garantia de Deus da sua eficácia, ele se torna completamente absurdo e louco. O emprego é uma bênção de Deus, o ingresso na universidade também, a aquisição de um imóvel igualmente, mas nenhuma dessas coisas acontece se você ficar esperando. Você precisa correr atrás. Agora, sabe o que Deus realmente prometeu? Comida e vestimenta. E você fica esperando que ele dê o alimento de colherzinha na sua boca, ou que ele chegue na sua casa com uma sacola da feira (porque roupa da Renner já é exigir demais)? Não, você vai ao mercado, compra aquele filé de frango, tempera, frita e se delicia. Se, para adquirir o que Deus prometeu, você faz esforço, por que você pensa que obterá o que ele não prometeu sem fazer esforço? Claro que algumas pessoas dirão que escolheram esperar e conseguiram encontrar o seu par maravilhoso. Mas, não foi por causa do método, mas da graça soberana de Deus que pode te dar o par que ele quiser, inclusive o certo. Porém, isso não justifica o uso blasfemo do nome de Deus em colocar como promessa dele algo que é apenas o seu desejo. E nem desmente o fato de que o método carece da mínima razoabilidade. Perceba que eu me refiro a extremismos da proposta da página do facebook. Se você curte a página e gosta do movimento, mas sem assumir os absurdos que eu critiquei, tudo bem.
           
Sei que esse post é parcial e incompleto. Sei que há muito mais sobre namoro que precisa ser considerado. Mas não caberia num post. Apenas coloquei questões que eu considero mais urgentes e menos aprendidas do que outras. Coloquei muitas dicas, muitas opiniões, e eu não espero que você concorde com todas elas. Mas, se pareceu-lhe bem, tenho dito.

            André Duarte

4 comentários:

  1. tenho dito!
    hahah
    Boa, curti o post! alias, tenho gostado dos seus textos cara, mto edificantes!
    Que Deus continue te abençoando!

    Abs

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    1. Obrigado, Fernando! Não foi todo mundo que curtiu, hehe. Mas, graças a Deus que tem me usado para edificar os irmãos. Valeu!

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  2. André Duarte, falou pouco, mas falou bonito! Concordo com vc, ainda mais que vc sabe exatamente separar o que é cultural e bíblico própriamente. Sou chará do amigo que comentou ae em cima, sou jovem, tenho 19 anos, e meu pai se converteu nessa mesma idade depois de uma vida muito "louca"... Ele se dedicou a procurar uma exposa escolhida por Deus, e passou 3 anos orando de joelhos todos os dias, como ele mesmo se refere sempre... Mas exatamente como vc falou, ele não serviu a Deus para esse propósito, mas sim buscou primeiramente fazer a vontade dEle independentemente de pastores, irmãos e etc. Tenho orgulho de dizer que meu pai era um grande evangelista na sua juventude, como minha mãe mesmo é testemunha. Então, a grande questão é que meu pai teve a experiência de ouvir Deus falar com ele, na séria mesmo... Minha mãe estava de costas pra ele na igreja quando ocorreu essa experiência. Não foi a primeira vez que ocorreu dele ouvir Deus falar, mas como as outras vezes, foi completamente necessário que ele ouvisse. Não estou entrando em detalhes pq escreveria muito mais aqui. A questão é que minha mãe é 10 anos mais nova que meu pai, então faça as contas. É estranho, mas Deus sabe exatamente o que faz. Hj estão a 25 anos casados e são uma benção na minha vida... Acho que até hj não vi melhor relação entre família que a nossa, graças a Deus. Estou dizendo isso tudo pra confirmar que Deus abençoa se esperarmos, mas não esperar sentado, e sim correndo atrás, claro da maneira correta. Meu pai fez o mesmo, tenho tentado fazer o mesmo, e Deus vai ajudando! hahaha

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    1. Massa! Bom demais! É isso mesmo, o esperar existe no sentido de ser bem aproveitado pensando, analisando... com a finalidade de mandar a chegada da melhor forma. E também buscando ser a pessoa correta, não apenas encontrá-la para si. Obrigado pelo comentário! :)

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