Bem, lá vamos nós de novo falar
sobre namoro. Falo aqui como um jovem para um público jovem. Sabemos que uma
das maiores preocupações dos adultos com nossa formação moral tem a ver com
namoro. Já ouvimos inúmeras pregações, desde a adolescência, sobre isso. E
grande parte das regras morais favoritas dos pregadores tem a ver com namoro.
Mas essa preocupação não é só deles, é também nossa, que, na adolescência,
pensamos que vamos morrer se não namorarmos tal pessoa ou se demorarmos mais do
que tal tempo para namorarmos. E, quando ficamos jovens, temos a impressão de
que o tempo está acabando, as opções estão ficando escassas – especialmente as
mulheres, por existirem em maior número. Como lidar com essa situação? Como encontrar
uma solução melhor do que o ascetismo e a negação ou do que o desespero ao
tentar qualquer coisa?
Uma das
dificuldades surge a partir de uma premissa óbvia: a Bíblia não fala sobre
namoro. Não adianta tentar encontrar namoro na história de Sansão, como já vi
muita gente fazendo. Namorar é uma prática cultural. Pode-se perguntar, por
conseguinte, se o namoro é realmente necessário para o casamento, mas não penso
ter uma boa resposta pra isso. Mas há de se notar algo importante, que já serve
para dar um limite para as possibilidades de compreensão teológica: se uma
prática cultural não deve ser sacralizada como absoluta, isso serve não apenas
para o namoro, mas para qualquer das alternativas que alguns crentes de linha
mais ascética determinam. Por exemplo, a tal da “amizade especial”. Ou a “corte”.
Muitos adultos e jovens desse tipo de consciência pensam que namorar, por si
só, já é errado, que alternativas mais ascéticas (por não envolverem beijo na
boca, penso eu) são as certas. Mas, como diz o Tim Keller no livro “O
significado do casamento”, determinar o namoro como ruim e a corte como boa é
nada mais do que trocar uma prática cultural por outra. Assim, se for por meio
de namoro, corte ou amizade especial, o importante é não determinar qualquer dessas
práticas como “bíblicas”, mas sim como opções intercambiáveis conforme a
conveniência prática delas para o alcance do objetivo do par, o casamento.
O temor
ascético do namoro também afeta negativamente a maneira como decidimos iniciar
ou não os namoros. Implicitamente, existe uma regra consensual em muitos
crentes que, pra ser bem claro, diz que quanto menos pessoas você beijar na
boca, mais santo você é. Baseado nessa visão negativa de contatos íntimos
primários, o crente solteiro tenta namorar o mínimo de pessoas que puder, para
que, conforme suas expectativas, haja a máxima probabilidade de ele casar com
quem namorar, e da forma “mais pura”. O problema é que essa prática é tão
danosa quanto o tentar namorar qualquer pessoa que aparecer, sem reflexão.
Namorar, com o intuito de conhecer – aliás, o intuito principal do namoro em
sua concepção contemporânea, já quase esquecido – é uma prática boa, que dá
experiência, maturidade. Você não aprende a ser um bom cônjuge só com teoria. Algumas
pessoas precisam sim namorar mais de uma ou duas vezes para aprenderem lições
que só o racionalismo cartesiano em clausura não ensina. E não há nada de impuro
se você acabar beijando na boca de algumas pessoas diferentes. Não há dogma
bíblico a respeito disso.
Outra razão
para a preferência ascética é a defesa própria contra sofrimentos altamente
temidos que podem surgir durante o curso e principalmente o término de um
namoro. Acontece muito com quem já namorou e foi horrível. Mas essa solução
ajuda mesmo? Porque você teve um namoro péssimo e sofrido, a melhor maneira de
lidar com isso é evitar namoros que tenham um mínimo de suspeita de
imperfeição? Sério: todo namoro vai fazer você sofrer em algum momento. Não há
par perfeito, e nem você é perfeito. E encare de uma vez a verdade de que
sofrer não tem problema nenhum. Qual o problema de sofrer? Você acha que teria
aprendido alguma coisa na vida se nunca tivesse sofrido? Vislumbre a
possibilidade não do inexistência de sofrimento, mas da superação de
sofrimentos que certamente virão. Você sofre quando precisa estudar para uma
prova, mas nem por isso deixa de fazê-la. Agora, existe um tipo de sofrimento
que pode ser perfeitamente eliminado: o sofrimento que vem da idolatria, do não
reconhecimento de que Jesus é tudo de que você precisa. Muita gente permanece
no ascetismo porque procura um par que seja o seu salvador, o redentor de sua
felicidade. E, obviamente, não acha nunca. E, quando pensa que acha, fracassa.
Você deve ser completo em Jesus, dependente somente dele para a felicidade e a
estabilidade psicológica e emocional. Nenhum cônjuge no mundo fará isso pra
você. Quando você compreender isso, terá muito menos medo de sofrer quando for
escolher alguém para namorar. Se o seu ascetismo é dessa natureza, você é tão
idólatra quanto a pessoa que você julga por estar sempre namorando todo mundo
que aparece. Os dois estão buscando significância pessoal no par.
Sabendo dessas
coisas, fica muito mais fácil descobrir a pessoa certa pra você. Claro, é
sempre importante lembrar: concentre-se, em primeiro lugar, em ser a pessoa
certa. É risível a pessoa que namora terrivelmente, mas exige um par
maravilhoso. Que pensa naquela pessoa toda santa e enviada por Deus, mas que
mal cuida da própria santidade e sabedoria. Se você for a pessoa certa, mesmo
quando namorar a errada, vai saber lidar com isso sabiamente. Voltando: sabendo
do que foi colocado nos parágrafos anteriores, ficou faltando uma última dica
para encontrar a pessoa certa: tentativa e erro. Empirismo. Claro que existem
pessoas do seu conhecimento que você pode eliminar do seu mapa de
possibilidades apenas enxergando incompatibilidades óbvias. Mas, quanto ao
resto todo, você só saberá quem é certo e quem é errado pela tentativa de
namorar. Sério, vá sem medo. Chegue na pessoa, mande a conversa, seja direto
(claro, há sutilezas na conquista que levam um tempinho). Esqueça aquela
frescura de pré-adolescente de ficar com medinho de ser rejeitado. Você já
cresceu, você já sabe que o mundo não vai se acabar se você ouvir um não. E
digo isso para homens e mulheres igualmente. Sim, mulheres também podem dar a “chegada”.
Se o homem que ouvir a sua iniciativa julgar você como uma piriguete, ele já
provou ser contaminado pelo mundanismo e poupou o seu trabalho de descobrir se
ele é a pessoa certa. Lembre-se: namorar vem antes do conhecer, e não o
contrário. Se você preferir, use a corte ou sei lá, mas ficar parado não
adianta. No mais, lembre-se de que achar logo um par não é a razão da sua vida,
não é motivo para desespero e pode ser sinal de idolatria.
Quero também
expor minha crítica ao movimento ascético no facebook do Eu Escolhi Esperar.
Calma, deixe-me esclarecer: minha briga é com a página do facebook, não com o
blog. O blog fala sobre esperar o casamento para fazer sexo, e não é contra
isso que falo. A página do facebook fala para esperar alguma coisa indefinida e
divina para namorar. E, para ser mais específico, não são todas as publicações
da página nesse sentido, mas a maioria. Não sei como ela é hoje, porque eu já
tirei do meu feed de notícias as pessoas que compartilhavam compulsoriamente
aquelas coisas (quem compartilhava só esporadicamente parece que parou). Outra
coisa: minha briga não é pessoal, mas teológica. Claro, como poderia ser
pessoal, se eu já tenho a minha gata, que escolheu namorar em vez de esperar 8)?
Não é problema meu se há tantas meninas ascéticas. Mas, porque eu me preocupo
que a verdade de Deus seja crida pelas minhas irmãs (falo no feminino porque
não conheci ainda nenhum homem que aderisse seriamente ao movimento da página
do facebook), quero fazer essa crítica.
O grande
problema de muitas publicações da página é o uso em vão do nome de Deus. Toda
vez em que você coloca uma expectativa pessoal na boca de Deus, você usa o nome
dele de forma profana. Primeira coisa: Deus nunca prometeu que você se casaria.
Você pode morrer solteiro e isso em nada vai tornar Deus menos fiel e
verdadeiro. Já pensou em fazer voto de celibato? É um conselho de Paulo para
quem deseja servir o evangelho com exclusividade, sem ser atrapalhado pela vida
em família. Mas quase ninguém pensa nisso, por ser tão condicionado a idolatrar
a necessidade de se casar (onde eu me incluo pela minha história, sim). Menos
ainda Deus prometeu que, se você for bonzinho e agradá-lo, ele vai te dar o
cônjuge ideal e perfeito. A própria motivação de fazer a vontade de Deus para
que ele dê uma recompensa já é pecaminosa. Casar com a pessoa ideal é vontade
sua, nunca foi promessa de Deus. E se Deus quiser te dar um cônjuge péssimo,
por propósitos didáticos? Uma enorme parte das publicações do EEE no facebook
morre aqui, pois elas frequentemente assumem como certa essa bênção de Deus sem
que ele jamais tenha prometido isso nas Escrituras. Muito menos dado um método,
“esperar”, para que tais promessas sejam aplicáveis.
Segue-se, com
isso, uma fé irracional nesse método. Supostamente, ele só dá certo porque é o
método desejado por Deus. Mas, além de ele ser totalmente estranho à Bíblia,
sendo conveniente apenas para a pulsão ascética; se você remover a garantia de
Deus da sua eficácia, ele se torna completamente absurdo e louco. O emprego é
uma bênção de Deus, o ingresso na universidade também, a aquisição de um imóvel
igualmente, mas nenhuma dessas coisas acontece se você ficar esperando. Você
precisa correr atrás. Agora, sabe o que Deus realmente prometeu? Comida e
vestimenta. E você fica esperando que ele dê o alimento de colherzinha na sua
boca, ou que ele chegue na sua casa com uma sacola da feira (porque roupa da Renner
já é exigir demais)? Não, você vai ao mercado, compra aquele filé de frango,
tempera, frita e se delicia. Se, para adquirir o que Deus prometeu, você faz
esforço, por que você pensa que obterá o que ele não prometeu sem fazer esforço?
Claro que algumas pessoas dirão que escolheram esperar e conseguiram encontrar
o seu par maravilhoso. Mas, não foi por causa do método, mas da graça soberana
de Deus que pode te dar o par que ele quiser, inclusive o certo. Porém, isso
não justifica o uso blasfemo do nome de Deus em colocar como promessa dele algo
que é apenas o seu desejo. E nem desmente o fato de que o método carece da
mínima razoabilidade. Perceba que eu me refiro a extremismos da proposta da
página do facebook. Se você curte a página e gosta do movimento, mas sem
assumir os absurdos que eu critiquei, tudo bem.
Sei que esse
post é parcial e incompleto. Sei que há muito mais sobre namoro que precisa ser
considerado. Mas não caberia num post. Apenas coloquei questões que eu considero
mais urgentes e menos aprendidas do que outras. Coloquei muitas dicas, muitas
opiniões, e eu não espero que você concorde com todas elas. Mas, se pareceu-lhe
bem, tenho dito.
André
Duarte
tenho dito!
ResponderExcluirhahah
Boa, curti o post! alias, tenho gostado dos seus textos cara, mto edificantes!
Que Deus continue te abençoando!
Abs
Obrigado, Fernando! Não foi todo mundo que curtiu, hehe. Mas, graças a Deus que tem me usado para edificar os irmãos. Valeu!
ExcluirAndré Duarte, falou pouco, mas falou bonito! Concordo com vc, ainda mais que vc sabe exatamente separar o que é cultural e bíblico própriamente. Sou chará do amigo que comentou ae em cima, sou jovem, tenho 19 anos, e meu pai se converteu nessa mesma idade depois de uma vida muito "louca"... Ele se dedicou a procurar uma exposa escolhida por Deus, e passou 3 anos orando de joelhos todos os dias, como ele mesmo se refere sempre... Mas exatamente como vc falou, ele não serviu a Deus para esse propósito, mas sim buscou primeiramente fazer a vontade dEle independentemente de pastores, irmãos e etc. Tenho orgulho de dizer que meu pai era um grande evangelista na sua juventude, como minha mãe mesmo é testemunha. Então, a grande questão é que meu pai teve a experiência de ouvir Deus falar com ele, na séria mesmo... Minha mãe estava de costas pra ele na igreja quando ocorreu essa experiência. Não foi a primeira vez que ocorreu dele ouvir Deus falar, mas como as outras vezes, foi completamente necessário que ele ouvisse. Não estou entrando em detalhes pq escreveria muito mais aqui. A questão é que minha mãe é 10 anos mais nova que meu pai, então faça as contas. É estranho, mas Deus sabe exatamente o que faz. Hj estão a 25 anos casados e são uma benção na minha vida... Acho que até hj não vi melhor relação entre família que a nossa, graças a Deus. Estou dizendo isso tudo pra confirmar que Deus abençoa se esperarmos, mas não esperar sentado, e sim correndo atrás, claro da maneira correta. Meu pai fez o mesmo, tenho tentado fazer o mesmo, e Deus vai ajudando! hahaha
ResponderExcluirMassa! Bom demais! É isso mesmo, o esperar existe no sentido de ser bem aproveitado pensando, analisando... com a finalidade de mandar a chegada da melhor forma. E também buscando ser a pessoa correta, não apenas encontrá-la para si. Obrigado pelo comentário! :)
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